Por Edson Vidigal, advogado, professor e
ex-presidente do STJ
Sem o direito de
discordar não há contraditório e sem o contraditório não há democracia.
Aceitar como se
fosse um dogma a predominância de uma única ideia pronta e acabada sem
discuti-la é abrir mão da racionalidade inerente à condição humana.
Sempre que um Povo
se queda à verdade única ditada por algum poderoso do momento abre-se uma
perigosa senda para o totalitarismo.
Contraditar não é
apenas opor a duvida, a desconfiança, exercitar a coragem e sangrar o medo.
É da maior
importância, suscitar ideias inspiradoras que amplamente discutidas e só então
aceitas possam condensar-se, por exemplo, em proposta alternativa de políticas
públicas.
Numa democracia
como a nossa ainda em construção nunca haverá espaço para o totalitarismo das
oposições raivosas que supõem poderem se impor pela raiva e no grito.
A intolerância às
ideias novas brotadas na contramão da ortodoxia predominante vira doença que
por contágio pode anestesiar mentes fazendo com que as pessoas, tendo perdido a
razão, se deixem manipular passivamente.
Só o exercício
permanente e livre do contraditório pode deter como numa vacinação em massa os
surtos do totalitarismo.
Sempre que o Povo
se desencanta com os políticos que encarnaram suas esperanças a demagogia se
anima e a raiva dos aproveitadores e oportunistas muito agradece.
Temos que refletir
em busca de explicações lúcidas sempre que o desencanto coletivo despontar e
for se ampliando que nem os raios do sol se impõem rasgando as nuvens.
Como diria Eça de
Queiros via Conselheiro Acácio – “as consequências vêm depois...”.
Na democracia o
desencanto coletivo sempre tem a ver com o resultado das urnas. Mas quem
colocou o voto lá? A maioria manipulada sob a verdade única do coronelismo
eletrônico, portanto, mal informada e paupérrima em suas condições de vida
digna e, por isso mesmo, aberta como um deserto a todas as esperanças.
Ocorre-me agora
usar aquela expressão preferida pelo negão sempre que ele quer afirmar negando
a alguém alguma coisa – não vislumbro!
Pois eu também, no
caso aqui da carência de contraditórios seguros e responsáveis, não vislumbro
seriedade na politica feita à base da verdade única e da raiva gritada.
Ao ponto a que
chegamos neste estado de coisas, que é um estado de muitas coisas ruins e quase
em nada um estado de direitos, o desencanto coletivo começa a piscar em luz
amarela de intensidade forte o seu primeiro e enorme sinal de alerta!
Apesar de todas as
pesquisas eleitorais, manipuladas ao gosto de quem as encomenda e paga, o que
se sabe agora de base confiável porque cientifica é que muito mais que a metade
dos eleitores inscritos sequer sabe ainda em quem votar nas próximas eleições.
Vamos nos dar as
mãos não apenas como quem num fim de semana veste roupa branca e vai ao parque
abraçar as arvores em sinal de protesto contra a degradação do meio ambiente e
depois volta para casa e depois não acontece mais nada.
Vamos nos dar as
mãos em atitude de fé e de confiança no presente porque todo dia faz bom tempo
para a união em busca de ideias novas e inspiradoras à consolidação de
propostas confiáveis e eficazes para essa realidade horrível que queremos
transformar. Com todo o respeito.
Como advertiu
Gandhi, “olho por olho e o mundo acabará cego”. Vamos
nos dar as mãos também como quem reza o Pai Nosso no momento mais sublime da
missa.
0 comentários:
Postar um comentário