Minha Figura

Militâncias

29.5.14
Por Edson Vidigal

O juiz apita decretando que o jogo acabou. Em êxtase, a torcida do time vencedor em êxtase cerra os punhos e como se quisesse atirar as mãos no ar, grita e comemora.

Cada um dessa torcida do time que venceu profere impropérios, diz o que lhe dá na telha, não lhe interessa o conteúdo do que diz. O que conta é a vitória final.

No gramado, as alegrias espocam incontidas, os onze vencedores dão a volta olímpica em torno do gramado, mas a Taça que simboliza a vitória é entregue a um jogador somente - o chamado Capitão do time.

Ninguém vai se lembrar do quanto custou para muitos, desde muito antes, aquele momento tão ansiado e de tantas alegrias. Ninguém depois vai querer contabilizar os custos.

Quantos nos treinos foram eliminados para que a seleção resultasse a melhor?

Quantos não tiveram que acorrer à diretoria para quitar dívidas atrasadas ou contraindo novas dívidas para que, chegando o dia decisivo, ninguém reclamando de nada, o ambiente fosse invadido pela confiança da coesão interna, todos na mesma disposição de luta querendo vencer?

E quantos, no anonimato das arquibancadas, sendo apenas torcedores, mas imprescindíveis à vitória porque time sem torcida ativa não joga quente para ganhar, quantos na torcida não foram xingados, e alguns até sofreram violência física por conta da paixão desmedida da torcida adversária?

Dos anônimos, importantíssimos para a vitória final, poucos se lembram.

Os registros vão dar conta de quem chutou em gol, e com o tempo ninguém se lembrará da habilidade de quem passou a bola apropriadamente para o colega chutar em gol.

As defesas do goleiro cairão no esquecimento. Dos que foram contundidos, vitimas do desespero adversário, ninguém vai querer se lembrar.

Os focos do reconhecimento, dos elogios, as celebrações da vitória, tudo se direcionará no primeiro momento para o capitão do time e secundariamente para os artilheiros daquela partida.

Passando hoje pela manhã numa praça da cidade onde agora estou, longe do Brasil, vi sobre um pequeno obelisco uma bola de futebol em tamanho natural, prateada.

Num primeiro momento imaginei que se tratasse de uma homenagem à seleção nacional que numa dessas rodadas quadrienais arrebatou para o seu País, há alguns anos, a Copa do Mundo.

Se fosse só por isso já seria interessante. Mas não.
Fui ler a placa e a placa dizia – homenagem às vitimas da violência no futebol.

Todos buscam a vitória e a celebram. Dos custos da vitória, poucos se lembram. Das vitimas que de alguma maneira restaram tombadas no campo da batalha, quase ninguém se lembra.

Como no futebol, nas guerras de todos os gêneros, assim também na política.

Alcançada a vitória de um partido em seus movimentos, todos se voltam tributando os méritos para quem encabeçou batalha, e em muitas vezes ele nem é o líder, é só um nome emprestado à simbologia ao momento.

Ninguém vai se lembrar de reconhecer os esforços, os sacrifícios, as renuncias, os desprendimentos, as violências sofridas de quantos, os que se tornaram conhecidos na linha de frente ou os anônimos das torcidas ativas.

Não há vitória sem custos e todos que participam da luta são pagantes, de alguma maneira pagam por antecipação ou algum dia depois, os custos.

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