Por Francinaldo Morais (*)
Nasci em Caxias,
nos idos da década de 1960. Fui batizado na Igreja de São Benedito e
nunca me ausentei da minha cidade por mais de 30 dias ininterruptos.
Por estas razões, com certeza, tenho lembranças do piauiense
monsenhor José Mendes Filho, falecido em Teresina-PI., no dia 07.02.15. Sei que
pessoas próximas a ele guardam outras, diferentes lembranças. Ocorre
assim porque também em matéria de Religião é natural que tenhamos
preferências pessoais. Ser cristão e/ou ser humanista orienta a sentir a morte
de qualquer pessoa como uma perda irreparável. Em regra,
não desejamos morrer, ainda que os cristãos acreditemos que a morte permita o
retorno ao Criador.
Como líder
religioso, monsenhor Mendes nunca foi dos meus preferidos, mas isto
não me impede de reconhecer sua liderança na comunidade católica de
Caxias. Dos 5 aos 11 anos de idade desenvolvi afetos pelo monsenhor Gilberto
Barbosa, por orientação das minhas mães Florize Morais e Rosa Soares, e, quando
trabalhei na CSMC, dos 16 aos 18 anos, conheci e aprendi a gostar do monsenhor
Clóvis Vidigal (várias vezes o recebi no PS e o encaminhei até um ou outro dos
apartamentos da CSMC, por orientação dos donos do hospital).
Aos 19 anos, após
ter ouvido o engenheiro caxiense Jadihel José de Almeida Carvalho (1929-1997)
falar do Comunismo, em uma palestra no SESC de Caxias-MA, iniciei minhas
próprias pesquisas sobre o Marxismo. Embora com formação cristã (fiz catecismo
na Igreja da Matriz, sob as bênçãos do monsenhor Mendes) as percepções que
tinha da Igreja e do Clero católicos foram se alterando a medida que
eu me aprofundava na dialética hegeliana-marxista.
No CESC-UEMA
(1993-1998), cursando História, a tendência de me afastar do cristianismo
católico só seria contida quando tomei conhecimento da Teologia da Libertação,
especialmente o que pude sentir nos livros “Igreja: carisma e poder”, “Teologia
do Cativeiro e da libertação” e, ainda, “E a Igreja se fez povo”, esforços
teóricos do frei Leonardo Boff. Em meio a estas leituras, um dia decidi ir até
o Palácio Episcopal de Caxias, oportunidade em que fui recebido pelo padre
Sebastião Francisco Pereira que, durante algum tempo, conversou comigo sobre a
recepção e as relações entre a Igreja Católica na América Latina e a Teologia
da Libertação. Sai daquela conversa com a certeza de que tudo aquilo estava
muito distante do que eu via e ouvia sobre o entendimento e a prática
sacerdotais de membros da Igreja Católica como o monsenhor Mendes.
Por incrível que
pareça foi exatamente o engenheiro comunista Jadihel Carvalho que, noutro
momento, ampliou minhas percepções sobre o monsenhor Mendes. Eu e o engenheiro
debatíamos uma proposta dos marxistas radicais, inspirada nos iluministas
franceses (Voltaire, Diderot ?), que consiste em afirmar que o
capitalismo só será vencido quando o último capitalista for enforcado com as
tripas do último padre. Durante o debate, provoquei o engenheiro caxiense,
suscitando-lhe comparações entre o saudoso padre Maurício Vanini, por quem
desenvolvi simpatia, após contatos com a Teologia da Libertação, e o monsenhor
Mendes.
Os comentários de
Jadihel foram para mim surpreendentes: “___ Sabe Francinaldo, há uma diferença
fundamental entre o monsenhor Mendes e muitos padres que eu conheço. O
monsenhor Mendes acredita realmente na existência de Deus e num destino
universal da Igreja Católica de preparar o povo para o retorno de Jesus Cristo.
Ao contrário do Monsenhor, muitos desses padres não têm a mesma fé. Entram e
estão na Igreja Católica por motivações como segurança socioeconômica,
facilidades para estudar e conhecer o mundo inteiro e reconhecimento público
que permita obter benesses do Poder”.
Os comentários de
Jadihel Carvalho não me convenceram a adotar o líder religioso católico
monsenhor Mendes como um dos meus líderes religiosos preferidos (continuo
admirando o cearense d. Helder Câmara e o paraense padre Josimo Morais porque
entenderam que o amor de Cristo pelos pobres implicou ser odiado e perseguido
pelos ricos) mas passei a considerar as observações do sábio comunista caxiense
todas as vezes que considero a vida e o sacerdócio de um membro da Igreja
Católica. No caso específico da vida e do sacerdócio de mais de 40 anos, do
monsenhor Mendes, em Caxias, registro meus votos de que a sua fé e os seus atos
possam garantir a salvação da sua alma e que, antes disto, “a terra lhe seja
leve” (M.A.).
(*) Professor de História, membro do IHGC e acadêmico de
Direito.
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