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Vinicius Araújo disse
que o trabalho na
Carmosina Coutinho “é extraordinário”
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Um ato midiático para negar calamidade na
Maternidade Carmosina Coutinho foi o que se transformou a audiência pública
convocada as pressas para tentar esclarecer sobre o que está acontecendo
na unidade de saúde de Caxias nesta quarta-feira, 26.
Cerca de uma hora antes do início da
audiência pública, chega no prédio da Câmara o marqueteiro do deputado eleito
Humberto Coutinho, Carlos Alberto, escoltando o secretário de saúde, Vinicius
Araújo. Quando o avistei, pensei com meus botões que aquilo não poderia
prestar, pois iriam fazer um espetáculo midiático, e não um ato de
esclarecimento público.
De fato, antes da sessão, a mídia alinhada ao
Palácio da Cidade já alardeava a “transmissão
ao vivo” do ‘evento’ na página da Prefeitura de Caxias na internet.
Depois de passar um bom tempo “passando o texto” com o marqueteiro,
Vinicius dirigiu-se a Câmara para prestar o tão aguardado esclarecimento sobre
a Maternidade do município.
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No destaque circulado
em branco (a direita), marqueteiro
Carlos Alberto próximo a Paulo Simão numa
área exclusiva
dos vereadores
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Para início de conversa, Vinicius abriu sua
fala dizendo estar ali satisfeito pela oportunidade “de falar sobre o extraordinário
trabalho na Carmosina Coutinho”, o que chegou a surpreender alguns
presentes.
Apresentando dados num telão, Vinicius
contestou os números apresentados pelo CQC da Band e tratou as denúncias feitas
pelo programa da emissora paulista como “infundadas e irresponsáveis”.
Logo de cara, Vinicius alegou que desde a
ascensão da governadora Roseana Sarney, em 2009, a Maternidade Carmosina perdeu
recursos, estimados por ele em R$ 300 mil reais mensais e que desde então teria
sido o motivo para o “desmantelamento e
interrupção do excelente trabalho”, numa contradição com o início da sua
apresentação, que afirmava que “faz” um extraordinário trabalho na Carmosina
Coutinho.
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Telão e transmissão ao vivo eram a garantia de que
tudo seria um espetáculo de mídia |
O secretário disse também que o número de
óbitos apresentados pelo CQC de 1 óbito para cada 3 nascimentos, “não
existe”.
Um déficit de 92 funcionários, entre médicos,
enfermeiros, auxiliares e outros na Maternidade caxiense existe e deve ser
sanado no próximo ano, onde promessas de parcerias com o governo do Estado
devem ser efetivadas, prometeu Vinicius.
Alegando o tempo todo que a problemática era
por conta da falta de recursos, e enfatizando a perda da verba de custeio do
governo do Estado, o vereador Fábio Gentil foi ao X da questão: “o
governo alega que é falta de recursos e cita a perda de R$ 300 mil reais do
governo do Estado, mas esse recurso existe na Prefeitura de Caxias, só que é
direcionado ao gabinete do prefeito Léo Coutinho, que custa R$ 285 mil reais
por mês”, revelou Fábio numa clara demonstração de falta de
sensibilidade política da atual administração.
Benvinda Almeida trouxe ao debate a maior
reclamação existente hoje em toda a rede no atendimento as gestantes, a de que
desde o pré-natal até chegarem na Maternidade, são enfermeiras que fazem todos os procedimentos.
A oposicionista Taniery Cantalice foi dura na
sua fala abordando ao secretário o descaso existente na rede de saúde de Caxias
e a grosseria feita por alguns profissionais, que, segundo ela, “são
uns carniceiros”, devido a forma que tratam os pacientes.
Os demais vereadores fizeram suas perguntas,
sendo que aos membros da Comissão de Saúde da Câmara foi possibilitado um
número maior de perguntas.
Na área reservada aos vereadores no auditório
da Câmara, ficou estabelecido que ali só poderia circular apenas assessores e
funcionários da Câmara. Quebrando a regra estabelecida pela presidente Ana
Lúcia Ximenes, o marqueteiro Carlos Alberto, que não é funcionário da
Prefeitura, e muito menos da Câmara, ficou a audiência toda ao lado do relator
da Comissão da Saúde, vereador Paulo Simão.
A todo momento o marqueteiro falava no ouvido
de Paulo Simão e dirigia-se em seguida ao secretário Vinicius Araújo fazendo o
mesmo, caracterizando que ditava as perguntas para o relator da Comissão e
corria para o secretário para ‘entregar’ a pergunta, ou ainda mesmo ditar a
resposta.
Os vereadores governistas fizeram perguntas
ao secretário. Algumas buscando esclarecer os problemas relatados pela imprensa,
outros participando da ópera do malandro orquestrada pelo governo.
Ao final, a presidente Ana Lúcia fez suas
considerações por aquela audiência pública. “Feliz por mostrar o trabalho da
Comissão da Saúde e da Câmara de Vereadores”, manifestou-se a
parlamentar acrescentando que “é a comunidade que ganha”. “Não
aceitamos aqueles que dizem que esta Casa não trabalha e não faz nada”,
continuou a presidente finalizando “parabenizando a todos e é nossa Caxias que
ganha”.
Vamos lá.
Pelo visto, não existe calamidade na saúde de
Caxias e as dezenas de mortes na Maternidade Carmosina Coutinho ou não existem,
ou estão fazendo tempestade num copo d’água, pois as mortes não passam de estatística.
A dor de dezenas de mães que perderam seus
filhos nada mais é que exagero e exploração política de “um assunto sério”.
Aliás, seriedade foi uma constante em todos
os discursos governistas, assim como a tentativa de demonizar quem fez as
denúncias, que logo no início foram tratadas pela presidente Ana Lúcia como “supostas
denúncias”, ou seja, elas existem, mas só como suposições.
Vinicius Araújo tratou a administração da
Maternidade Carmosina Coutinho como “um trabalho extraordinário”.
Pelo que se viu no “evento midiático”, as mães que apareceram no programa Custe o Que
Custar da BAND, são atrizes ou ainda mães ingratas que perderam seus filhos na
Maternidade por conta dos desígnios de Deus e não reconheceram “o bom atendimento” que receberam enquanto
estiveram lá.
No decorrer do dia teremos uma mídia governista
tratando a audiência pública como o fim de todos os problemas na saúde, ou
melhor, que esses problemas nem existem e que tudo não passou de “intriga da
oposição”.
Felizmente não vivemos no mundo da fantasia
como tentaram mostrar, pois a dor de quem perdeu seu filho não acaba com
propaganda e nem com a negação da realidade.
No último final de semana, uma gestante,
moradora do bairro Cohab, que fez seu pré-natal todo em Caxias, teve seu filho
na Maternidade Carmosina Coutinho. O parto foi uma cesariana e, por mais incrível
que possa parecer, o recém nascido teve seu fêmur fraturado ao nascer.
Se perguntado na audiência pública sobre
isso, provavelmente teríamos algumas espetaculares versões: a criança se
debateu muito no útero da mãe; a mãe deve ter sido espancada pelo esposo; ela
sofreu algum acidente de trânsito ou mesmo doméstico.
Estamos diante de um governo que não aceita
seus erros, ou melhor, eles não existem, são apenas intriga da oposição.
Cada povo com o governo que merece.