O juiz apita
decretando que o jogo acabou. Em êxtase, a torcida do time vencedor em êxtase
cerra os punhos e como se quisesse atirar as mãos no ar, grita e comemora.
Cada um dessa
torcida do time que venceu profere impropérios, diz o que lhe dá na telha, não
lhe interessa o conteúdo do que diz. O que conta é a vitória final.
No gramado, as
alegrias espocam incontidas, os onze vencedores dão a volta olímpica em torno
do gramado, mas a Taça que simboliza a vitória é entregue a um jogador somente
- o chamado Capitão do time.
Ninguém vai se
lembrar do quanto custou para muitos, desde muito antes, aquele momento tão
ansiado e de tantas alegrias. Ninguém depois vai querer contabilizar os custos.
Quantos nos
treinos foram eliminados para que a seleção resultasse a melhor?
Quantos não
tiveram que acorrer à diretoria para quitar dívidas atrasadas ou contraindo
novas dívidas para que, chegando o dia decisivo, ninguém reclamando de nada, o
ambiente fosse invadido pela confiança da coesão interna, todos na mesma
disposição de luta querendo vencer?
E quantos, no
anonimato das arquibancadas, sendo apenas torcedores, mas imprescindíveis à
vitória porque time sem torcida ativa não joga quente para ganhar, quantos na
torcida não foram xingados, e alguns até sofreram violência física por conta da
paixão desmedida da torcida adversária?
Dos anônimos, importantíssimos
para a vitória final, poucos se lembram.
Os registros vão
dar conta de quem chutou em gol, e com o tempo ninguém se lembrará da
habilidade de quem passou a bola apropriadamente para o colega chutar em gol.
As defesas do
goleiro cairão no esquecimento. Dos que foram contundidos, vitimas do desespero
adversário, ninguém vai querer se lembrar.
Os focos do
reconhecimento, dos elogios, as celebrações da vitória, tudo se direcionará no
primeiro momento para o capitão do time e secundariamente para os artilheiros
daquela partida.
Passando hoje pela
manhã numa praça da cidade onde agora estou, longe do Brasil, vi sobre um
pequeno obelisco uma bola de futebol em tamanho natural, prateada.
Num primeiro
momento imaginei que se tratasse de uma homenagem à seleção nacional que numa
dessas rodadas quadrienais arrebatou para o seu País, há alguns anos, a Copa do
Mundo.
Se fosse só por
isso já seria interessante. Mas não.
Fui ler a placa e
a placa dizia – homenagem às vitimas da violência no futebol.
Todos buscam a
vitória e a celebram. Dos custos da vitória, poucos se lembram. Das vitimas que
de alguma maneira restaram tombadas no campo da batalha, quase ninguém se
lembra.
Como no futebol,
nas guerras de todos os gêneros, assim também na política.
Alcançada a
vitória de um partido em seus movimentos, todos se voltam tributando os méritos
para quem encabeçou batalha, e em muitas vezes ele nem é o líder, é só um nome
emprestado à simbologia ao momento.
Ninguém vai se
lembrar de reconhecer os esforços, os sacrifícios, as renuncias, os
desprendimentos, as violências sofridas de quantos, os que se tornaram
conhecidos na linha de frente ou os anônimos das torcidas ativas.
Não há vitória sem
custos e todos que participam da luta são pagantes, de alguma maneira pagam por
antecipação ou algum dia depois, os custos.
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