Por Edson Vidigal, advogado, foi
Presidente do Superior Tribunal de Justiça e do Conselho da Justiça Federal.
Nada
do que resultou nestes tempos de agora, ainda inundados de incertezas e
vicissitudes, quando a Operação Lava Jato sob a inspiração do Juiz Moro e ações
profissionalíssimas, dir-se-ia igualmente cívicas, do Ministério Público e da
Policia Federal começava a abrir as cortinas do passado, quando isso tudo aí
ainda parecia inimaginável, o Lula falando a religiosos católicos em São Paulo,
desabafou:
- A
taxa de aprovação da companheira está no volume morto.
Os
paulistanos viviam então sob um rigoroso racionamento de agua porque não
obstante as chuvas alagando o País em muitas regiões o precioso liquido não
caia em quantidade suficiente para tirar do volume morto as seis represas do
sistema Cantareira.
- Dilma está no volume morto, o PT está
abaixo do volume morto, e eu estou no volume morto. Todos estão numa situação
muito ruim. E olha que o PT ainda é o melhor partido. Estamos perdendo para nós
mesmos — disse Lula.
E
seguiu falando:
- Acabamos de fazer uma pesquisa em
Santo André e São Bernardo, e a nossa rejeição chega a 75%. Entreguei a
pesquisa a Dilma, em que nós só temos 7% de bom e ótimo. O momento não está
bom. O momento está muito difícil.
Ao
entregar a pesquisa a Dilma, Lula tentou conforta-la:
- Isso
não é para você desanimar, não. Isso é para você saber o que a gente tem, que a
gente tem que mudar, que a gente pode se recuperar. E entre o PT, entre mim e
você, quem tem mais capacidade de se recuperar é o governo, porque (o governo)
tem iniciativa, tem recurso, tem uma maquina poderosa para poder falar,
executar, inaugurar.
Na
interlocução, os clérigos, uns trinta, incluindo o bispo D. Pedro Luiz, naquele
tom usual de confessionário, um de cada vez, é lógico, deram lá seus conselhos,
inclusive que o partido retome as liturgias do começo, quando atuava mais ao
lado dos trabalhadores. Lula acusou Dilma de ter distanciado o Governo dos mais
pobres.
- Ela
tem dificuldade de ouvir até mesmo os conselhos que eu tento lhe dar. Falar com
a população não é agendar para falar na televisão. É viajar e falar.
Revelando
o truque:
- Na
hora que a gente abraça, pega na mão, é outra coisa. Politica é isso, olhar no
olho, o passar a mão na cabeça, o beijo.
Sobre
o terceiro andar do Palácio do Planalto, onde a Dilma passa a maior parte do
tempo:
-
Aquele gabinete é uma desgraça. Não entra ninguém para dar boa noticia. Os
caras só entram para pedir alguma coisa. E como maioria que vai lá é gente
grã-fina... Só entrou lá um leproso (hanseniano) porque eu estava no governo.
Entrou catador de papel porque eu estava no governo. Essa coisa se perdeu.
Lula
contou que sugeriu a Dilma viajar por esse país, botar do pé na estrada:
-
Petista não pode ter medo de vaias. Uma das armas para recuperar a combalida
gestão é investir num Plano Nacional de Educação. O problema é que o próprio PT
desconhece o conteúdo do plano.
Na
noite de 16 de março do ano passado, Lula esteve a sós com Dilma numa sala do
térreo do Palácio da Alvorada. Na antessala, esperavam-nos Wagner, Mercadante,
Roseto e Falcão.
Lá
para as tantas, os tons das vozes foram se alterando e deu para ouvir aquela
voz rouca, inconfundível:
- E
você sabe qual foi o maior erro politico que eu cometi na minha vida? Botar
você nesse lugar.
E o
maior erro politico da Dilma, qual terá sido?
Na
data de hoje, Lula está acamado em seu apartamento em São Bernardo do Campo,
abatido por forte gripe:
-
Tomou a vacina, Lula?
Não
estaria com bom humor para a pergunta:
-
Qual? Aquela que dizem que mata velho?