Se alguém te fala sobre alergia a dinheiro, não
levas na troça porque pode ser verdade.
Há quem não saiba que, afora o dinheiro sujo,
aquele obtido a partir de atividades ilegais que nem essas que tem dominado o
noticiário e causado essa ira popular contra parlamentares e governantes
brasileiros, o dinheiro de origem legal, obtido em recompensa de trabalho
honesto, pode conter bactérias tão nefastas ao ponto de adoecer quem o
embolsar.
Até agora não se sabe de nenhum político que tenha
que sido diagnosticado com intoxicação alimentar grave causada por estafilococo
encontrável em cédulas ou moedas.
Eu também não sabia que o nosso dinheiro, e no caso
tanto o sujo oriundo do tráfico, da corrupção nos governos e nos parlamentos,
do contrabando de armas, das extorsões ou fraudes fiscais, quanto o obtido no
exercício transparente de profissão legal e regulamentada, tanto um quanto o
outro, ambos do mesmo fabricante, no caso a Casa da Moeda, o dinheiro que a
gente considera limpo também é sujo, embora no outro sentido, eis que dá carona
a 50 microrganismos por centímetro quadrado.
O perigo mora mais perto de quem gosta tanto de
dinheiro que ao tê-lo em mãos não resiste a alisá-lo esfregando-o com uma forma
especial de prazer quase beirando a libidinagem.
Quando começou no Brasil essa conversa de lavagem
de dinheiro, a Luísa, filha do Gilson, àquela altura uma guria que gostava
muito de lidar com a lógica, ao ser instada sobre a novidade, não se fez de
rogada. Foi à pia da lavanderia com uma cédula de dez reais e a lavou
literalmente. Com agua e sabão.
Em meio aos estouros de tantos propinodutos e às
certezas de outros que ainda estão prestes a estourar, e quando se somam os
roubos só se fala em bilhão para cá e bilhão para lá, mais em dólares do que em
reais, pois não é que o Banco Central do Brasil está sem dinheiro?
Muito das reservas em dólares foram jogados em
operações comuns nas tentativas de impor freios às escaladas do dólar. Por
outro lado, o Governo cortou 66% da verba para investimentos da Casa da Moeda,
que fabrica o dinheiro, provocando, assim, a falta de cédulas de valores mais
populares e de moedas na circulação.
De algum modo, a falta do chamado papel moeda em
valores maiores e também das moedas propriamente ditas se harmoniza com o
crescimento do desemprego. Como canta Martinho da Vila, dinheiro, para que
dinheiro? (...)
O desemprego marcha em passos largos para chegar
aos dois dígitos, ou seja, ao mínimo de 10%, até o fim deste ano. E aí
camarada, o que pode acontecer? O americano tem por habito criar um peru pelo
ano inteiro para come-lo entre a família no Dia de Ação de Graças. E você aí,
vai poder mandar para a panela uma galinha no Dia de Natal?
Enquanto isso ou entrementes, como nas histórias em
quadrinhos, seguem as mazelas.
Para o canto ao qual olhares, reparando bem verás
mazelas. A reforma política não é para melhorar a política, mas eleitoral em
favor dos mesmos. O Governo não governa porque a Presidente segue subindo em
rejeição popular, levando, por conseguinte, o País aos piores níveis de
desconfiança dos investidores internacionais. E tal.
No Maranhão, ainda toca no rádio João do Vale
enaltecendo as coisas boas da terra – “Ainda ouço até o jornaleiro a gritar /
Imparcial, Diário, olha o Globo / Jornal do Povo descobriu outro roubo...” Era
o jornal do Neiva Moreira, - contra a opressão e a injustiça social - sempre
inspirador na Oposição, incendiado nas primeiras horas do golpe militar.
Como a esperança ainda não morreu, resta-nos ainda
o Jornal Pequeno.
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