(o lixão). (visita da equipe FUNASA) |
Em 1994,
buscávamos solução para o problema do lixão localizado à margem da BR 316. Discutimos a questão com a equipe de governo
e com várias pessoas da comunidade. Daí, contratamos a maior autoridade do país
em resíduos sólidos, Dr. João Tinoco, que atuava em Viçosa, Minas Gerais. Um
Maranhense ilustre que dava palestra sobre o assunto em todo o Brasil e em vários
países do mundo. Ele passou uma semana em Timon, acompanhado do Engenheiro
Fernando Parente, seu colega de turma de engenharia em São Luís.
Depois
de todo o levantamento feito por ele, concebemos uma solução definitiva. A
construção de um aterro sanitário e uma usina de reciclagem e compostagem de
lixo.
(Entrada do complexo) (Vistoria de técnicos do Meio Ambiente com Pref. Chico Leitoa e sr. Odilon) |
Compramos
uma área de 103 ha. Entre a Cerâmica Livramento e o posto cinco estrelas que
vai desde a BR 316 até o rio Parnaíba, que pertencia ao Médico Pedro Augusto
Martins. Com o projeto debaixo do braço e com a ajuda do então Senador Magno
Bacelar e do então Deputado Federal Nan Sousa, conseguimos aprovar na Funasa,
parte do projeto, referente à Usina de Reciclagem, que ficou pronta no final de
96. Inaugurada em março de 97, já sob a administração de outro Prefeito, que
não teve a mesma visão de futuro. A usina funcionou por três meses, foi
abandonada e chegaram a atear fogo na sua estrutura, além do terreno ter sido doado
para a secretaria de segurança do Estado, COM LEI municipal, aprovada pela câmara,
para que fosse construído um presídio. A
mesma “LEI” autorizou e foi doado o restante do terreno, para particulares e
empresários. Quando fui eleito novamente, impedi parte de tal brutalidade que
seria implodir a usina e consegui junto à imobiliária rural, outro terreno,
onde veio a ser implantado o projeto.
Ainda
como Deputado Federal e já eleito prefeito, encontrei-me dentro de um
avião, com o então Ministro do Meio
Ambiente, o também Deputado Sarney Filho e fiz um apelo para que resolvêssemos
o problema, haja visto que já tínhamos a solução.
Poucos
dias depois veio a Timon, o Engenheiro Antônio Borsino, Consultor do Ministério
para definirmos a maneira de atacarmos o problema. Juntos, redefinimos o nosso
projeto de gerenciamento integrado de resíduos sólidos. Dados compilados,
dúvidas tiradas, inclusive com relação à recuperação da Usina, agora acrescida
de poço tubular, reservatório de água, galpão de triagem, ampliação do pátio de
compostagem e claro, a implantação do aterro sanitário, ai incluído a aquisição
de um trator de esteira D6 de marca Fiat, zero quilômetro, tudo isso por 500
mil reais, sendo que R$ 50 mil de contrapartida do município.
Obra
pronta, usina completamente recuperada, com tanque de recepção, esteira com os
classificadores de todo material reciclável e finalmente o moinho para
processar o lixo orgânico que após passar por um processo simples de aeração e
compostagem, exposto no pátio por um período de 90 a 100 dias, o composto
transforma-se em adubo orgânico, a serem utilizados na produção de alimentos
saudáveis. Como tem lixo todo dia, todo dia, a partir do terceiro mês teria
adubo orgânico. Os recicláveis separados na esteira (papel, plástico, vidro,
metais, etc.) passaram a ser trabalhados no galpão próprio. Todo esse processo
passou a ser operacionalizado pela cooperativa dos catadores de lixo, que
devidamente organizados e treinados, e num lugar apropriado, passaram a ter uma
atividade mais digna, enquanto algumas crianças identificadas no lixão foram
acolhidas no Peti, reforçado por projetos sociais eminentemente municipais.
Já no
final do mandato, recebemos a doação e montamos uma extrusora com o objetivo de
pelotizar o material plástico para agregar valor, e partirmos para produção de
cano, em princípio para esgoto. Já pensávamos também em começarmos a produzir
papel higiênico, a partir do papel reciclável, num processo simples, onde
seriam utilizados apenas uma prensa e um misturador. Na casa do Guri (que
acolhia meninos de rua), a partir do papel reciclado, os meninos e meninas em
estado de risco, ali atendidas, passaram a produzir belas encadernações.
