Por Edson
Vidigal, advogado,
foi Presidente do Superior Tribunal de Justiça e do Conselho da Justiça
Federal.
A certeza de que o carrão preto, um ford galaxy,
estacionado quase rente à porta de entrada do Hotel Nacional não era o do
General Figueiredo eu a tive ao conferir a placa – Coroatá-MA.
Um prato com camarão seco, uma cuia com farinha
dágua, um isopor com gelo e um litro de uísque, um chivas legitimo, até porque
já naquele tempo com tantos impostos havia muita falsificação e contrabando,
estava ali, à beira da piscina, o Vitor.
A sua voz grossa, sempre em volume alto, fazia-lhe
jus ao sobrenome – Trovão, famoso entre a casa grande dos empresários e a
senzala das quebradeiras de coco dos babaçuais do Maranhão.
Chegara a Brasília na safra dos novos Deputados. Sempre
que ouço alguém com o mesmo discurso ou contando a mesma estória eu me lembro
do Vitor, que chamava a isso de long-play.
Dizia que o long-play do Sarney, de que fora seu
amigo de infância, tinha 12 faixas de cada lado e só tocava uma de cada vez,
conforme o lugar. E assim o grande encantador de serpentes da minha geração
tinha para cada público um discurso que para muitos era novo e diferente.
Muito diferente, por exemplo, do Francelino, o qual
a serviço do Jornal do Brasil, eu acompanhei numa turnê pelo interior de Minas.
O long-play dele mudava os nomes das pessoas e do lugar na introdução, mas a
partitura era sempre a mesma, sem alterar frase, palavra ou entonação.
Essa coisa do long-play a que se referia o Vitor me
tem vindo à lembrança sempre que ouço ultimamente opinião sobre essa permanente
indagação da moda – e a Dilma, sai ou não sai?
Conheci pessoalmente o Dr. Pila, o respeitadíssimo
Deputado Raul Pila, líder do Partido Libertador, inspirador de políticos
sérios, eruditos e compromissados com o Brasil, dentre eles Paulo Brossard.
O Dr. Pila usava um aparelho auditivo muito
ostensivo e sua voz nem de longe se emparelharia com os decibéis das trovoadas
vocais do Vitor. Dr. Pila foi o maior estudioso e principal arauto da adoção do
parlamentarismo no Brasil.
No entanto, foi ele quem mais se opôs à emenda com
qual o Congresso passou aquela primeira rasteira no Jango após a renúncia do
Jânio. Parlamentarismo de ocasião.
Diferente do Dr. Pila que para não ser incomodado
pelas mesmas conversas, ou seja, pelos discursos dos mesmos long-plays,
desligava por horas o aparelho, eu gosto muito dos dois trequinhos que a Dra.
Isabela, minha otorrino, me fez esconder nos ouvidos em teste-driver.
Daí que, estando agora a ouvir tudo, algumas vezes
até me incomodo com algumas conversas ao derredor, em lugares públicos,
principalmente quando a faixa que toca é a mesma do long-play da atual
temporada.
- E a Dilma, sai ou não? E por quanto tempo o
Brasil ainda vai ter que aguentá-la? E agora tem mais essa do rombo no
orçamento. Ela está pagando pela arrogância e pela mentira. Achou que era
fácil...
Num restaurante em Teresina, lembrando um pouco o
Lauro, o garçom politizado do bar do Hotel Central, a moça que servia a mesa ao
lado não se aquietou enquanto não entrou, ela também, na conversa.
- Muito bem. Tiramos a Dilma. E quem vai para lugar
dela?
Tenho ouvido muito isso. Parece panfletagem. Por
ultimo, também sem querer, ouvi num tom de quase certeza a seguinte
defesa da Dilma:
- Se a Dilma cair vai ser um horror. Depois dos
políticos, a Lava Jato vai pegar o judiciário. Milhares de juízes, centenas de
desembargadores e até Ministros já estão mapeados. A rapaziada do Paraná está
com todo gás.
Como cantou o poeta António Carlos Gomes Belchior
Fortunato Fernandes, “tenho ouvido muitos discos, conversado com pessoas” (...)
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