Por Edson
Vidigal, advogado, foi presidente do Superior Tribunal de Justiça e do
Conselho da Justiça Federal.
O sol ainda não havia dado as caras. As
sombras se dissipando por debaixo das arvores eram o próprio anúncio do sol
como próxima atração.
Pedalando então manhã bem cedo logo avistei
adiante um corpo estendido no chão.
Em seguida outro, mais outro, mais outro, até
onde a vista alcançava não eram poucos os corpos estendidos no chão do asfalto.
Mas que massacre. Imaginei. Reduzi a marcha
dando meia volta querendo conferir se o que via era exatamente aquilo. O
restante de um massacre.
As pessoas estendidas no chão, homens e
mulheres, vestiam roupas como se estivessem voltando de alguma festa. Roupas
rasgadas, manchas de sangue, corpos denunciando mordidas enormes, uns braços
sem mãos, pernas dilaceradas.
O sol não se conformou com o nublado das
nuvens e foi logo tratando de derramar luz sobre a manhã macabra. Havia algo
diferente dos massacres noturnos comuns a que até nos acostumamos a ver nos
noticiários matinais da televisão.
Quem, por enquanto, nunca matou nem mandou
matar, conta entre amigos seus lances repugnantes com mulheres, incluindo
menores de idade, que nem os antigos malandros, muitas vezes até mentindo e
tudo só para fazer farol e causar impacto em versos para a canção popular.
(“Essa
nêga tua é feia que parece macaquinha / (...) / dei um murro nela e joguei ela
dentro da pia. Quem foi que disse que essa nêga não cabia?”.)
Uma estória dessas hoje em dia, embora
incursione em de racismo, ainda diverte a muitos. Perto dos jargões dos
traficantes, é canção para as almas honestas e inocentes.
Agora pedalando devagar revendo pela segunda
vez as dezenas de corpos estendidos no chão, minha imaginação seguia atônita
sem alcançar alguma explicação logica para tanta barbárie.
A constatação alardeada pelos cientistas de
que o homem é o único animal capaz de matar o seu semelhante, só por um
instante me conformou.
O cenário horrendo ali me remeteu a lembrança
ao que o estado islâmico tem aprontado pela aí com os cristãos
À medida que o sol, vencendo as nuvens
cinzentas, apagava as sombras em geral, foi dando para eu ver melhor o outro
lado da avenida. Nada diferente. Mais corpos estraçalhados, aqui em maior
quantidade, estendidos no chão.
Selvageria longe da selva? É possível. Na
selva das cidades, em especial nas cidades grandes, cada um de nós carrega
dentro de si um animal selvagem. Entre os corpos, o de um jumento ferido,
estrebuchando, relinchando.
Um pouco adiante um tigre disforme exibia seu
bocão, os dentões pontiagudos. E aí deduzi ter sido aquele tigrão o terrível
assassino.
Adiante, imagina só, um elefante balançando a
tromba, lançando uivos de alguma celebração. Aí não entendi mais nada. Acelerei
a marcha, confesso, quase morrendo de medo do elefante.
Que nem o campônio do coração materno,
tropecei no meio fio da avenida. E caí. Até foi bom porque acordei. E fiquei
sabendo quem venceu. Hillary e Trump disputavam quem detinha a maior taxa de
rejeição popular. Por estreitíssima margem, A Hillary perdeu. Trump é
agora o novo Presidente dos Estados Unidos.
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