Por Edson Vidigal, advogado, foi presidente do
Superior Tribunal de Justiça e do Conselho da Justiça Federal.
A multidão lotando as arquibancadas irrompia em
vivas e aplausos como se o Vasco, o dono do estádio, tivesse feito mais um gol.
Não era nada disso, não.
Era o Getúlio chegando num carro aberto. Baixinho,
precisava ficar em pé, no banco de trás, para ser visto pelo Povo. Cumprida a
volta olímpica, agora no palanque:
- Trabalhadores do Brasil!
O estádio, até então o maior do Brasil, espocando
alegrias, parecia ir abaixo, tamanhas as emoções que se espraiavam.
Sem outra saída a não ser a renúncia ante as fortes
pressões militares, inclusive porque dobrara em 100% o salário mínimo e não
podendo estender o mesmo percentual aos quarteis, voltava à Presidência da
República agora pelo voto direto:
- Eis-me aqui outra vez ao vosso lado para
falar com a familiaridade amiga de outros tempos, para dizer que voltei a fim
de defender os interesses mais legítimos do Povo e promover as medidas
indispensáveis ao bem estar dos trabalhadores.
Foram os franceses, querendo que ninguém esquecesse
o massacre que policiais e capangas de patrões fizeram em Chicago, Illinois,
(USA), em 1886, contra trabalhadores que só pediam melhores condições de
trabalho e salários justos, quem instituíram o 1º de maio como o Dia do
Trabalhador.
Coincidentemente, era o Dia de São José, o operário
carpinteiro, data que já estava na liturgia católica como o Dia do Trabalhador.
Depois da França, seguiu-se a mesma celebração nos calendários mundo afora.
No Brasil, o Dia do Trabalho foi instituído pelo
Presidente Artur Bernardes, aquele que diante de tantas pressões governou por
quase o mandato inteiro sob o estado de sitio (15-11-1922 a 15-11-1926).
Juscelino foi outro a brilhar unindo seu sorriso
aos dos trabalhadores no 1º de maio no estádio do Vasco da Gama.
Jango, mesmo sem os seus poderes presidenciais ,
que nem a Dilma hoje, sob um parlamentarismo pra inglês ver, celebrou o Dia do
Trabalho com os operários na Usina Siderúrgica de Volta Redonda.
- A reforma eleitoral, disse Jango,
impõe-se para formar cada vez mais autêntica a voz do Povo no Parlamento,
evitando-se injunções estranhas e inadmissíveis – demagógicas ou financeiras –
na formação das assembleias populares.
Até os generais de plantão na mais longa das
ditaduras não se esquivaram a dizerem algumas coisas aos trabalhadores no 1º de
maio.
O mais durão deles, o General Médici, por exemplo,
se disse empenhado pelo fortalecimento do sindicalismo e pelo crescente bem
estar da família operária.
Sob Figueiredo, o do prendo e arrebento quem for
contra a abertura, foi que a direita dos quarteis aprontou o atentado do Rio
Centro, onde havia uma celebração pelo Dia do Trabalho. Só morreu um sargento
em cujo colo a bomba explodiu, antecipadamente.
Getúlio profetizou que ‘um dia um de vocês,
trabalhadores, chegará a este lugar onde hoje eu estou “ e esse dia
chegou com Lula Presidente, ao qual nunca faltou o que dizer dia nenhum,
principalmente no Dia do Trabalho.
Dou razão à Dilma.
No Brasil de agora, 61% das famílias estão
endividadas. A renda do trabalhador caiu 2,8%, a maior nos últimos 12 anos. A
inflação está em 8,3%, o que aumenta os preços dos alimentos e dos remédios e
também os lucros dos supermercados e da indústria farmacêutica. Carestia de 3,2
pontos acima dos chamados reajustes salariais.
Não escapam nem as esperanças dos que sonham em
ganhar na mega sena. A aposta mínima fica 40% mais cara a partir de hoje. Com
isso o Governo que não cai com nada vai ter um ganho extra de mais de 1 bilhão
de reais. Mais da metade do que precisa para pagar os juros da dívida externa.
Os juros para empréstimos e impostos parcelados
estão na maior taxa desde 2008 (Selic em 13,25%) e os lucros dos bancos, como o
Santander, indo a 31,9% no trimestre. E o Bradesco lucrando 4 bilhões e 200
milhões de reais líquidos nos últimos 90 dias. Muito mais que os 3 bilhões e 44
milhões do 1º trimestre do ano passado.
E as roubalheiras? Petrobrás, grandes sonegadores
pagando propinas milionárias a conselheiros da receita, superfaturamentos em
obras, serviços públicos de péssima qualidade, crianças e jovens sem escolas,
ensino superior deficiente, zero em ciência, zero em tecnologia, zero em saúde,
zero em segurança pública – ah ninguém aguenta mais ouvir essas coisas de todo
o dia na nossa indignação.
Tem razão a Dilma, razão só pra ela, é claro, em
não aparecer em lugar nenhum, nem mesmo na televisão, para saudar a magna data
do trabalhador brasileiro. Se aparecer pessoalmente, vai ser vaia na certa. Se
aparecer na televisão, vai ter panelaço nas janelas do País inteiro.
Ah coitada. Vai estar amanhã, 1º de maio, como o
velho da canção do Chico, ah de novo o Chico – “e diga agora o que é
que eu digo ao Povo / o que é tem de novo pra deixar? / nada, só a caminhada
longa pra nenhum lugar” (...)
A Dilma hoje não tem o que deixar e amanhã nem o
que dizer.