Do Blog do Robert Lobato
- Ótima e muito esclarecedora a entrevista do senador Roberto Rocha (PSB)
publicada na edição deste domingo, 6, do Jornal Pequeno.
O socialista faz uma avaliação do resultado
das eleições municipais no país e no Maranhão, comenta sobre a conjuntura
política local e lamenta que o Governo do Maranhão ainda não tenha avançado em
novas políticas que efetivamente alavanquem o desenvolvimento do estado.
Um dos responsáveis mais destacados pela
engenharia política que culminou na vitória dele ao Senado Federal e de Flávio
Dino ao Governo do Estado nas eleições de 2014, Roberto Rocha critica a postura
do governador comunista frente ao seu projeto de criação de uma Zona de
Exportação do Maranhão, criando um novo regime chamado exclave aduaneiro, capaz
de transformar a Ilha de São Luis em um hub mundial de produtos. “Tive
apoio no meio empresarial, na FIEMA, em nichos universitários, mas a rede
institucional do Governo mostrou-se impermeável a discutir a ideia, sem ao
menos contrapor outra em seu lugar. É nesse cenário, de arrogância ideológica,
que surgem correntes capazes de formular um projeto para o Maranhão que seja
mais plural e mais sintonizado com as demandas de nosso tempo.”
Confira a íntegra da entrevista com o senador
Roberto Rocha:
Que análise o sr. faz dos resultados da
eleição, no plano nacional?
Não tenho lembrança de nenhuma eleição que
tenha provocado uma maior reacomodação das forças políticas nacionais, em
tempos democráticos. Para ficarmos no exemplo mais dramático, o PT, que foi o
partido que mais cresceu na última década, teve nestas eleições menos votos que
o PSB ou o PDT, que são forças médias. Temos portanto um desenho de forças
políticas completamente novo, que se projeta para as eleições de 2018.
E quem saiu ganhando com esse novo desenho?
Partidariamente, é claro, foi o PSDB. Ele
sozinho conquistou quase 18% dos votos apurados nas urnas em todo o Brasil. Pra
dar uma ideia do que isso significa, foi mais que o triplo dos votos obtidos
pelo PT.
Do ponto de vista de liderança pessoal o
maior vitorioso foi o governador Geraldo Alckmin, de São Paulo, que se
fortaleceu como o candidato natural do partido para disputar a Presidência da
República, em 2018.
Mas terá que enfrentar outros nomes fortes do
partido, não?
Sim, é verdade, mas nenhum deles reúne hoje o
capital eleitoral do Geraldo e uma base de lançamento com a potência do Governo
de São Paulo. Vale dizer que o PSB foi o principal parceiro nesse projeto, pois
é o fiador da governança no Estado, pelas mãos do vice-governador Marcio
França.
Então PSB e PSDB devem estar juntos em 2018
É o caminho natural da lógica política.
Aliás, já foi o caminho trilhado pelo partido após a morte de Eduardo Campos,
quando o PSB se engajou no segundo turno na candidatura de Aécio Neves.
E qual o efeito dessas novas configurações na
eleição de 2018?
Em 2018, para presidente, a tendência é
termos muitas candidaturas no primeiro turno, mas as forças políticas devem
convergir para uma disputa no segundo turno entre basicamente duas forças: de
um lado o PSDB e o PSB, em torno do governador Geraldo Alckmin, e do outro as
forças da chamada esquerda que devem buscar uma renovação numa candidatura como
a de Ciro Gomes, que poderá reunir, além do PDT, o PT, o PCdoB e um ou outro
partido médio.
E no plano municipal e estadual, qual o
efeito dessas novas configurações?
No municipal, o efeito já aconteceu nesta
eleição. Todos sabem que o governador apostava suas fichas na candidatura do
deputado estadual Bira do Pindaré, por não acreditar na capacidade de
regeneração da administração do prefeito Edivaldo Holanda Jr. Mas o PSB
nacional entendeu que o partido não poderia ser usado como saída de emergência
do projeto do Governador, e eu mesmo tive que agir politicamente para garantir
que o PSB correria em raia própria, mesmo com mínimas chances eleitorais. E o
resultado nós vimos, o prefeito teve que desmontar o puxadinho do Palácio, pelo
menos até o momento em que o próprio governador resolveu pular no bonde
andando, quando as pesquisas apontaram a vitória do prefeito.
Vamos ver se na recomposição do secretariado
do Prefeito vai prevalecer o Edivaldo que falou grosso no debate do segundo
turno ou aquele que administrou o puxadinho, com voz mansa e cordata.
