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Flávio Dino disse que vai manter diálogo com o
presidente, mas quer ver a esquerda unida contra Bolsonaro em 2022. Foto:
Marina Barbosa |
Chamado
de o “pior dos paraíbas” pelo presidente Jair Bolsonaro,
o governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB),
acredita que o chefe do Executivo tem dado declarações polêmicas como essa
apenas para ocupar a agenda pública com conflitos e, assim, esconder a falta de
resultados do governo federal. Mesmo assim, disse estar pronto para o diálogo e
para receber Bolsonaro no Maranhão. Dino foi recentemente apontado pelos
principais líderes do Congresso como o melhor governador do país, conforme
revelou nova rodada do Painel do Poder, pesquisa
feita pelo Congresso
em Foco em parceria com a In Press Oficina.
“Se ele
resolver visitar o Maranhão, se depender de mim, vai ser bem tratado e bem
recebido”, garantiu Flávio Dino, dizendo que, ao contrário do governador da
Bahia, Rui Costa (PT), também não hesitaria em cumprir uma agenda ao lado de
Bolsonaro. “Se ele desejar e se houver condições de diálogo, eu vou. Não é
porque ele não gosta de mim que vou deixar de cumprir o juramento que fiz de
defender meu estado”, acrescentou.
O
governador do Maranhão falou sobre a relação com o governo Bolsonaro durante
passagem por Brasília, exatamente uma semana depois de o presidente dizer ao
ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, que “esses governadores de ‘paraíba”, o
pior é o do Maranhão. Não tem que ter nada com esse cara”. Na ocasião, porém,
garantiu que a viagem não foi motivada por essa declaração e revelou que ficou
surpreso com a opinião de Bolsonaro sobre ele porque nunca nem sequer conversou
com o presidente. "Nunca nos falamos pessoalmente a não ser em reuniões de
governadores. A sós nunca. Os assuntos que temos para tratar são tratados nos
ministérios e em reuniões gerais de governadores. Mas, se ele chamar uma
reunião na próxima semana, eu estarei presente", afirmou Dino.
Ao Congresso em Foco,
Dino disse ainda que, a não ser sua filiação partidária e sua origem
nordestina, não enxergava razões para o atrito com o presidente. Por isso,
associou a fala de Bolsonaro à prática do governo de “criar conflitos” e “criar
inimigos”. “Como o governo é muito fraco, tem poucos resultados a mostrar e não
tem uma agenda própria de trabalho, acaba ocupando a agenda pública com esse
tipo de conflito, perseguição e discriminação”, declarou Flávio Dino, afirmando
que essa é uma atuação clássica das correntes de direita. “Procurar um inimigo
é funcional para a manutenção do grupo social que apoia o governo. Como o judeu
está para o nazismo e os imigrantes estão para Trump, os paraíbas estão para
Bolsonaro”, atacou Dino, ressaltando, por sua vez, que os nordestinos não foram
os únicos inimigos escolhidos por Bolsonaro.
“Há um
cenário de guerra de todos contra todos, que o próprio presidente da República
estimula, inclusive com os seus. Basta olhar o Joaquim Levy e os generais que
ele trata tão mal como exemplo”, alfinetou Dino, que também colocou na lista de
alvos de Bolsonaro “o Carnaval, os artistas, os cientistas, o Inpe, o Bebbiano,
o Santos Cruz e a imprensa”.
Por
conta disso, o governador do Maranhão coloca os conflitos como principal
característica dos seis primeiros meses do governo Bolsonaro. “O conjunto da
obra até aqui do governo federal se restringe à confusão política e à reforma
da Previdência que só foi aprovada em razão do Rodrigo Maia, apesar dos
obstáculos que o próprio Bolsonaro colocou. Se eu fosse presidente da República
ou mesmo governador do meu estado, ficaria muito constrangido de ter apenas
isso em seis meses de governo: de um lado confusão e do outro a reforma que
andou por causa do Maia, enquanto ele inaugura obra da Dilma e do Temer. É
muito pouco”, criticou.
Ainda sobre
a atuação do governo federal, Flávio Dino revelou que o Executivo não tem
destravado pleitos dos estados, tem apenas dado seguimento ao que já estava
encaminhado pelas gestões anteriores. “Nós temos em execução contratos e
convênios que foram celebrados no tempo da presidente Dilma e do presidente
Temer. Até o momento, não tivemos nenhuma dificuldade com os ministérios quanto
a isso. Mas em relação às pautas novas, há muita lentidão do governo federal em
atendê-las. E isso não se refere especialmente ao Maranhão, mas aos estados
como um todo. Há um travamento geral”, criticou Dino, para quem “o governo está
muito lento naquilo que o Brasil precisa e tem urgência, que é a pauta social e
o desemprego”.
Apesar
das críticas e da polêmica criada em torno dos ‘paraíbas’, o governador do
Maranhão garante não ter medo de retaliações. “Não pedimos privilégios. As
pautas que o Maranhão apresentou são comuns a todos os estados. Queremos o que
é devido e é direito da população", argumentou, lembrando que o presidente
tem o dever de cumprir o pacto federativo e zelar pela unidade nacional. “A
Constituição diz que eventuais simpatias ou antipatias pessoais não devem
determinar o conteúdo dos atos administrativos de um agente público”, afirmou,
ressaltando que até na época da ditadura militar os presidentes respeitavam
esse preceito. “Não posso acreditar que a essa altura o Brasil vá aceitar que o
governo federal seja pior que no tempo da ditadura. Então, não tenho medo.
Tenho espanto e indignação”, afirmou Dino.
