Da Coluna do Sarney
Meu
companheiro do jornal O
Imparcial e meu professor na Faculdade de Direito, Fernando
Perdigão, grande talento e advogado, disse-me um dia que envelhecer era chegar
ao cemitério, percorrer as alamedas, ler as lápides e verificar que quase todos
os nomes que ali repousam foram contemporâneos, amigos ou conhecidos na
paisagem da cidade.
Jorge
Amado disse-me que, ao encontrar-se com Pablo Neruda, futuro Prêmio Nobel de
Literatura, seu amigo do tempo de exílio, começou a perguntar por amigos da
vida inteira e ouviu como resposta: “Jorge, não me perguntes por ninguém. Todos
já morreram.”
Este
é um dos desgostos de envelhecer: o sofrimento da perda dos amigos, pesando
mais aqueles que nos foram mais próximos, de maior convivência. E eu disse, num
dos 122 livros que escrevi, que “a palavra felicidade tem como sinônimo a
infância”, quando começam as grandes amizades, que são a melhor coisa da vida.
Dentro dela estão o amor, a ternura, a estima, a solidariedade, o gosto da
convivência, o perdão e a fé. Daí o provérbio universal “quem tem um amigo tem
duas almas”.
Estou
na fase dolorosa e sofrida de constantemente sentir escorrerem lágrimas e
chorar com a garganta pela perda de velhos amigos.
Foi
com a alma em frangalhos que acompanhei a morte de Kleber Moreira. Só um ano a
mais me separava dele, mas me amarravam a irmandade da alma desde os tempos do
ginasial, passando pela política estudantil, pelas rusgas afetuosas que só
faziam consolidar esse relacionamento.
Gostava
de contar histórias e conhecia como ninguém as pessoas e a vida cotidiana do
Maranhão. Ultimamente vivíamos horas e horas revisando histórias
passadas.
As
marcas maiores de sua personalidade eram o seu caráter, a sua correção, a sua
franqueza, a sua obsessão pela precisão dos detalhes e pela integridade dos
episódios.
Culto,
estudioso, detalhista, conhecia como ninguém a ciência do direito, a
jurisprudência e a missão do advogado. Não conhecia o lado da exaltação nem o
da chicana. Seguia os ensinamentos de Rui Barbosa sobre a conduta profissional:
“Não fazer da banca balcão ou da ciência mercatura. Não ser baixo com os
grandes, nem arrogante com os miseráveis.” Ganhou prestígio, respeito de sua
classe, reverência da sociedade e era considerado um dos grandes advogados do
Brasil.
Junto
em minha dor a da perda de tantos
outros amigos, Milson Coutinho, grande historiador, extraordinária
figura humana; Sálvio Dino, companheiro de tantas lutas; José Maria Cabral
Marques, um dos maiores educadores do Maranhão, meu colaborador e construtor da
equipe do Maranhão Novo; e Waldemiro Viana, intelectual consagrado, confrade
ilustre e filho do grande poeta Fernando Viana.
A
todas as famílias a minha solidariedade neste momento de tristeza.
E
que Kleber Moreira leve para a eternidade a certeza de minha eterna saudade e
da falta que ele vai fazer com sua sabedoria, seus conselhos e seus exemplos.
Com tantos talentos perdidos o Maranhão está menor, deixando no mármore da
imortalidade aqueles que constroem nossa glória.
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