Por Edson
Vidigal, advogado e ex-presidente do Superior Tribunal de Justiça (STJ).
O mais grave na maturidade, e pior ainda na
velhice, não é a perda das capacidades oftálmicas ou auditivas, que vão se
reduzindo de forma inexorável, ou da memória.
O mais grave a partir de certa idade, digamos
assim chegando à maturidade até alcançar a velhice, é a perda da noção do
ridículo. Não há nada mais ridículo do que um velho arrogante e ridículo.
Mas eu quero é falar bem dos velhos, melhor
dizendo dos mais vividos, louvando-lhes a sabedoria, a prudência, essas coisas
resultantes da experiência que se transmudam em grandes lições de vida.
Eu pensava nisso quando o Luiz Raimundo, meu
quase irmão de uma vida inteira, que manda essa historinha, a qual para mim, e
com certeza para você aí também, diz tudo no tema.
Uma idosa senhora levou seu velho vira latas
para um safári na África. Um dia, caçando borboletas, o velho cão, de repente,
se deu conta de que se perdera.
Vagando a esmo, em busca do caminho de volta,
remoendo aquele verso de José Américo, no caminho da volta ninguém se perde,
ninguém se perde, o velho cão percebeu que um jovem leopardo o seguia.
Vendo uns ossos espalhados, restos da mesa
farta de algum outro inimigo, o velho cão chegou mais perto, um olho nos ossos
e outro olho no jovem predador que se aproximava e passou a fazer de conta que
os roia.
Ao notar que o jovem predador estava na
regressiva para lhe dar o bote, o velho cão calmamente, ajeitando aquela ossada
com odor de véspera, falou alto e compassado, palavra por palavra que nem um
rei gago lendo um discurso. Oh cara, este leopardo estava delicioso. Será que
há outros por aí?
Ouvindo isso, o jovem leopardo, com um
arrepio de terror, sustou o seu ataque e saiu arrancando a cem por hora como
quem busca asas para se esconder nas nuvens. Carrajo! Exclamou num alivio. Essa
foi por pouco. O velho vira lata quase me pega.
Aqui entra em cena um macaco. Historia de leão
que não tem macaco fica insossa. E o que faz o nosso distante ancestral? Esse
jovem leopardo é um perigo e eu preciso da proteção dele. Engendrou.
O macaco contou então ao jovem predador que
aquilo tinha sido uma inteligente jogada do velho cão. Fulo de raiva, o
leopardo como se brincasse de surrão sai com o macaco nos ombros atrás do velho
cão. Canalha, vais me pagar. Resmungou raivoso.
Novamente o velho cão surpreende. Ao ver os
dois correndo, leopardo e macaco, mancomunados, querendo agarrá-lo, o velho cão
fica na sua, de costas para o perigo, parado.
E só quando os dois estão bem perto, o velho
cão novamente quase soletrando as palavras, que nem um rei gago, indaga num tom
firme. E cadê o filho da puta daquele macaco? Estou quase morrendo de fome! Ele
me disse que ia trazer outro leopardo para eu comer e não chega nunca!
Moral da história. Completa o Luiz Raimundo.
Não subestime um cachorro velho. Idade e habilidade são mais que juventude e
intriga. Sabedoria não vem apenas com idade. Vem com a experiência. Seja
astuto. Mas nunca ridículo.
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