Mesmo assim,
o governador do Maranhão não deve seguir o exemplo da Frente Parlamentar
do Nordeste, que protocolou uma representação contra
o presidente na Procuradoria-Geral da República por conta do preconceito
demonstrado na fala dos ‘paraíbas’. “Temos improbidade administrativa por conta
do descumprimento de deveres legais e há indícios do cometimento de crimes. Mas
essa petição já me representa, pois permite que o Ministério Público Federal
reflita e que o próprio presidente reflita sobre isso”, explicou Dino, que,
mesmo sendo jurista, prefere que essa ação gere mais reflexões do que
processos. “Se o presidente se acha legitimado a espalhar preconceito, ele
acaba induzindo milhares de pessoas a também praticarem isso. E o presidente da
República é o último que pode alimentar esse tipo de ódio, discriminação e
violência”, explicou.
Eleições
de 2022
A
despeito das críticas a Bolsonaro, Flávio Dino prefere não se lançar candidato
à presidência da República em 2022. Ele até admite a possibilidade, que já havia
cogitado anteriormente e agora ganha força já que a polêmica com Bolsonaro deu
mais visibilidade ao seu nome; mas diz que vai trabalhar, antes de tudo, para
que a esquerda se una em torno de um novo projeto que possa desbancar a
reeleição de Bolsonaro.
“Em
razão dos eventos que implicaram derrotas da esquerda, nós que temos o papel de
lideranças temos que estar presentes no debate nacional para ajudar a encontrar
caminhos. Tenho feito debates, quando é compatível com minha agenda
administrativa, para ajudar a refletir sobre o Brasil e a criar uma união no
nosso campo político, para a que a gente possa vencer a eleição. Mas vencer com
qual candidato? Nós vamos ver”, desconversou Dino, ressaltando que não teria
problema em fazer campanha para outros companheiros da esquerda. “Posso fazer
campanha para qualquer liderança do nosso campo que defende o Brasil e os
brasileiros. E digo isso com toda sinceridade, porque já fiz para Lula, Dilma,
Haddad e para o próprio Ciro Gomes”, afirmou.
Dino
admitiu, por sua vez, que, além de se unir, a esquerda precisa apresentar um
novo programa político para vencer as eleições. “Temos duas heranças poderosas
que não devem ser negadas – o lulismo e o trabalhismo. Mas, por sobre essas
tradições vitoriosas, temos que construir um novo programa. Novas ideias e
propostas que impulsionem o país para a frente e mostrem que representamos a
soberania nacional, o desenvolvimento econômico e a justiça social”, defendeu.
Ele acredita, contudo, que não é preciso um novo nome, como o seu, para
representar esse novo programa. “Se o presidente Lula saísse candidato, eu
votaria nele. E acho que nomes já citados são excelentes, a exemplo do Ciro e
do Haddad. O mais importante é que seja um nome que gere união, diminua arestas
e consiga dialogar com a sociedade, inclusive com os setores sociais que não
são necessariamente de esquerda”, disse o governador do Maranhão, que, mesmo
assim, admitiu o desejo de se lançar à presidência.
“É uma
possibilidade. Eu posso ser eventualmente candidato a presidente da República,
mas também posso apoiar alguém, ser candidato ao Congresso ou até voltar a dar
aula de direito constitucional, que também adoro e acho que mais do que nunca o
Brasil precisa, porque esse direito que está sendo praticado não é o direito verdadeiro”,
declarou. Lembrando que deixou de ser juiz para ser político, Dino ainda
revelou sentir saudades de poder legislar na Câmara dos Deputados. “O
Parlamento é muito bom e envolvente, pelos debates e pela possibilidade de
mudar a realidade nacional mediante leis”, comentou.
Flávio
Dino pontuou, contudo, que antes de pensar em 2022 é preciso pensar em 2019.
“Devemos ver primeiro se haverá eleição em 2022, porque se depender de um ou
outro que está por aí andando neste momento em Brasília, tem gente com a ideia
de que esse negócio de eleição só atrapalha. Basta olhar a internet e as
manifestações com faixas para fechar o Supremo e o Congresso e chamar uma
intervenção militar para perceber. Não podemos banalizar isso, porque as
grandes tragédias históricas surgiram da minimização”, declarou Dino,
ressaltando que não cabe apenas à esquerda lutar contra essa situação.
“Fugir
dessa armadilha não compete apenas à esquerda. O Brasil todo é vítima disso”,
argumentou o maranhense, que aproveitou o ensejo para pedir ações mais
enfáticas do Poder Judiciário em relação a ações que considera institucionais
por parte do presidente Jair Bolsonaro e também do ministro da Justiça e
Segurança Pública, Sergio Moro. Ele citou como errôneo, por exemplo, o
envolvimento de Moro nos inquéritos que investigam a ação de hackers em seus
celulares. “Por razões diferentes, Moro e Bolsonaro têm trilhado perigosos
caminhos antidemocráticos. Por isso mesmo, é preciso manter a luz amarela e
reivindicar que aqueles que estão omissos se movam, sobretudo o Ministério
Público e o Poder Judiciário. Tenho absoluta certeza que a imensa maioria dos
procuradores e juízes do Brasil não concorda com esse tipo de coisa, mas não
basta discordar em casa. É preciso tomar providências”, provocou Dino.
Por fim,
o governador do Maranhão admitiu que acha pouco provável uma ruptura
antidemocrática no Brasil. Pensando em 2022, ele disse até achar possível que a
esquerda conquiste novos votos na campanha eleitoral. “Os equívocos de
Bolsonaro nos ajudam nesse sentido”, afirmou Dino, para quem um terço da
população está à esquerda, um terço está com Bolsonaro e o outro terço está em
posição de neutralidade, observando as coisas acontecerem, como um território a
ser conquistado.
(Congresso em Foco)