Blog do John Cutrim - Direto
do Vaticano, o ex-senador José Sarney revelou em artigo.que Irmã Dulce o livrou
de muitas vaias. O ‘milagre’, segundo Sarney, ocorreu quando ele descia a rampa
do Planalto no último dia de Presidente da República. Após um governo
desastroso e impopular, de inflação de 1972,91%, Sarney achou que seria vaiado
pela população, contudo a presença de Irmã Dulce o fez ser aplaudido.
Confira
como foi abaixo:
Por José Sarney
Estou
em Roma, emocionado. Eu que tantas vezes estive nesta cidade, que é uma síntese
da História, desta vez aqui me trouxe a fé.
A
fé numa Santa que conheci muito de perto, que amei pelo seu trabalho e pela
santidade de sua vida: Irmã Dulce.
Venho
para refazer o gesto que fiz em minha vida, beijar-lhe os pés de Santa — que
sempre foi e agora o Papa Francisco canoniza.
Ainda
hoje recordo essa emoção: poucos dias antes de falecer, em seu leito de agonia,
no que não era cama — era quase uma cadeira —, eu lhe disse: “Eu sou indigno de
fazer outra coisa, senão de beijar-lhe os pés.” Ali, eu beijei os pés de Irmã
Dulce, ajoelhado.
Agora
no Vaticano, rezarei pela minha família, pelos meus amigos, pelo povo do
Maranhão. Farei meu pedido pela Paz, pela saúde e pela felicidade de todos.
Irmã
Dulce nos deu o exemplo da caridade e da virtude esquecidas. A sociedade
capitalista gera valores materiais e negligencia os valores espirituais. Irmã
Dulce era uma tocha permanente, que brilhava para lembrar que não podemos
ficar, somente, no usufruto dos nossos bens, sem pensar no universo que nos
rodeia, nos miseráveis, nos pobres, nos deserdados.
Ela
era o cristianismo sem adjetivos, uma esmoler dos doentes. Irmã Dulce era uma
flor de amor e de bondade, esse desejo de ser um pedaço de Deus nas ruas de
Salvador da Bahia. Doce como os santos, santa como os profetas.
Eu
tinha conhecimento da obra social de Irmã Dulce. A comunhão do nosso espírito
consolidou-se quando a conheci pessoalmente, como presidente.
Visitei-a
sempre, algumas vezes no anonimato. A amizade que tínhamos um pelo outro era
nutrida de nossos sentimentos comuns de amor ao próximo e só fez se consolidar
com o passar dos anos, em benefício maior da parte que me toca, visto que a
minha alma se engrandece na memória de alguém tão pura, como enriquecia, ontem,
no convívio com uma pessoa tão abnegada ao próximo.
Em
1988, indiquei nossa Irmã Dulce para o Prêmio Nobel da Paz. Não estava somente
atestando preferência e escolha pessoais, expressava o que habitava no fundo da
alma brasileira.
Quando
ouvia sua sobrinha, Maria Rita, me dizer que o Vaticano pedia mais um milagre
de Irmã Dulce, eu respondia: eu sou testemunha, ela já me fez mil milagres. Ao
deixar o governo, eu ia descer a rampa numa situação difícil. Então, antes de
sair, reuni minha família, minha mulher, meus filhos e coloquei um lenço no
bolso para as lágrimas.
E
disse a todos: “Olhem, vocês se preparem. Agora, vou descer a rampa do Palácio”
— na frente, havia uma multidão —: “metade vem para aplaudir o candidato que
vai tomar posse, a outra metade vem para vaiar o candidato que vai tomar posse,
mas todas as duas correntes vêm para me vaiar.” Peguei na mão da minha mulher e
dos meus filhos e desci a rampa.
Não
sei por que, ao descer, senti ao meu lado alguém. Olhei, procurava ver quem
estava ali: era Irmã Dulce. Tirei o lenço do bolso e o sacudi como quem se
despedia. De repente, aquela multidão, de um lado e de outro, que vinha para me
vaiar, começou a me aplaudir. Eu não sabia nem como. Vi as pessoas chorarem. Eu
me dizia: é milagre da Irmã Dulce!
Agora,
a Igreja reconhece um milagre especial: um homem cego rezou a Irmã Dulce. Os médicos
afirmam: ele continua cego, mas, pela intercessão de Irmã Dulce, vê.
Santa
Irmã Dulce, rogai por nós!
A.M.É.M