Por Edson Vidigal, advogado e ex-ministro do STJ
E tudo se passou tão rápido. No domingo, a chegada
triunfal. E chegou marcando a diferença. Os poderosos preferem cavalos de
força, bonitos, de raça rara. Ele, não. Preferiu entrar na cidade montado num
jumento.
E por onde passou adentrando a cidade o Povo o
aclamou acenando com ramos de folhas de arvores. Foi a glória! Vivas ao Rei.
Havia uma leitura politica.
A dominação romana sobre a antiga Judeia chegara a
escalas insuportáveis. O Povo tinha que se submeter ao direito estatal romano e
às leis que os chefes religiosos interpretavam sempre de forma antiquada sem
considerações com as realidades
Os chefes locais colaboravam com o opressor. Na
recíproca, recebiam cobertura. No fundo, eram aliados. Os interesses pela
manutenção do status quo coincidiam.
Aquele homem na casa dos 30 anos, de ar sereno,
olhar firme, em nada pedante, sempre humilde, - que embora sendo o Filho de
Deus não agia como se fosse o Pai - aquele homem que chegara domingo montado
num jumento causando um desassossego entre as elites donas do templo e aclamado
pelo Povo como o seu novo Rei era um subversivo. Tinha que ser eliminado.
Para os zelotas do partido nacionalista, não.
O jovem contestador era de fato, em pessoa, a
verdade e a luz que chegava para apagar as trevas daquela dominação e assegurar
um novo tempo com paz, independência e prosperidade.
Os nacionalistas não tinham duvida. Aquele homem
humilde, único sobrevivente do morticínio patrocinado por Herodes há pouco mais
de três décadas contra todos os recém - nascidos porque entre eles poderia
estar o Messias anunciado ao mundo pelos Profetas encarnava o libertador.
Como sempre, os donos do templo com medo de
perderem o poder urdiram a intriga.
Levado a julgamento, o Procurador regional Pôncio
Pilatos concluiu que nenhuma lei romana fora violada. Na intenção de poupa-lo
ainda tentou anistia-lo num plebiscito de voto aberto à base do grito. Não deu
certo. Entre Cristo e Barrabás, o povão atiçado pelas elites incomodadas
preferiu Barrabás.
E assim devolvido à jurisdição local, o homem que
no domingo fora aclamado pelo Povo como o novo Rei de Israel foi torturado e
morto na sexta feira.
Foi apóstolo da paz, do amor e da concórdia.
"Amai-vos uns aos outros... Quando vos insultarem e vos perseguirem pela
causa da justiça, lançando contra vós todo tipo de calunia, alegrai-vos e
exultai porque assim também perseguiram os profetas que existiram antes de
vós... Vós sois o sal da terra, mas se esse sal se desvirtuar com que então se
salgará? Vós sois a luz do mundo... Concilia-te sem demora com o teu adversário
enquanto estás em caminho com ele; para não suceda que esse adversário te
entregue ao Juiz e o Juiz te entregue ao Ministro e te encerrem na prisão...
Ora, isso já naquele tempo.
Conciliação não é submissão. Conciliação é
compreensão. Conciliação é anistia ampla e recíproca. Conciliação é optar pela
paz e começar tudo de novo sempre ao lado da verdade.
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