O pessoal em farda
de gala até que destoava um tanto dos paisanos naquela maioria de políticos.
Para estarem
tantos ali se acotovelando no salão logo exíguo do apartamento funcional de um
deputado tinham razões transcendentais. Ninguém estava ali apenas pelo convite.
Entre os convivas
poucos sabiam sobre os noivos, exceto que a moça era a filha do deputado e que
o deputado era um dos manobristas da Comissão do Orçamento.
Muito poderosos,
eram verdadeiros craques no manejo de emendas, na definição de obras, na
formatação do projeto de Orçamento que, ao final, entregavam com laço de fita
para a aprovação geral.
O que pessoal em
farda de gala fazia ali? Como todos do Judiciário e do Executivo, quem era
doido de não acorrer a um chamado daquele ou de inventar uma desculpa qualquer
e não ir?
A força do
parlamento não emana mais na tribuna. Se a reafirma é na Comissão Parlamentar
de Inquérito e na Comissão de Orçamento.
Coincidentemente,
sete deles eram de baixa estatura, não medindo mais que um metro e sessenta e
daí o apelido carimbado pela imprensa de “anões do orçamento”.
Na CPI dos Anões
do Orçamento foram investigados 35 representantes do Povo, mas só meia dúzia
restou punida com a cassação do mandato. As contas dos desvios esbarram
em 8 bilhões de reais em valores da época.
Se bem me lembro,
foi Ivan Lessa quem disse que a memória do brasileiro se renova de 15 em 15
anos, apagando tudo o que havia registrado antes.
Talvez, por isso,
ninguém mais tenha se interessado pelos malfeitos daqueles anões.
Anos depois ouvi
de um politico serio chamado Odacir Klein que aquelas peripécias na Câmara e no
Senado não haviam acabado. Estava tudo como antes.
Passa, passa
gavião e todo mundo passa, passaram-se os anões do Orçamento e já chegou ao
passado o maior de todos os escândalos, o famoso mensalão.
A novidade é que
alguns foram para a cadeia. O estranho é que não se sabe sobre os que receberam
as propinas na Câmara e no Senado para formarem na bancada do apoio maciço aos
projetos do Executivo.
Não há subornador
sem subornado. Nem corruptor sem corrompido.
E quando o País,
qual enorme transatlântico avariado e sob diletante comando, tendo que suportar
as tempestades da economia em queda, do dólar em alta, da divida pública maior
que as disponibilidades da arrecadação, da desconfiança das classes produtoras,
do achatamento salarial dos servidores, mal saindo de uma campanha em que a
mentira a serviço da trapaça afirma ter ganhado as eleições, eis que, não muito
de repente, vem a Justiça Federal e o Ministério Público Federal, acionando da
lei a Policia Federal, deflagra essa Operação Lava Jato – a cada etapa mais nos
surpreendendo ante a constatação de tanta safadeza, de tanta audácia no
dilapidar do dinheiro público.
Por favor, não
tenho acessos a informações privilegiadas. Mas o que se ouve por aí que depois
da Petrobrás, cujo rombo já alcançaria mais de 10 bilhões de reais, a onda
tsunami da moralidade irá com força às minas e energias. Depois aos fundos de
pensão. Depois, depois.
Nunca antes na
história deste País a soma dos quadrados do cateto foi tão igual ao quadrado da
hipotenusa.
* Edson
Vidigal, advogado, foi Presidente do Superior Tribunal de Justiça e do
Conselho da Justiça Federal.
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