Finalmente
o aterro sanitário, implantado com tecnologia moderna e contando com trator de
esteira para dar o devido tratamento (empastelamento), com os dutos para
decantação do xurume e expedição de gazes, que futuramente poderia ser
aproveitado até na produção de energia. Tudo isso reconhecido de forma
elogiosa, num relatório do Dr. Borsino quando do recebimento da obra, que
apurava também, denúncia de uma autoridade local, junto ao MMA, e que, por
maldade ou desconhecimento, confundiu o pátio de compostagem, anexado à usina,
com o aterro sanitário que ficava a 500 metros da mesma.
Com as
licenças ambientais de implantação e funcionamento, tudo passou a funcionar e o
lixão da margem da BR desapareceu. Além de vários aspetos positivos, Fomos
dados como exemplo pela Infraero em evento que tratava da segurança do espaço aéreo,
pela solução encontrada e da eficiência das medidas adotadas no tratamento dos
resíduos sólidos, claro no que diz respeito à presença de urubus, que põem em
risco as aeronaves.
Quantas
escolas públicas e privadas de ensino fundamental e médio e até da Universidade
Federal do Piauí, fizeram visitas de estudos àquele complexo!... Algumas vezes
acompanhei com muito orgulho aquelas visitas. Muitos representantes de outros
municípios, inclusive de outros estados, também vieram olhar o seu
funcionamento.
Deixamos
um convênio assinado com a Funasa, de um programa denominado saneamento
ambiental, acessado pelo então Deputado Luciano Leitoa, cujos recursos no valor
de R$ 600.000,00, só foram liberados na gestão seguinte (em 2005), para
aquisição de equipamentos (caminhões coletores, trator de pneus etc.) que se
juntariam ao único caminhão compactador adquirido, recebido no último dia, do
nosso primeiro mandato. Tudo no sentido de garantir o funcionamento pleno do
complexo, buscando sua sustentabilidade no futuro.
Tudo
isso, porém, foi por água abaixo, a usina novamente abandonada, roubaram o
trator e o aterro virou lixão.
Vale
dizer que o aterro foi projetado para funcionar por 60 anos, com o
remanejamento na metade do período. A usina, por tempo indeterminado, com a
evolução do passo seguinte que seria a coleta seletiva, nos moldes de Curitiba,
onde tive acompanhando aquele sistema exemplar.
(Dona Beta entregando cestas básicas) |
Ai
estaria concluído o chamado gerenciamento integrado de resíduos sólidos, e
garantida finalmente a sustentabilidade do sistema.
Lamentavelmente,
o que poderia ser um exemplo para saúde pública e para a economia do município,
gerando muitas oportunidades, tanto na cooperativa dos catadores, na
reciclagem, como nas hortas comunitárias, que poderiam compor um cinturão verde
de produção de alimentos, além das indiretas, e passou a ser um mau exemplo de
desperdício de um bem público importantíssimo. Imagem triste de uma montanha de
lixo a céu aberto, aterro submerso e usina completamente comprometida.
abandonada, em duas oportunidades. Como consequência imediata, os catadores que
haviam passado a trabalhar no galpão de triagem e no pátio de compostagem,
organizados em cooperativa, uniformizados e com direito a alimentação, voltaram
a competir com os urubus no lixão.
Quando o
Prefeito Luciano assumiu em janeiro de 2013, a situação era caótica e o mesmo
teve que se virar pra conseguir um outro lugar para destinar o lixo.
No local
do lixão, e em área adjacentes que foram desapropriadas, o Prefeito teve que
investir mais de 6 milhões de reais com
desapropriações e o alto custo para retirada de milhares de carradas de
resíduos acumulado e colocação de enzimas para que fosse ali implantado, o que
hoje é um moderno Polo Empresarial. Deu-se um destino nobre a uma área que
havia sido intencionalmente degradada.
Num rápido
exercício de memória, podemos imaginar como seria hoje, todo esse conjunto funcionando,
claro, com a constante manutenção e modernização?... Estaríamos passando um bom
exemplo para o país. Quando o mundo inteiro se volta para as questões que
interferem no meio ambiente.
Só pra
se ter uma ideia, estudos ambientais recentes apontam, que em consequência do
não tratamento adequado dos resíduos sólidos, em 2025 a quantidade de plástico
nos oceano será maior do que a quantidade de seres vivos.
Lamentavelmente
os insensatos viram as costas, e se recusam a dar continuidade a uma ação de
governo tão importante!
(Chico
Leitoa é engenheiro e ex-prefeito de Timon-MA)
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