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após o anúncio pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) da indicação de
Flávio Dino para o Supremo Tribunal Federal (STF), o ministro da Justiça
recebeu um apoio de peso e passou a ter o ex-presidente da República José
Sarney, de 93 anos, como cabo eleitoral. Dino e Sarney, que já foram rivais
políticos no Maranhão, se falaram e o cacique político do MDB deve usar toda
sua influência para destravar eventuais resistências ao escolhido por Lula à
Corte. A informação foi antecipada pela revista Veja e confirmada pelo jornal O
Globo.
Flávio
Dino construiu uma parte importante de sua carreira política na oposição a José
Sarney e seu clã no Maranhão. Prova de que, entre poderosos, nada é para sempre
— nem as mágoas —, um dos primeiros atos de Dino, ao ser indicado ao STF por
Lula, foi conversar com Sarney e pedir seu apoio.
Sarney
não só se comprometeu a ajudar o rival como saiu telefonando para senadores da
sua ampla rede de influência em defesa de Dino.
Um
dos abordados por Sarney foi o líder do MDB no Senado, Eduardo Braga. Na
quarta, ele disse a Dino que a bancada de onze senadores fará uma reunião na
véspera da sabatina na CCJ do Senado e fechará questão para votar unida para
aprová-lo ao Supremo.
Dino
se reaproximou de Sarney nas últimas duas semanas. Para conseguir chegar ao
STF, Flávio Dino precisa de 41 votos no Senado. Levantamento publicado hoje
pelo jornal O Globo aponta que o ministro da Justiça tem 24 votos garantidos e
21 votos contrários. Em tese, faltariam 17 votos para que ele consiga ter
sua indicação ratificada pelo Senado. Para parlamentares da base, Dino terá
entre 48 e 55 votos no plenário da Casa.
Em
2018, José Sarney reclamou da “perseguição” de Dino, então governador do
Maranhão, que usava o nome Sarney para atacar Roseana na campanha eleitoral. “O
governo atual, a minha impressão é que tem os olhos no retrovisor, só olha para
trás e o escolhido é o Zé Sarney. Coitado de mim! Nesta idade, era para ser
respeitado”, disse Sarney, ao lançar Roseana ao governo.
Em
resposta, Dino foi ainda mais duro com Sarney, dizendo que ele adotava a
“vitimização como retórica do desespero”. “É síndrome de abstinência de
dinheiro público, de privilégios. Eles sempre tiveram acesso amplo aos cofres
públicos para seus negócios e para manter seus luxos”, disse Dino.
O
ministro da Justiça, que foi governador do Maranhão por dois mandatos, esteve
por muitos anos do lado oposto do clã Sarney no espectro político, derrotando
inclusive a ex-governadora Roseana Sarney, hoje deputada federal, nas eleições
de 2018. Desde 2020, porém, Dino e Sarney, pai, vêm se aproximando.
O
ponto de partida foi a morte de Sávio Dino, pai do ministro da Justiça, vítima
da pandemia de covid-19. De lá para cá, Dino contou com o voto do ex-presidente
da República para ingressar na Academia Maranhense de Letras e, nas eleições de
2022, costurou o apoio do PV, presidido localmente por Adriano Sarney, neto do
emedebista, a Carlos Brandão, nome de Dino para o governo do estado.
Em solenidades e
eventos oficiais realizados em Brasília, a proximidade entre os dois políticos
maranhenses fica evidente. Na posse do presidente do STF, Luís Roberto Barroso,
Dino e Sarney foram flagrados conversando em alguns momentos. Quando foi
presidente da República, Sarney nomeou cinco ministros para o Supremo: Carlos
Madeira, que também era maranhense, Celso Borja, Paulo Brossard, Sepúlveda
Pertence e Celso de Mello.