Por Chico Leitoa
Conheci
seu João como todo mundo que vivia por aqui, desde o final da década de 60.
Viemos da Zona rural de Timon e meus pais foram desenvolver atividades
comerciais. Minha mãe, vender numa banca no mercado central e meu pai numa
quitanda, num ponto comercial do Sr. Laurentino Machado, na Avenida Maranhão (à
época de uma só pista) entre as ruas Lisandro Nogueira e Desembargador Freitas.
No quarteirão seguinte, ou seja, entre as ruas Desembargador Freitas e Benjamim
Constant, Rua João Cabral e Avenida Maranhão era o prédio da antiga fiação.
Começamos
a ouvir falar que o prédio teria sido vendido para que fosse funcionar o
Armazém Paraíba. As imagens ficaram em minha mente, da revitalização e a
ocupação daquele prédio antigo e grandioso, onde, por décadas e até hoje veio a
funciona a matriz e onde Seu João tinha seu principal Escritório. O tempo
passou e nossa relação era apenas casual.
A
partir de 1992, comecei a ganhar uma ‘certa’ popularidade, notadamente
aumentada pela disputa desigual pela Prefeitura de Timon. Nesse mesmo ano,
certa vez, eu caminhava na Rua do Sol, no centro de São Luis e seu Joāo
caminhava em sentido contrário. Ao passar por ele o cumprimentei, mas ele de
imediato não me reconheceu; nos afastamos de 5 a 10 metros e ele deu meia volta
e me chamou. Voltei e ele foi logo me perguntando: Você vai ganhar aquela
eleição de Timon sozinho? Falei com meio sorriso: não Seu João, é muita
gente... Ele sorriu, trocamos mais algumas palavras, nos despedimos e fomos
cada um para seu destino. Foi a primeira vez que falei pessoalmente com ele.
A
partir dali, e durante quase 30 anos tivemos uma relação saudável alimentada
por longas conversas em vários lugares, mas principalmente na matriz, muitas
das vezes marcadas por mim, e algumas por ele, sempre através de dona Ivonete.
Homem
antenado com o mundo, de uma curiosidade aguçada, de uma lucidez invejável além
de uma humildade admirável. Sempre me enchia de perguntas, principalmente sobre
a política do Maranhão e claro, a de Timon. Mas tratava também de assuntos
variados e interessantes. Sempre com muito respeito mútuo.
O
Prefeito Luciano tinha um projeto para implantação de um centro cultural a ser
executado no bairro parque Piauí II. A escolha do terreno recaiu sobre uma área
que pertencia a Seu João. Luciano então o procurou e foram juntos no local
desejado e no outro proposto pra fazer uma permuta. Proposta aceita, o centro
cultural começou a ser construído. Logo depois, em conversa com seu João, ele
foi logo falando: seu filho é um rapaz muito centrado viu ? Gostei demais dele,
confesso que ele é melhor que Você. Falei: isso muito me orgulha e fico feliz
do Senhor ter tido essa impressão dele.
No
decorrer da construção do Centro Cultural, a esposa do Seu João faleceu e num
gesto de gratidão, o Prefeito Luciano, sancionou uma lei apresentada pelo
Vereador Ivan do Saborear, que conferiu o nome Espaço Cultural Dona Socorro
Claudino. Com a obra praticamente pronta, o convidei e fomos juntos até o
local. Ficou muito contente ao percorrermos as instalações do teatro com
capacidade para 400 pessoas sentadas e um anexo para atividades culturais
variadas, tudo de um padrão adequado. Na volta entrou em nossa casa e ele fez
uma visita a dona Beta, ele sabia da sua doença e sempre perguntava sobre seu
estado de saúde.
A
partir daí, em todos nossos encontros tratamos da inauguração do Centro
Cultural. O Prefeito planeja fazer uma grande inauguração e Seu João pretendia
participar ativamente do evento, inclusive trazendo familiares da Paraíba.
No
final do ano, começamos a falar de data. Seu João perguntou se tava tudo
pronto. Falei que a obra física sim, mas faltavam os móveis, equipamentos,
iluminação e sonorização. De pronto, e antes de eu falar, ele perguntou, e a
lei de incentivo à cultura? Falei: está em vigor. Ele foi enfático com relação
à possibilidade do Grupo Claudino apoiar o projeto. A lei de incentivo à
cultura permite que empresas dêem apoio a projetos aprovados pelo Governo
Estadual e o valor seja deduzido no ICMS.
Numa
prova de apreço, seu João quando da sua última viagem à Europa, trouxe dois
chapéus e presenteou dona Beta. Um gesto característico das grandes amizades.
Nossa
última e agradável conversa, durou mais de uma hora, demora sempre provocada
por ele pois eu sempre abreviava o máximo, pois todos sabíamos das suas grandes
ocupações. No ensejo desta conversa, seu João estava animado como sempre e
trocamos algumas boas opiniões. Nos despedimos de pé, na presença de um
sobrinho seu, que aliás testemunhou alguns outros desses diálogos. Ao sair,
adentrou um grupo de jovens recém contratados que acho eu, iam receber as boas
vindas. Mais um ponto positivo daquele Homem que deixou um exemplo de vida.
Seu
João nos deixou seu grande legado, já retratado por muitos e de diversas
formas. A mim, restou relatar nossa convivência e a nossa fraterna amizade.
Chico Leitoa é
engenheiro, ex-deputado e ex-prefeito de Timon-MA
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