Por Edson Vidigal, advogado, foi Presidente
do Superior Tribunal de Justiça e do Conselho da Justiça Federal.
Havia na escola um
crioulo compositor que só sabia fazer samba enredo sobre a história do Brasil.
Um dia o Estado
Maior da escola, decidido a inovar, chamou o crioulo.
- Neste ano não
vai ter mais história do Brasil, ó quêi?
O crioulo que
passava metade do ano pesquisando o Brasil na memória republicana, pois a
biblioteca pública estava há vinte anos como a transposição das aguas do São
Francisco – em obras paradas, reagiu embasbacado:
- Então, vamos
desfilar na avenida cantando o que, maioral?
- A atual
conjuntura. A atual conjuntura.
Foi aí que,
segundo Sérgio Porto, o crioulo endoidou de vez.
Ao final, a escola
não ganhou nem o troféu Mais Sem Graça.
Porém, ainda hoje,
mais de meio século depois, segue imortal o crioulo compositor que teve em
alguns versos a parceria de Stanislaw Ponte Preta, outro grande pesquisador das
arcadas, a quem devemos a indispensável coleção rival da brasiliana – Festival
de Besteiras que Assola o País, conhecida como Febeapa.
O samba sobre a
atual conjuntura ignora propositadamente a cronologia dos fatos juntando
excentricamente momentos ainda inéditos na história como aquele em que Chica da
Silva tendo outros pretendentes obrigou a Princesa Leopoldina a se casar com
Tiradentes. Termina com um alegre ô, ô, ô, avisando que o trem está atrasado ou
já passou.
Nestes começos de
governos que mais parecem já estarem no fim, quem não percebe esta terra de
amores, alcatifada de flores, onde a brisa fala amores, entre os delírios do
Samba do Crioulo Doido e as fantasias do Festival de Besteiras que Assola o
País? Fantasias moldadas a pirraças varonis nesta tão encantada Pátria
Educadora.
Há pouco vimos
como foram as eleições para as direções das casas legislativas responsáveis, em
tese, pela fiscalização dos atos e das despesas dos Governos e, quando
possível, pela feitura de leis quase sempre horríveis. E injustas.
Os poderes são
independentes entre si, mas quem não cuidar de colocar os seus querubins nos
postos de comando das mesas dos parlamentos para que, por meio deles, possam
comandar por inteiro todo o poder legislativo, não se sustentará.
Como bem lembrou o
Ministro do Supremo Tribunal Federal Luiz Roberto Barroso, o sistema eleitoral
e o partidário no Brasil são indutores da criminalidade.
Por via de
consequência, o Estado a cada dia mais se distancia da sociedade civil sobre a
qual recai sempre a conta dos erros dos governantes e das falcatruas dos seus
agentes na infiltrados pelos partidos e seus políticos nas cercanias de cada
cofre público.
O Maranhão, por
enquanto, se exclui dessa regra. A mesa da Assembleia só não foi eleita por
unanimidade para não dar razão a Nelson Rodrigues para quem toda unanimidade é
burra. Só faltaram dois votos para a burrice não se consolidar.
Mas em Brasília, e
só não ver quem não quer, ficou tudo muito bem armado. Numa cumbuca, a
emborcada, vai haver o assopra, enquanto houver leite e mel, sim, porque em pão
e agua nem falar. Na outra cumbuca, a estratégia é ir pegando de leve sem nunca
deixar escorregar.
O problema é que o
Temer ao que parece não tem nada do Itamar. Nem um coringa como o Fernando
Henrique, ora chanceler e dos bons, ora Ministro da Fazenda para com o Malan e
sua rapaziada bancar como bancou com sucesso o Plano Real.
O trem está
atrasado ou já passou? Quo vadis?
Edson Vidigal manda um duro recado ao governador Flávio Dino neste artigo..."Samba do Crioulo Doido", não precisa nem explicar.