Por Edson
Vidigal, advogado, foi Presidente do Superior Tribunal de Justiça e do
Conselho da Justiça Federal.
Incomodada com o que lhe diziam sobre a filha,
ainda adolescente, afamada namoradeira, Dona Gracy pediu ajuda ao marido e
sabes o que ele, o Doutor Eurípedes, o pai, aconselhou? “Deixa a Genuzinha
desfrutar dos filhos dos outros...”
Semanas depois de começar a frequentar a melhor
escola particular da época, o Colégio das Irmãs, a moça queixou-se ao pai. O
colégio era bom, sim, mas ela achava que se perdia muito tempo com rezas
desnecessárias. Foi para a escola pública.
O doutor Eurípedes de Aguiar, um médico de largo
conceito e admiração popular, tanto que seria eleito Governador do Estado do
Piauí (1916-1920), estudara na França. Daí o seu olhar das coisas mais à frente
naquele começo de século.
A primeira mulher a andar a cavalo pelas ruas de
paralelepípedos de Teresina e também a primeira a dirigir automóvel, sempre
apoiada pelo pai, aprendeu cedo a não ligar aos falatórios.
Apaixonou-se e casou com um homem culto e
empresário bem sucedido, António Moraes Correa, de Parnaíba. Piloto de avião,
artista plástico e fotografo nas horas vagas. Foram morar na ilha de São Luís
do Maranhão. Num tempo em que as areias do mar pareciam inacessíveis
construíram na praia do Olho D’agua uma casa sem ostentações arquitetônicas.
No quintal cortado por um arroio de água limpa e
gelada, cajueiros em profusão e açaís ganhando alturas, havia espaços para João
do Vale, sim, o do Carcará, assessorado por seu compadre e secretário
particular Esmagado, atacante do Sampaio Correa, tirar som das panelas enquanto
não servia seus apreciados cozidões.
Genú foi a primeira mulher a exercer de fato o
jornalismo no Maranhão. Digo de fato porque jornalista naquele tempo, desde que
tivesse carteira do sindicato e registro no Delegacia do Trabalho, não
precisava provar mais nada para não pagar imposto de renda e voar nos aviões da
carreira com 50% de desconto. Genú foi a primeira mulher Presidente de
Sindicato de Jornalistas no Maranhão.
Quando fui preso logo após o golpe de 1964, a
primeira visita que recebi no quartel do Exército, foi da Genú. Diferente de
outras visitas que me levaram cigarros, Genú se interessou em me ajudar.
A casa de Genu e António Moraes no Olho D’agua não
era só festa nos fins de semana. Funcionou também como bastião de resistência
ao regime militar. Lá se aleitou o MDB velho de guerra sob as inspirações de
Renato Archer e Domingos Freitas Diniz.
Na primeira eleição municipal após o golpe militar,
Genu foi a Vereadora mais votada. Luiz Adolfo Pinheiro, então editor da Veja,
foi mandado pelo Mino Carta para uma matéria sobre José Sarney, o novo de
então. O que ela disse o Mino publicou - “São Luís tem crescido muito, mas em
termos de palafitas”. Com direito a foto do Geraldinho Guimarães.
O MDB, na Oposição e sem dinheiro, precisava
apresentar candidatos a todos os cargos. Não havia quadros. Quem era doido de
ser candidato pelo MDB? Archer já estava cassado. Genu emprestou seu nome à
chapa de Deputados Federais e António não só emprestou o avião para a campanha
como aceitou ser o candidato a Senador.
Na sala de visitas havia um enorme mural com
autógrafos de algumas pessoas que indo ao Maranhão visitaram Genú e António. O
autografo de Juscelino Kubistchek se destacava parecendo sempre o mais
retocado.
O que JK foi fazer no Maranhão? Os militares iam
mandar prende-lo quando Renato Archer teve a ideia de leva-lo para São Luís.
Depois de receber homenagem no Clube Jaguarema, o Presidente foi para a casa de
Genú e António, de onde saiu na hora que quis. Sem ter sido preso.
Maria Genovefa de Aguiar Moraes Correa morreu
ontem, quarta feira, em Teresina. De complicações cardíacas. Aos 87 anos.
Uma grande mulher! Que Deus a tenha.