Por Edson
Vidigal, advogado, foi presidente do Superior Tribunal de Justiça e do
Conselho da Justiça Federal.
Sabe aquele labrador, o Nêgo, que o Dirceu
repassou à Dilma quando saiu da Casa Civil do Lula?
Sim, aquele mesmo que o pessoal, de gozação,
andou espalhando que tinha um chip de gravação e transmissão incrustrado numa
orelha para repassar ao antigo dono tudo que escutasse entre as cercanias da
Dilma.
Eu via o Nêgo numa coleira prateada sendo
levado discretamente por um segurança nas caminhadas matinais da Dilma pela
orla da península. Os cuidados dela com o Nêgo transpiravam verdadeiros.
O António Carlos, popular ACM, advertia que
politico que não gosta de velho, de criança e nem de cachorro, não necessariamente
nessa ordem, não vai longe.
Os afagos da Dilma ao Nêgo pareciam tão
verdadeiros que ela até posou toda amorosa com ele para fotos e filminhos da
campanha eleitoral.
Hoje diriam os maldosos que aquilo não passou
de gozação de marqueteiro, enfim, mais uma mentira da campanha eleitoral.
A Dilma foi morar no Alvorada e naquela
imensidão de jardim o Nêgo se soltou. Divertia-se correndo atrás das emas e
pondo as garças para voar. A Presidenta deportou o Nêgo para a Granja do Torto.
Quando o Dirceu, acusado de ter craniado o
mensalão, foi condenado sob a relatoria do Barbosa a mais de dez anos de
prisão, pensei – e o Nêgo, não verá mais o seu antigo dono?
Em Araçatuba, SP, um casal de labradores, ele
Max e ela Lua, é visto toda tardinha no lago onde o seu Luís, o dono,
desapareceu afogado. Eles chegam, sentam e fitam o lago por algum tempo. Depois
mergulham como se estivessem à procura do seu dono.
No sudeste da ilha de Florianópolis, SC, só
se fala no Lobão, há dez anos sem o seu dono, mas ainda à sua espera. Não mora
na casa de ninguém, vagueia pelas ruas, contempla a correnteza do Rio Tavares,
aceita que os estranhos lhe deem comida e, definitivamente, não gosta de
cachorro preto. Negão ou neguinha, Lobão põe todos para correr.
O Lobão é inimputável. Quem futuramente o
ofender, não. No novo Código Penal, já aprovado pelo Senado e agora devagar
quase parando, ainda bem, na Câmara, há uma norma explicita de proteção legal,
uma espécie de Lei Maria da Penha para cães e gatos punindo com prisão de um a
quatro anos quem lhes fizer sofrer algum tipo de violência.
Mas se alguém deixar de prestar assistência a
uma criança abandonada terá uma reprimenda de apenas entre um a seis meses de
prisão ou multa.
Então, pessoal, todo cuidado é pouco com os
gatos e com os cães! Propõe-se ate quatro anos de cadeia para quem abandonar,
em qualquer espaço público ou privado, animal doméstico, domesticado, silvestre
ou em rota migratória, do qual se detém a propriedade, posse ou guarda, ou que
esteja sob seu cuidado, vigilância ou autoridade.
Há tempos o Léo Jaime andou propondo num rock
– “Troque seu cachorro por uma criança pobre / deixe na história de sua
vida uma noticia nobre / (...) Tem muita gente por aí que tá querendo levar uma
vida de cão /eu conheço um garotinho que queria ter nascido pastor alemão (...)
Um dia, se for aprovado esse novo Código
Penal com a mesma redação com que saiu do Senado, essa ideia de trocar seu
cachorro por uma criança pobre, dependendo do modus faciendi, pode lhe render
ate quatro anos cadeia.
Em Israel inauguraram um canal a cabo chamado
DogTV com programação só para entreter cachorro. Os daqui de casa, a Miúcha e o
Kindle, já assistem TV há tempos. Várias vezes chegamos em casa, Eurídice e eu,
e encontramos os dois no sofá da sala assistindo desenhos animados da TV
portuguesa.
Quanto ao Nêgo em seu exilio na Granja do
Torto, não lamentem muito. Como quem precisa se vira, o Nêgo já se virou por
lá. É pai de um serelepe filhote loiro. Há quem jure que quando a Dilma pinta
pelo Torto o Nêgo abre a boca como se entoasse – tô nem aí, tô nem aí...
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