Em seu
mais novo artigo, o ex-prefeito de Timon,
engenheiro Chico Leitoa faz uma revelação inédita sobre sua mãe, dona Nazaré
Rodrigues, já falecida e que completaria nesta semana 90 anos de vida.
O
artigo é extenso, mas prende o leitor e vale a pena pela revelação
surpreendente que o ex-prefeito faz sobre as origens de sua genitora.
Confira a íntegra abaixo:
90
ANOS DE DONA NAZARÉ
Em 18
de fevereiro de 2017, DONA Nazaré ( minha māe ), faria 90 anos. Só que, já se
väo 43 que ela se foi, exato no dia 09.07.1.974, por uma fatalidade, no dia do
meu aniversário de 20 anos.
Nazaré
tinha uma história muito peculiar. Sua mãe, segundo dizem, uma preta bonita
ainda jovem foi trazida do povoado Chapadinha, ( hoje anexado á zona urbana de
Teresina, através da Santa Maria da Codipe), para trabalhar como doméstica na
casa dos patrões. Chapadinha era propriedade da família Castelo Branco, uma das
mais ilustres e abastadas do Estado do Piauí. Pois bem, Francisca caiu nos
encantos de um dos membros da família e engravidou. Imediatamente a devolveram
para Chapadinha. No ventre, uma filha que viria a ser batizada com o nome de
Nazaré. Todos os membros da família de Francisca eram e são de cor preta.
Nazaré nasceu branca como são seus parentes sanguíneos paternos, como se diz:
pra tirar a mãe da culpa.
Francisca
veio a casar-se com Honório Eduardo das Neves, que criou Nazaré como se fosse
sua filha, ( mas não registrou ) e tiveram outros cinco filhos e filhas ( todos
de cor preta )
Nazaré
foi, portanto, criada praticamente confinada em Chapadinha e nunca estudou,
sequer aprendeu ler ou escrever.
Ainda
muito nova, conheceu Estevam, um lavrador galanteador que morava do outro lado
do rio Parnaíba, no povoado São Gonçalo, do lado maranhense, que atravessou o
rio e conquistou seu coração jovem, com quem começou a namorar. Namoro ia
firme, mas Estevam, mulherengo, arrumou outra namorada em São Gonçalo ( De nome
Francisca ), com quem se casou. Do casamento nasceram cinco filhos e filhas:
Joåo, Maria do Carmo, Luciano, Teresinha e Francisca.
O
casamento durou dez anos, e Francisca ( esposa de Estevam ) veio a falecer.
Nazaré
sempre em sua vida pacata, estava prestes a casar-se, quando Estêvam, viúvo,
dez anos mais velho e cheio de filhos pequenos, apareceu novamente e com seus
encantos, convenceu Nazaré a casar-se com ele. Coisas do destino e do amor.
Estevam
e Nazaré tiveram seis filhos: Eu, Célia, Alberto, Estevinho, Socorro e Orcélia.
Nazaré , portanto, criou e ajudou na criação de 11 crianças. Nos 12 primeiros
anos em São Gonçalo, numa vida dura cuidando da casa com tanta gente, e depois,
outros 10 anos na zona urbana, quando o casal resolveu se deslocar para que
pudéssemos dar sequência aos estudos. Implantaram 18 canteiros suspensos no
quintal de nossa casa na beira da linha férrea que nos entregaram para
cuidarmos puxando água de um poço cacimbão. Meu pai foi vender numa pequena
quitanda na Avenida Maranhão com rua Lisandro Nogueira e dona Nazaré colocou
uma banca para venda de verduras no mercado central em Teresina, onde sempre
que possível eu a ajudava.
NAZARÉ,
algum tempo depois começou a se queixar de dor de cabeça, sua saúde foi
debilitando e se agravando de médico em médico, de hospital em hospital, veio a
falecer aos 47 anos.
Sempre
tive curiosidade, pois no meu registro de nascimento não constava o nome
do meu avô paterno. Minha mãe nunca permitiu falar do assunto. Os outros
membros da família também sempre se recusaram a tratar da questão.
Na beira
da linha, conheci dona Rosa, uma preta que lavava roupa para os ricos em
Teresina. Soube de minha curiosidade, sobre meu misterioso avô paterno, e me
falou que sabia parte da história, alcançada através de convivência em tarefas
caseiras, na casa de um dos Castelo Branco. Contou-me o que sabia ( ou o que
podia ). Conversei superficialmente com uma tia e guardei mais algumas
informações.
