Mulher de Zé
Piolho, líder do Quilombo do Quariterê, no atual Mato Grosso, perto da
fronteira com a Bolívia, Tereza de Benguela ficou sem o marido. Recebeu como
herança a causa da liberdade.
Por vinte anos
Tereza esteve à frente da resistência contra a escravidão dos negros e dos
índios, até a força bruta capitaneada por Luiz Pinto de Souza Coutinho dizimou
o quilombo.
Amanhã, sexta
feira, dia 25 de julho, será o Dia Nacional da Mulher Negra, instituído pela
Lei nº 12.987/2014.
Por sua história
de lutas e ideais de liberdade do seu povo resistindo em duras batalhas de
longas batalhas contra a escravidão que os brancos quiseram impingir por todo o
sempre no País, Tereza que foi proclamada Rainha dos Quilombolas simboliza hoje
a continuidade das lutas das mulheres negras por respeito aos seus direitos.
Quando imaginam
que apenas instituindo um órgão estatal com nomenclatura de negro demonstram
algum interesse contra o preconceito racial, os políticos do poder parecem nem
terem ideia das desigualdades sociais que marcam esse muro da vergonha,
aparentemente invisível, que ainda separa de serem afrodescendentes.
No Maranhão, por
exemplo, ainda predomina o olhar mais fingido do Brasil quanto à população
negra. Fingimos não saber que somos o Estado do Brasil com maior percentual de
habitantes negros. Parecemos ignorar que São Luís está, ao lado de Salvador e
Rio de Janeiro, entre as três capitais, com maior contingente de negros.
Não cuidamos de
politicas públicas eficazes para a inserção dessas maiorias nos direitos e
vantagens da República e da Democracia, ainda hoje apenas deferidos à minoria
branca.
Mulher negra
arranja fácil posto de trabalho, mas aonde? Nas casas dos brancos. Ou são
cozinheiras ou são faxineiras ou são passadeiras, raramente são babás. Umas
ganham salário, muitas no interior miserável do Estado se satisfazem um prato
de comida, podendo conforme o caso levar outro prato de comida para os que
ficaram em casa.
Ruth de Souza, na
metade do ultimo século, foi a primeira atriz negra no cinema nacional. Sempre
representava personagens mais próximos da senzala. O trio Vinicius – Tom Jobim
– Niemayer montaram “Orfeu da Conceição”.
O Orpheu do filme
foi o ator negro Bruno Mello e a Eurídice uma negra linda - Marpessa Dawn,
recrutada em Paris pelo diretor Marcel Camus por conta de que se tratava de uma
coprodução franco-brasileira. O demais das mulheres do elenco eram negras
brasileiras como Dayse Paiva, Lea Garcia, Pérola Negra e Francisca de Queiroz.
Aquela versão do
“Orpheu” impressionou tanto a Stanley Ann Dunham, uma professora branca do
Havaí onde era proibido casamento inter-racial. O enredo atualizado por
Vinicius localizando-o numa comunidade negra carioca pesou na decisão da moça
de casar-se um bolsista do Quênia, um certo senhor Barack Obama, que não é
outro senão o pai do atual Presidente dos Estados Unidos. Quem conta isso é o
próprio Obama no seu primeiro livro de Memórias – “A Origem dos meus sonhos”.
Quando resolveu
levar para o cinema a história de Chica de Silva, uma negra linda e fogosa que
fez do seu facho uma fonte de poder, Cacá Diegues, o genial diretor do cinema
novo, (genial não foi só o Glauber), chamou Zezé Mota, que arrasou no papel.
Anos e anos depois
Zezé contou que a maioria dos homens que a assediavam não o faziam pela pessoa
que sempre foi, digna, ética, profissional, digo eu. Mas pela fantasia de que
poderiam se enroscar na Chica da Silva, que ela personificou.
Há pesquisas sobre
essas fantasias dos homens pelas mulheres negras. O preconceito, porém, lhes
tolhiam e ainda tolhe a muitos a se assumirem como parceiros de verdade das
mulheres negras com as quais sonham.
Tivemos um
Ministro da Marinha, ainda que por poucos dias, nomeado por Jango em meio
aquele forrobodó engendrado por Lincoln Gordon, o embaixador americano que
levou os dois Kennedys e mais Johnson na conversa de que o Brasil estava em
vésperas de se tornar a nova e grande cuba do continente.
Naquele cai não
cai do Governo Jango, mas já caindo, o Presidente nomeou um novo Ministro. A
mídia encantada pelos golpistas procurou o almirante querendo que confirmasse
se era casado com uma mulher negra. “Minha esposa é uma negra, sim. É negra,
mas é honesta”.
Mulher negra só
aparecia em novela como no cinema de antigamente encarnando personagens
domésticos. Hoje já tem mulher negra na previsão do tempo. E assim elas vão
abrindo caminhos a golpes de talento e de muita luta. Como a Tereza da data
nacional de amanhã que perdeu o marido e depois ela própria a vida lutando num
quilombo pela dignidade e direitos dos homens e das mulheres negras.
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