Folha de São Paulo -
O doleiro Alberto Youssef afirmou em delação à Polícia Federal que efetuou
pagamento de propina a um integrante do alto escalão do governo Roseana Sarney
no Maranhão em nome da UTC no dia de sua prisão. Ele foi preso em março, em um
hotel de São Luís (MA), durante as investigações da Operação Lava Jato.
Segundo Youssef, a entrega do dinheiro
ocorreu momentos antes da prisão. Ao perceber que seria preso –após retornar
uma ligação que descobriu ser de policiais federais do Paraná–, ele diz ter
levado R$ 1,4 milhão ao quarto de João Abreu, a um emissário do então
secretário da Casa Civil de Roseana Sarney. Depois disso, “retornou ao quarto e
ficou esperando a polícia chegar”, de acordo com relato à Polícia Federal.
Além do dinheiro, ele também levou uma caixa
de vinhos como presente ao então secretário.
O juiz federal Sergio Moro, responsável pelos
processos da Lava Jato, autorizou o compartilhamento do depoimento de Youssef e
outras provas sobre o precatório com o atual governo do Maranhão, do governador
Flávio Dino (PCdoB).
O CASO
O caso veio à tona no ano passado, após a contadora
de Youssef, Meire Poza, ter revelado a propina em depoimento à PF. Segundo ela,
o governo do Maranhão recebeu R$ 6 milhões para furar a fila de pagamento de
precatórios e antecipar um pagamento de cerca de R$ 120 milhões para a
empreiteira UTC/Constran.
Furar fila de precatório caracteriza, em tese,
crime de responsabilidade, um dos motivos que podem levar ao impeachment de
governador. Roseana já anunciou que abandonará a vida política.
Youssef estava em São Luís (MA) cuidando desse
negócio quando foi preso pela Polícia Federal na Operação Lava Jato, em 17 de
março deste ano.
O doleiro afirma ter recebido R$ 4 milhões pela
operação. Ainda segundo Youssef, Abreu recebeu, além dos R$ 1,4 milhão, outras
duas parcelas de R$ 800 mil, por meio de emissários.
A Constran teria contratado o doleiro para receber
o precatório porque não conseguia receber do governo pela pavimentação de
estrada que executara nos anos 1980.
A Justiça do Maranhão suspendeu o pagamento do
precatório.
O governo do Maranhão diz em nota que “não houve
favorecimento no pagamento da ação de indenização proposta pela Constran, há
mais de 25 anos”. “Foi realizado acordo judicial, com acompanhamento do Ministério
Público, para negociação dessa ação, que trouxe uma economia de R$ 28,9 milhões
aos cofres públicos”, disse, em agosto.
A empreiteira nega veementemente que tenha rompido
a ordem cronológica.
“O acordo foi realizado seguindo todos os trâmites
legais e respeitou todos os prazos estabelecidos pela lei. Além disso, a
empresa aceitou receber o valor em 24 parcelas sem nenhuma correção ou juros. A
Constran repudia qualquer tentativa de relacioná-la ao pagamento de propinas”,
disse, à época.
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