Depois
de muitas batalhas e já formado em Engenharia, no final da década de oitenta,
já ensaiando a entrada na política, fui dar uma entrevista na TV clube.
Terminada a entrevista, fiz algo que havia decidido depois das investigações.
Atravessei a Avenida Valter Alencar e entrei naquela casa em frente, que tem
dois leões no muro. Tomado por um sentimento de muita curiosidade. Fui recebido
pelo dono da casa, um senhor simpático, pelas informações se tratava do Médico
Dr Mariano Castelo Branco. Ele estava sentado na varanda e tinha assistido a
entrevista. Depois da apresentação conversamos por alguns minutos. E veio o momento:
Perguntei àquele senhor se ele se lembrava de Nazaré, egressa de Chapadinha, e
que por um tempo foi vendedora de verdura no mercado central. Ele imediatamente
lembrou. Aí eu falei: sou filho dela. Ele tomou um susto e acrescentou que na
verdade quem conhecia Nazaré era uma irmã sua (Bizinha, se nāo me engano ), que
morava na ladeira do Uruguai. Falei que queria apenas saber das minhas origens.
Mas o Doutor interrompeu a conversa e fui embora. Parece que ele julgou que eu
estivesse atrás de algo, talvez de interesse material, coisa que nunca nos
moveu. Queria apenas checar as coisas. e se possível conviver. Mas apesar do
desapontamento, confesso que vi naquele homem os “traços” de minha mãe.
Passados
alguns anos, eu estava no primeiro mandato de Prefeito de Timon e fui convidado
para uma festa de lançamento de um jornal numa casa de eventos em Teresina.
Muita gente, inclusive o Reitor da UFPI, Dr Anfrisio Neto ( Anfrisio Lobāo
Castelo Branco Neto ), que na arrumação da festa, acabamos ficando na mesma mesa.
Falei que tinha sido, durante sete anos, aluno da Escola Industrial e Escola
Técnica Federal, ( depois Cefet e hoje IFIP ) e que tinha à época assistido a
uma palestra proferida por ele ainda muito jovem, que versava sobre Jornada
Problemática da Juventude. Ele ,claro, achou interessante eu guardar detalhes.
Em seguida, numa agradável conversa e depois de alguns goles de whisk, falei
sobre a Chapadinha e perguntei se por acaso ele já tinha ouvido falar em uma
pessoa de nome Nazaré que seria filha de um dos membros de sua família com uma
preta chamada Francisca. Ele não lembrava direito, mas deu a entender que sabia
algo e levou na esportiva. Em tom humorado, passou a me chamar de parente. Foi
o único momento que senti a presença, mesmo superficialmente de um “parente”
sanguíneo do avô paterno que nunca conheci. Pelo que sei, mesmo tāo perto,
Nazaré nunca conviveu com nenhum deles.
Minha
mãe era uma criatura maravilhosa. Tinha um coração de ouro. Mesmo pobre, sempre
que vinha do mercado, o pouco que lhe sobrava ainda dividia com quem precisava
mais.
Depois
que ela se foi, a rede globo exibiu uma novela, cujo título era o do personagem
principal ( dona Xepa ) que era interpretado por Iara Cortes e eu sempre via
nela, DONA NAZARÉ.
...Sempre
quis, e fez tudo que pôde para eu me formar, mas partiu sete anos antes do que
seria de certa forma, um dia de resgate da sua “origem nobre” que lhe foi
negada conviver. Sendo originária das duas extremidades da pirâmide social só
lhe foi possível conviver com um. Mas a sua luta propiciou que avançássemos na
busca de espaço como que em recompensa à sua história de Vida.
Dia
18/02/2017 ( um sábado ), seria seu aniversário de 90 anos e com certeza teria
uma grande festa, hoje já com dezenas de netos e netas, e vários bisnetos e bisnetas.
Dois dos Netos com mandatos ( Luciano e Rafael ).
Que
DONA NAZARÉ não me recrimine por externar essa história que até então pouca
gente conhecia, mas o faço em homenagem à sua história de superação e bondade.
Que
Deus a tenha, pois há 42 anos e sete meses, fomos privados de sua bondosa
convivência.
Eng
Chico Leitoa
Fevereiro
de 2017