Por Edson Vidigal, advogado, foi Presidente do Superior Tribunal
de Justiça e do Conselho da Justiça e Ministro Corregedor do Tribunal Superior
Eleitoral.
Não só o
Legislativo e o Executivo. Pelos deletérios efeitos colaterais também o
Judiciário.
Em todos os
níveis, e cada vez mais a cada eleição, os Poderes da República são
enfraquecidos em sua representatividade esvaindo-se, por conseguinte, a
legitimidade que dá sentido à autoridade moral e legal imprescindível para que
os executivos, os legisladores e os julgadores, merecendo o respeito coletivo,
exerçam as suas funções.
De há muito as
campanhas eleitorais perderam o seu caráter didático. Os debates em torno de
princípios programáticos dos partidos e de como os seus candidatos buscam
traduzi-los em programas de governo ou em plataformas de ações configuram a
essência do que os eleitores precisam para tirar as suas conclusões.
As engendrações do
chamado marketing de campanha, mais ao serviço do embuste e da mentira,
consomem quase toda soma das arrecadações que ultimamente nem são mais
espraiadas por centenas ou até milhares de doadores. Quem tem negócios com o
poder faz seu adiantamento em generosas quantias na certeza de que depois será
ressarcido de forma ainda mais generosa em contratos de obras ou serviços. Como
dizem os empreiteiros por seus porta-vozes ou os arrecadadores em geral – tudo
nos conformes da lei.
Ora, se não há
limites para gastos nem para arrecadações, logo o céu o é o limite.
Daí não haver
resquício de dúvida de que o Estado brasileiro, que queremo-lo de direito,
republicano e democrático, segue se distanciando perigosamente da sociedade
civil não só porque sangra a classe média com escorchante carga tributária,
penalizando ao mesmo tempo os meios de produção, em especial a indústria,
também ampliando o fosso com os serviços públicos que por obrigação
constitucional não poderiam ser assim como tem sido de péssima qualidade.
Como se fosse um
grande leilão, a cada eleição o Estado brasileiro, como poder central ou por
suas unidades federativas – Estados, Municípios e Distrito Federal, é
arrematado por financiadores de campanhas. Os eleitos serão apenas os
amiguinhos ou as amiguinhas das empreiteiras, dos bancos e outros milionários.
Como os partidos,
em sua grande maioria, não são mais que pequenas empresas de grandes negócios,
quem pode ter o nome da urna eletrônica se não entrar nos esquemas deles? Quem
for eleito não será dono da própria voz porque em cada partido, além dos
financiadores também chamados de doadores, haverá sempre um dono de todas as
vozes.
Existem outros
imbróglios para que este País continue sendo esta República muitas vezes
confundida com a Pensão de dona Nica. Mas vamos refletir hoje apenas nesse
quesito das doações e gastos de campanha eleitoral.
Já tivemos uma Lei
Orgânica que admitia contribuições das pessoas jurídicas, mas destinadas apenas
para os institutos dos partidos em suas atividades de difusão dos seus
programas ou cursos de formação politica.
Pessoa jurídica
não vota, mas é natural que tenha interesse, sim, nos destinos políticos do
País onde com o seu capital move a força do trabalho fazendo render dividendos
saudáveis à economia nacional.
Mas daí a passar
dinheiro diretamente a partidos ou candidatos desequilibrando drasticamente a
contenda e fazendo encarecer de forma astronômica a campanha para as eleições é
um despautério imensurável.
Pensemos num teto
inarredável de despesas para cada eleição em cada Município ou Estado com itens
de gastos variáveis e conforme as peculiaridades de cada lugar.
E mais ainda temos
que pensar. Ousar e fazer.
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