
O
olhar do menino parece expelir ódio. Mochila de pano pendurada no pescoço, o
que ele carrega? Se tem o braço pronto para o arremesso, qual a sua arma?
Pedra.
É
assim com pedradas que o garoto palestino reage às ofensivas contra o seu
território pelo governo de Tel Aviv. A imagem da foto na parede é do fotograma
de um filme.
A
pedra como arma de defesa e de ataque foi inscrita da história, ao que sabe,
não por algum palestino, mas por um judeu magrelo, o Rei Davi na sua célebre
luta contra Golias, um galalau de mais de dois metros de altura e pouco mais de
uns duzentos quilos de peso.
Desde
então ficou claro que só a inteligência pode vencer a força bruta.
Depois
o instinto defensivo ao mesmo tempo agressivo do homem transmudou a pedra em
algo tão pesado quanto cortante. Daí para o machado, a foice, a faca, foi
um esmerilar nos avanços ditos civilizatórios.
Dificultada
por lei a compra de armas de fogo, revólveres, pistolas, espingardas e
quejandos, restando apenas para o Estado legalmente e para os bandidos –
ninguém sabe como – a posse de armamentos até mais sofisticados, não deve ter
ocorrido a ninguém, ou só a poucos, depois daquele plebiscito, a volta triunfal
da faca aos cenários do crime.
Para
os meliantes de carreira solo ou mesmo para os que atuam em dupla ficou mais
fácil. Ora, em qual casa não há uma faca para cortar o que for? Na mão do
chamado menor infrator é uma arma capaz de estragos tão mortais quanto os de
uma bala.
Lampião
e seus cabras usavam a faca para sangrar suas vítimas no gogo quando a luta era
corporal. Só gastava bala em tiroteios com as volantes que o Governo do
Marechal Hermes mandava persegui-los. Cangaceiros atirando a esmo,
gastando bala ao chegarem aos povoados, só no cinema. Atraiam para perto para
enfiarem a faca. Como ainda fazem hoje alguns políticos, notadamente no
Nordeste.
A faca
anda solta por aí e não é de hoje. Nos pequenos assaltos que podem resultar em
morte como foi o caso do doutor Gold, na Lagoa, no Rio de Janeiro. E até na
música popular – “gritou o Teixeira / quem não tem peixeira / briga no
pé...” (Jackson do Pandeiro).
A onda
do momento é considerar crime – porte ilegal de arma - quem for pego na rua com
uma faca. É a velha mania dos políticos sem imaginação criadora de quererem
resolver tudo fazendo uma lei.
A OAB,
pasmem, pediu a criminalização do uso de facas, canivetes e facões. Aquela
foice parceira do martelo, orgulho dos camaradas comunistas, corre sério risco
de voltar para a clandestinidade podendo o desfraldar da bandeira do partido
ser enquadrado como apologia ao crime.
Então,
vamos pensar juntos. Os pescadores, os magarefes, os vendedores de água de coco
ou de laranjas descascadas, enfim, um sem número de trabalhadores que precisam
de algum instrumento cortante, gente humilde nas trevas da ignorância por
inépcia do Estado, que lhes sonega instrução escolar, quantos vão ter que andar
com porte de arma só porque utilizam algo cortante como ferramenta de trabalho?
Ah,
mas o cidadão precisa também se armar de alguma maneira, dizem uns. Fulano anda
com uma faca, beltrano com um taco de beisebol, sicrano com uma barra de ferro
imitando uma bengala ou um cabo de vassoura.
Uns
mais influentes podem comprar de um algum muambeiro uma pistola de descarga
elétrica como aquela da Polícia de Londres usada para matar aquele rapaz
brasileiro, o Charles.
Muita
gente fina vai andar com spray de pimenta, o popular refresco em se tratando
dos olhos dos outros. E lembrando o garoto da Faixa de Gaza celebrizado no
fotograma da parede na loja de molduras, não ficará pedra sobre pedra.
O
Brasil, gente, segue sendo o País onde mais se paga imposto no mundo. É
dinheiro muito. Tudo que ganhamos trabalhando, desde o primeiro dia deste ano
até o último dia de maio último, foi só para pagar impostos para o Governo
gastar, gastar, gastar. Impunemente.
A faca
não é problema, gente. Ainda hoje é tipificada como contravenção penal, se
comprovada a intenção do seu uso criminoso.
Temos
questões mais sérias e inadiáveis para legislar.
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