Por Edson Vidigal
No
calendário que rola tem sido raro o dia sem a notícia de um assassinato de uma
mulher no Brasil.
A lei
penal já foi modificada criando uma nova definição para o assassinato de uma
mulher.
Agora
não há só o homicídio. Se o crime reflete o sentimento de ódio traduzindo
repulsa ao gênero feminino, a tipificação penal é feminicídio.
Feminicídio
não é só homicídio qualificado. É também crime hediondo para o qual nunca
haverá indulto, perdão ou anistia.
A pena
para o crime de feminicídio pode ser aumentada em 1/3 (um terço) até a metade
caso se configure alguma agravante como, por exemplo, durante a gestação ou nos
três meses posteriores ao parto; contra pessoa menor de 14 (catorze) anos,
maior de 60 (sessenta) ou com deficiência; na presença de descendente ou
ascendente da vítima.
Estão
matando mulher todo dia e a sociedade na parte mais esclarecida, bem informada,
capaz de exercer alguma influência formando opinião, parece alheia, omissa.
A
cumplicidade por omissão se acobertou por muito tempo sob aquela sumula, ainda
não explicitamente revogada, segundo a qual em briga de pedra garrafa não se
mete.
Súmula
combinada e absorvendo força daquela outra - em briga de homem e mulher ninguém
mete a colher.
Como naquele
samba canção do Herivelto, tudo tinha que ficar mesmo entre quatro paredes.
É do
antanho mais antanho o preconceito contra as mulheres.
Mateus
e Lucas registram em suas reportagens o quanto Cristo foi estranhado por
acolher em sua campanha a companhia das mulheres. Não eram poucas.
Tantas
mulheres, embora mais se fale, ainda hoje, de Madalena com quem teria se casado
e também daquela outra, que Ele salvou da morte por apedrejamento, acusada de
adultério, fato que ensejou um dos grandes motes da advocacia de defesa - quem
nunca cometeu um erro, ou ilícito, que atire a primeira pedra!
Mas
hoje em dia, ó meu, são estarrecedores os números sobre o que o machismo, a
covarde valentia dos homens, estão a fazer contra a vida das mulheres.
As
barbaridades vêm acontecendo num crescendo. Na última década, entre 2003 a
2013, os registros indicam um salto de 3.937 para 4.762 assassinatos de
mulheres. Tudo na modalidade feminicídio.
Hoje
em dia, uma mulher é assassinada a cada duas horas por um homem que ou foi seu
marido, seu namorado, seu amante. Sempre alguém seu bem conhecido. As maiores
vitimas são negras e jovens entre 18 (dezoito) e 30 (trinta) anos de idade.
Nos
últimos 10 (dez) anos o feminicídio no Brasil aumentou 54% (cinquenta e quatro)
por cento. E no Maranhão também. Só tem aumentado e já está entre as mais altas
taxas do Brasil.
Ah,
mas no resto do mundo também se matam mulheres nessa modalidade. Sim, ó meu.
Não só as assassinam como as escravizam, as humilham, sonegam-lhes o direito à
dignidade humana. Mas o Brasil já é 5º País no mundo onde o machismo assassina
mais mulheres!
Mulher
não é objeto descartável. Mulher é ser humano, é gente, parelha do homem,
criação Divina.
Ah
quanto faz falta a poesia nas escolas. A inspiração de poetas como o Vinicius -
sabe você é o que é o amor? Não sabe, eu sei. (...)
E
agora dirigindo-se ao ladrão: Você não tem alegria, nunca teve uma paixão, mas
a minha poesia, quá, quá, você não rouba não...
(Edson
Vidigal, advogado, foi presidente do
Superior Tribunal de Justiça e do Conselho da Justiça Federal)
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