Minha Figura

As voltas que o mundo dá

21.5.15
Por Edson Vidigal, advogado, foi presidente do Superior Tribunal de Justiça e do Conselho da Justiça Federal.

E ainda há quem diga pela aí que a terra é plana e não redonda, como garantiu Galileu, embora ante o poder da força e para escapar do mal que a força sempre faz, tivesse que voltar atrás.

O tempo foi se encarregando de provar que a terra é mesmo redonda e daí estarmos a cada dia mais certos quanto as voltas que esse nosso planeta girante dá.

Depois da noite vem o dia. Só se engana quem quer.

As primeiras tratativas para essas relações comerciais hoje tão festejadas sem retratos e sem bilhetes, mas com espetos de carnes da Friboi saltitando de mesa em mesa no Itamaraty, foram conduzidas por João Goulart, então Vice Presidente, por iniciativa de Jânio Quadros.

Nixon, o Presidente dos Estados Unidos, só apareceu por lá muito depois, por indução de Henry Kissinger, seu Secretário de Estado.

Por um dos acordos firmados por Jango, o Governo chinês enviaria, e de fato enviou, uma delegação composta por técnicos e dois jornalistas incumbidos das preliminares com vistas às futuras relações bilaterais.

Como neste nosso planeta girante nem sempre as coisas acontecem conforme se planeja, deu-se que ao deixar a China, Jango foi informado da renúncia de Jânio.

Jango não tinha ideia do furdunço que os militares, antigos cabeças do movimento tenentista e agora quase todos generais ou marechais, já haviam planejado – tudo para lhe impedir de tomar posse como Presidente constitucional.

O mundo estava ainda em plena guerra fria. Os que derrotaram o nazi-fascismo fazendo valer o regime das liberdades democráticas ratearam um mundo entre si como se os países vencidos dessem formato a um novo colonialismo.

A expressão “Guerra fria” foi inventada por Winston Churchill, chefe do Governo inglês e um dos quatro líderes dos países aliados – Estados Unidos, Reino Unido, União Soviética e França. Mas eles, em especial Churchill, não costumavam dar a De Gaulle o tratamento que ele, por suas razões de luta, efetivamente merecia.

Brizola, cunhado de Jango e então Governador do Rio Grande do Sul, fez uma onda danada pelas ondas do rádio, armou a população e prometeu reagir pra valer se a Constituição que assegurava ao Vice Presidente o direito de sucessão do Presidente fosse desrespeitada.

Tancredo sempre jeitoso e conciliador foi entrando devagarzinho no furdunço até que acalmando os golpistas conseguiu quase um ano depois do parlamentarismo de araque que Jango prestasse compromisso perante o Congresso como Presidente da República, Chefe de Estado e Chefe do Governo.

Não sei dizer agora se os nove chineses da missão pioneira, digamos exploratória, já estavam no Brasil quando Jango recebeu de volta todos os poderes presidenciais que lhe haviam sido surrupiados pelo golpe daquele parlamentarismo hermafrodita, como o definiu o Senador Aurélio Viana, do PSB.

Mas na primeira semana do golpe militar que depôs Jango e cassou mandatos, os chineses foram presos, torturados, expostos à execração nacional como agentes do comunismo internacional, processados e condenados a dez anos de prisão, sendo estrondosamente expulsos do Brasil após um ano de cadeia.

O Brasil já enxergava pelo olhar de Jânio e Jango as grandes possibilidades comerciais que se abririam. Geisel confirmou ao restabelecer o dialogo interrompido.

Agora estão aqui de novo os chineses – quem iria imaginar - com seus grandes negócios apostando na baixa de um País que nem se lembra de pedir desculpas ao Povo chinês pelas humilhações impostas aos nove chineses trazidos ao Brasil em razão de um acordo oficial bilateral.

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