Por
Edson Vidigal, advogado, foi presidente
do Superior Tribunal de Justiça e do Conselho da Justiça Federal.
E
ainda há quem diga pela aí que a terra é plana e não redonda, como garantiu
Galileu, embora ante o poder da força e para escapar do mal que a força sempre
faz, tivesse que voltar atrás.
O
tempo foi se encarregando de provar que a terra é mesmo redonda e daí estarmos
a cada dia mais certos quanto as voltas que esse nosso planeta girante dá.
Depois
da noite vem o dia. Só se engana quem quer.
As
primeiras tratativas para essas relações comerciais hoje tão festejadas sem
retratos e sem bilhetes, mas com espetos de carnes da Friboi saltitando de mesa
em mesa no Itamaraty, foram conduzidas por João Goulart, então Vice Presidente,
por iniciativa de Jânio Quadros.
Nixon,
o Presidente dos Estados Unidos, só apareceu por lá muito depois, por indução
de Henry Kissinger, seu Secretário de Estado.
Por um
dos acordos firmados por Jango, o Governo chinês enviaria, e de fato enviou,
uma delegação composta por técnicos e dois jornalistas incumbidos das
preliminares com vistas às futuras relações bilaterais.
Como
neste nosso planeta girante nem sempre as coisas acontecem conforme se planeja,
deu-se que ao deixar a China, Jango foi informado da renúncia de Jânio.
Jango
não tinha ideia do furdunço que os militares, antigos cabeças do movimento
tenentista e agora quase todos generais ou marechais, já haviam planejado –
tudo para lhe impedir de tomar posse como Presidente constitucional.
O
mundo estava ainda em plena guerra fria. Os que derrotaram o nazi-fascismo
fazendo valer o regime das liberdades democráticas ratearam um mundo entre si
como se os países vencidos dessem formato a um novo colonialismo.
A
expressão “Guerra fria” foi inventada por Winston Churchill, chefe do Governo
inglês e um dos quatro líderes dos países aliados – Estados Unidos, Reino Unido,
União Soviética e França. Mas eles, em especial Churchill, não costumavam dar a
De Gaulle o tratamento que ele, por suas razões de luta, efetivamente merecia.
Brizola,
cunhado de Jango e então Governador do Rio Grande do Sul, fez uma onda danada
pelas ondas do rádio, armou a população e prometeu reagir pra valer se a
Constituição que assegurava ao Vice Presidente o direito de sucessão do
Presidente fosse desrespeitada.
Tancredo
sempre jeitoso e conciliador foi entrando devagarzinho no furdunço até que
acalmando os golpistas conseguiu quase um ano depois do parlamentarismo de
araque que Jango prestasse compromisso perante o Congresso como Presidente da
República, Chefe de Estado e Chefe do Governo.
Não
sei dizer agora se os nove chineses da missão pioneira, digamos exploratória,
já estavam no Brasil quando Jango recebeu de volta todos os poderes
presidenciais que lhe haviam sido surrupiados pelo golpe daquele
parlamentarismo hermafrodita, como o definiu o Senador Aurélio Viana, do PSB.
Mas na
primeira semana do golpe militar que depôs Jango e cassou mandatos, os chineses
foram presos, torturados, expostos à execração nacional como agentes do
comunismo internacional, processados e condenados a dez anos de prisão, sendo
estrondosamente expulsos do Brasil após um ano de cadeia.
O
Brasil já enxergava pelo olhar de Jânio e Jango as grandes possibilidades
comerciais que se abririam. Geisel confirmou ao restabelecer o dialogo
interrompido.
Agora
estão aqui de novo os chineses – quem iria imaginar - com seus grandes negócios
apostando na baixa de um País que nem se lembra de pedir desculpas ao Povo
chinês pelas humilhações impostas aos nove chineses trazidos ao Brasil em razão
de um acordo oficial bilateral.
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