Por Edson
Vidigal, advogado, ex-vereador de Caxias, ex-deputado federal, professor e
ministro aposentado do STJ
Se com quem contavas para o teu sonho, sumiu. Se
com quem contavas para a tua amizade, decepcionou. Se por quem esperavas não
chegou. Se a tua confiança se estiolou no entusiasmo com que, inocentemente,
comprastes a mentira...
Se te exauriram a ponto de estares quase perdendo o
que ainda te resta de boa fé, de esperanças, de otimismo, de boa vontade,
corres a te encontrar com a solidão e trata logo de ir te entendendo com ela.
A solidão não é só um refugio para a purgação, esse
intermezzo entre o que restou até aqui e o amanhã ou o logo mais e o inesperado
trazendo uma surpresa ou surpreendentemente o menos desagradável.
A solidão é um espaço raro para quem lhe sabe o
valor. Não é um tempo que se pega emprestado de alguém e depois devolve. Quando
devolve.
Podes estar num elevador superlotado com pessoas
conhecidas, e ainda assim estares só. A solidão independe de circundantes.
A solidão é a benção de um tempo sublime que deves
aproveitar como se te fechasses para um balanço, é a tua contabilidade sob
sigilo na qual irás até te surpreender quando concluíres que tivestes algum
lucro qualificado em meio a tantas perdas irreparáveis.
Ora, quem não anda atrás da formula da boa forma
física e da longevidade mentalmente sadia? Há quem prescreva o aprendizado à
boa convivência com os próprios traumas, a identificar os fatores de estresse e
logo evita-los, a ter alimentação sadia e exercícios físicos.
Nenhuma regra de boa forma funciona se a pessoa não
amar. E amar não é um aprendizado definitivo, concluso como algo pronto e
acabado. Amar é uma conquista de cada dia. É um sentimento que não se foca
unicamente no ser amado. Precisa espraiar-se. Estender-se. Ampliar-se. Alcançar
gentes, bichos, plantas, matas, aguas, espaços. A vida.
Gosto muito daquele acerto de contas entre o poeta
e o magnata nos versos do Vinicius:
– Sabe você, o que é o amor? Não sabe, eu
sei. Você já chorou de dor? Pois eu chorei. Sabe andar de madrugada tendo a
amada pela mão? Sabe gostar, qual sabe nada... Você pode ser ladrão quanto
quiser, mas não rouba o coração de uma mulher. Você não tem alegria, nunca teve
uma paixão...
Quantos não estão por aí endinheirados e poderosos,
se achando os caras, esnobando as musas e os poetas, mas sem perceberem que
melhor fariam se, em paz com a solidão, mergulhassem em acertos de contas com
as suas consciências.
Instado por essas coisas que tirando as alegrias
dos homens acabam por torna-los inúteis, espertalhões ou otários, Rubem Braga
receitou - a poesia é necessária. Para essas doenças do mundo o remédio ainda é
o mesmo. Poesia. Conta Athenas os teus poetas! Conta.
É a solidão que inspira os poetas, convoca as boas
novas das ideias novas, reajusta os sons, organiza as partituras, faz o acerto
dos ensaios, encoraja a voz solta e independente nas estradas, belisca as almas
chamando-as à humildade.
A solidão liberta. Estando a sós, longe bem longe
desse estado de coisas e suas pessoas execráveis podemos pensar livres das más
influencias externas e livremente empreendermos a jornada.
Nada de perder tempo com falsas utopias ou essas
ilusões baratas que formigam por essas ladeiras e alguns sobrados.
Afinal, antes sós na união da nossa lealdade do
que, na estrada, mal acompanhados.
Rei deposto, Rei morto. É a regra. Quão já foi poderoso e adulado esse ex-tudo... Agora se apega à solidão, porque quem dizia ser seu amigo, era amigo mesmo do poder. Falsos que nem puta de BR.