Por Edson Vidigal, advogado, foi presidente do Superior Tribunal
de Justiça e do Conselho da Justiça Federal.
Pode ser que
agosto a estas alturas com incertezas demais a lhe ocupar a agenda tenha se
acertado com março combinando para ao ensejo dessas aguas que caem e que correm
antecipar como num trailer pitadas do inesperado típico do após julho de todo
ano.
Há quem um tanto
esotérico não querendo vulgarizar os sinais das nuvens, mas se esquivando a
traduzi-las, queira definir esses tempos de agora como mero inferno astral.
O certo é que nem
agosto aguenta mais esperar tantos são os xaxados e tangos que a Dilma e seus
sequazes ainda vão ter que dançar.
Daí que não
suportando essa má fama de mês das bruxas e dos maus agouros, agosto não
terceiriza sua agenda, mas pelo que estamos vendo até se deleita em
compartilhar com março e quem sabe também com abril as desagradáveis surpresas
que a historia, volta e meia, ao que parece adora lhe imprecar.
Também não é para
menos.
Ninguém pode
esconder que a gestão dos dinheiros públicos está a cada dia mais contaminada
por mágicos que, entretendo direitinho os guardiões do erário, metem a mão na
cumbuca levando o melhor do que encontram. Depois é como numa paráfrase daquele
verso da canção – se sumiu ninguém sabe, ninguém viu...
Pior que isso não
acontece apenas no circuito federal, não. Olha aí a crise dos Estados e
Municípios, todos querendo renegociação de suas dividas com a União e a zangada
esbravejando nas salas das famílias pela TV ah isso não dá, isso não dá...
Se mal pergunto,
as bancarrotas dos Estados e Municípios não foram debeladas lá no mais atrás,
quando da implantação do Plano Real? Não estava tudo tão equilibrado?
De repente, tudo
pode acontecer, é verdade. Mas quebrar, de repente, um País, Estados e
Municípios, enfim, uma União Federal, é tarefa gigantesca para muitos gigantes.
O que se ouve,
porém, é que se não forem renegociadas as dividas que os Estados e Municípios
têm para com a União Federal as aguas vão rolar. Quer dizer, avenidas se
transformando em rios barrentos, as ruas em lagoas de lama, casas inundadas,
falta de comida, crianças sem escolas, mosquitos inflando as estatísticas de
dengue e outras endemias, etecetera, tudo isso num crescendo por conta das
aguas que rolam e ainda vão rolar.
Num tempo em que
as pessoas escreviam cartas, não só cartas de amor porque, no dizer do poeta,
todas as cartas de amor são ridículas e não seriam ridículas se não fossem
cartas de amor, num tempo de muitas cartas, mestre Alceu Amoroso Lima falando a
Jackson de Figueiredo sobre a politica comparou-a com a arquitetura.
“A política é no
mundo moral o que a arquitetura é no mundo das artes. (...)
“Todo Governo tem,
portanto, a necessidade primária de criar no ambiente social sentimentos de
aproximação, de ideais comuns, uma base de comunhão sobre a qual poderão
pairar, inocuamente, as variedades de partidos, etc.”
Acontece que na
democracia a autoridade só se afirma na proporção da sua legitimidade que
resulta da confiança da população e das forças politicas e econômicas aliadas.
Essa legitimidade não se traduz em autoridade se esta for incapaz de liderar.
Gerenciar é pouco.
Liderar é imprescindível. A crise destes tempos é mesmo politica porque é de
confiança, de falta de legitimidade. Ninguém até aqui lidera coisa alguma. Há
gritos em uníssonos de outros e gritarias da outra – tudo parado no ar.
Chove chuva, chove
sem parar...