Já no plano estadual, o primeiro efeito será
quebrar o espectro de alianças que elegeu o governador Flavio Dino em 2014.
Naquela ocasião o Maranhão vivia uma circunstância de ruptura com um modelo
político exausto e a realidade regional se sobrepôs à realidade nacional. Em
condições normais, em 2018, isso não se repetirá. Uma aliança entre PC do B e
PSDB, como aconteceu em 2014, seria algo teratológico.
E quais as forças que poderão se contrapor
aqui ao grupo do governador?
Em razão da gravitação do campo nacional, é
claro que o PSDB, assim como o PSB deverão compor um projeto diferente. Talvez
o PMDB lidere uma terceira força e aí vem os partidos médios e pequenos que a
circunstância política do momento deve determinar para onde pendem.
O seu nome pode liderar essa corrente de
oposição?
Nós temos aqui no Maranhão uma tradição,
alimentada pela mídia, de visualizar a política como uma disputa pessoal, uma
briga de personalidades. É como se as afinidades pessoais ou as amizades
determinassem as escolhas políticas. Nada mais falso. A disputa deve se dar por
visões de mundo e capacidade de construir maiorias para formular um projeto
para o Estado. Por enquanto não estão dadas as condições para a discussão de
nomes, mas à medida que o Governo vai demarcando seu campo de atuação é
possível identificar, na sociedade, expressões de desconforto com os rumos que
vem sendo tomados.
Por exemplo?
O que eu vislumbro de mais grave é a ausência
de um projeto generoso e ousado que formule uma inflexão no rumo de
desenvolvimento do Estado. Pensar grande, projetar para o futuro um Maranhão
que é possível construir a partir do que alcançamos nas últimas décadas.
Vejo com tristeza um Governo paralisado por
interdições ideológicas, avesso ao capital privado e ao empreendedorismo do seu
povo. Na origem, há boas intenções, mas a crença de fundo é de que apenas as
ampliações de ganhos sociais e da consciência do povo é capaz de conduzir o
Estado para um outro plano de conquistas. Por mais meritório que seja, essa
agenda choca-se com a realidade e a experiência que nos mostra que somente o
desenvolvimento das forças de produção pode alavancar a sociedade para um outro
patamar de progresso civilizacional.
E o que o sr. tem a oferecer em contraste?
Os estados que mais cresceram no Brasil, nos
últimos anos, como o Ceará ou o Tocantins, assim como o Piauí, partiram de uma
base mínima de consenso da classe política para alavancar os seus indicadores
educacionais, a partir de uma vigorosa ação política em favor da atração de
capital e indústrias. O Ceará e o Piauí, comparados ao Maranhão, são quase
inviáveis, pela pobreza de biomas e de recursos hídricos. No entanto nos ultrapassaram
em todos os indicadores.
Veja que as eleições nesses estados não são
marcadas por diferenças pessoais que transformam a disputa em verdadeiro
pugilato retórico. São disputas de projetos. Mesmo a esquerda no Ceará, por
exemplo, ainda que crítica, não nega o que foi plantado desde o governo Tasso
Jereissati, que deu início à transformação do Estado.
Aqui no Maranhão, veja a que estamos
reduzidos: uma gincana em que se discute quem asfaltou mais ruas nos
municípios, quem inaugurou mais praças. Somos incapazes de estabelecer um
consenso sobre a óbvia vantagem comparativa do Maranhão, em função da sua
posição geográfica e das potencialidades do Complexo Portuário do Itaqui.
Nós somos o Estado capaz de viabilizar toda a
produção agropecuária do Centro-oeste, a maior fronteira agrícola do planeta, e
estamos discutindo o varejo da política. Está nas nossas mãos construir um
futuro de possibilidades grandiosas, mas continuamos agindo como se o futuro
viesse por inércia, por gravidade.
Recentemente eu formulei um projeto de
criação de uma Zona de Exportação do Maranhão, criando um novo regime chamado
exclave aduaneiro, capaz de transformar a Ilha de São Luis em um hub mundial de
produtos. Tive apoio no meio empresarial, na FIEMA, em nichos universitários,
mas a rede institucional do Governo mostrou-se impermeável a discutir a ideia,
sem ao menos contrapor outra em seu lugar. É nesse cenário, de arrogância
ideológica, que surgem correntes capazes de formular um projeto para o Maranhão
que seja mais plural e mais sintonizado com as demandas de nosso tempo.
Gostei da entrevista, a muito tempo não vi um político maranhense tão bem articulado, como um pensamento muito progressista e liberal. Que observe modelos de gestões que deram certo. Roberto Rocha para governador do Maranhão 2018.