Minha Figura

A poesia e a música de Maranhão

27.4.19
Parece que o Brasil inteiro já sabe da existência de um poeta nascido há 65 anos em Caxias do Maranhão.

Salgado Maranhão, Juliana Linhares, Mihay e Hélio Moulin — Foto: Elena Moccagatta/Divulgação

Parece que o Brasil inteiro já sabe da existência de um poeta nascido há 65 anos em Caxias do Maranhão, carioca há quase meio século, herdeiro dos cantadores que conheceu menino em Canabrava das Moças, apaixonado por música, por gente e pela vida, com quatro livros já traduzidos para o inglês e editados nos Estados Unidos. Seu nome, José Salgado dos Santos. Pen-name, Salgado Maranhão.

A matéria publicada pelo “Globo” no Dia de São Jorge foi, ao mesmo tempo, surpreendente e reveladora. Mas não para quem já teve o prazer de ouvir o poeta falar da visibilidade que seus livros lhe deram, apesar dos ventos contrários. Salgado nasceu pobre e negro, tornou-se mais um nordestino a aventurar-se ao Sul, dedica-se a um ramo da literatura meio desacreditado (“Poesia não vende”, dizem os livreiros) e tem motivos para se achar uma exceção: vive de seus versos.

“O trabalho na terra – diz ele em entrevista em que lembra seus dias de menino, – sabemos todos como é: a gente planta, planta, e depois depende de Deus mandar chuva. A poesia é também uma lavoura razoavelmente ingrata... mas não sem prazer.”

Sua carreira inclui prêmios, título de doutor honoris causa, palestras em mais de 80 universidades americanas, sucesso. Sempre traduzido, nos livros e nas falas, por Alexis Levitin, escritor americano especializado em autores de língua portuguesa, Salgado Maranhão acaba de voltar do Texas, onde já esteve em sete ocasiões, uma delas participando de um festival de poesia.

Com tanta coisa boa para se falar do poeta quase não sobra espaço para o versejador que me encanta: o letrista de canções que embelezaram a lírica brasileira em vozes tão caras como as de Zizi Possi e Paulinho da Viola.

Certo dia, Salgado recebeu telefonema do compositor Herman Torres chamando-o para ir correndo à sua casa. Queria letra para a melodia que fizera para reconquistar a mulher que o abandonara. Em menos de meia hora, os primeiros versos:

"Sem você a vida pode parecer um porto além de mim

Coração sangrando, caminhos de sol no fim..."

Os objetivos foram alcançados: mulher reconquistada e “Caminho de Sol”, na voz de Zizi, virando tema de novela.

Para um samba Paulinho da Viola, outra preciosidade:

"Por onde a maldade mora, eu quero ser como a luz

Entra na noite e não mancha, entra no lago e não molha...

Com um fecho tão bom o melhor:

Acho que na minha vida, de tanto me amarem errado

Quando me amam bonito, eu já nem sei ser amado."

Já era tempo de se reconhecer em Salgado Maranhão não só o poeta, mas também letrista. Bissexto, mas ótimo.

Fonte: blog do João Máximo

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