O escritor Firmino Freitas (site www.quatete.wordpress.com)
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Por Edmilson Sanches
Morreu
o escritor Firmino Antônio Freitas Soares. Foi em Caxias (MA), na manhã deste
17 de janeiro de 2019, cinco dias antes de Firmino completar 75 anos de idade. As informações dão conta de que
o grande poeta e prosador, por volta das 6h, teria tido um infarto fulminante.
Ele se encontrava em sua residência, na tradicional Rua Padre Gerosa, no centro
de Caxias, próximo à Igreja de São Benedito, vizinha à praça que leva o nome de
outra expressão literária caxiense -- Vespasiano Ramos.
Firmino
Freitas nasceu em Crateús (CE), em 22 de janeiro de 1944. Recém-nascido, mal
contando dois dias que viera à luz, o futuro juiz de Direito (aposentado),
escritor de talento e dedicado numismata chegou a Caxias com os pais. Firmino
saiu da “Princesa do Oeste” e do sertão cearense para entrar de corpo e alma na
“Princesa do Leste -- e do Sertão -- Maranhense”.
Talvez
impregnado pelo ambiente da Terra dos Poetas, o mais caxiense dos crateusenses
tornou-se respeitado homem do Direito e escritor de fato. Poesia e Prosa foram
campos em que esse lavrador de palavras semeou letras e colheu livros. Livros
de -- e à -- mão cheia, como se relacionará mais abaixo.
Firmino
Freitas era casado com Dª Maria das Graças (Gracinha), com quem teve os filhos
Firmino Freitas Filho (advogado, nascido em 03/02/1968), Rita (Ritinha) Freitas
(enfermeira e servidora pública; 11/03/1971) e Louise Freitas (28/08),
proprietária do Antiquário Louise Store, em Caxias. Deixa também netos.
Firmino
foi membro da Academia Caxiense de Letras (ACL), da qual se tornou sócio
honorário, após voluntariamente se desligar da entidade: ele alegou, entre
outras coisas, que era para “dar lugar aos mais jovens”. Ocupava a Cadeira nº
2, que tem como patrono o inesquecível Monsenhor Clóvis Bevilacqua Vidigal, com
quem em minha infância/adolescência desenvolvi projeto de um jornal cultural
para Caxias. Firmino foi sucedido, na ACL, pelo professor, escritor, servidor
público, gestor escolar e ativista cultural Carvalho Júnior.
Na Rua
Benedito Leite (antiga Rua do Cisco e hoje Rua Fauze Simão), onde também morei,
Firmino aprendeu os primeiros rudimentos das letras, ensinados por sua mãe e
irmãs. Depois foi estudar no Grupo Escolar João Lisboa (Rua Aarão Reis, próximo
à antiga estação Ferroviária, hoje sede do Instituto Histórico e Geográfico de
Caxias). Aí fez do 1º ao 5º ano do antigo Curso Primário. Foi nesse Grupo
Escolar onde Firmino escreveu seus primeiros poemas.
Ainda
em Caxias, no Colégio Diocesano São Luís de Gonzaga, no alto do histórico Morro
do Alecrim, Firmino fez o famoso Exame de Admissão ao Ginásio e,
sucessivamente, o Ginásio (que corresponde, atualmente, aos anos do 5º ao 9º do
Ensino Fundamental). NO Diocesano cursou ainda dois anos do Científico, correspondente,
hoje, aos 1º e 2º anos do Ensino Médio. Inteligente e com espírito de
liderança, foi eleito presidente do Grêmio Lítero e Recreativo São Luís de
Gonzaga e, anos depois, presidente da União Caxiense dos Estudantes
Secundários, que fica na Rua Dr. Berredo, próxima ao Palácio do Comércio e
Excelsior Hotel, no centro caxiense.
A veia
de homem das letras já se inflamava. Assim, com a participação dos colegas e
amigos Enoque Torres da Rocha Filho e José Carlos Santos, fundou e dirigiu “O
Lábaro”, primeiro jornal estudantil impresso de Caxias. Além das palavras
impressas, mais tarde foi profissional da voz, como locutor do serviço de
alto-falante “Gigante do Ar”, de propriedade do Delamar Silva, e da Empresa
Eletracústica de Propaganda “A Voz da Cidade”, de Osvaldo Marques, que era
orador e poeta. Ao mesmo tempo, Firmino Freitas fazia a revisão do jornal
“Tribuna Caxiense”, cujo diretor era o Luís Coelho Sales, escritor (sobretudo
cronista) e, se não me engano, trabalhava também nos Correios e Telégrafos.
Ainda na seara jornalística, Firmino Freitas foi colaborador da “Folha de
Caxias”, dirigida pelo Vitor Gonçalves Neto, escritor e jornalista, autor de
obras como “Conversa Tão Somente” e “Roteiro de Sete Cidades” e que, tempos
depois, passaria a dirigir por décadas o jornal “O Pioneiro”, onde também
escrevi, ainda dolescente, por anos.
Firmino
e eu tivemos outra atividade comum, exercida em mesmo local, mas em anos
distintos e distantes no tempo: locutor da Rádio Mearim de Caxias (1959). Ele
atendia convite do amigo comum e também jornalista e político Luís Gonzaga
Abreu Sobrinho, que foi o primeiro prefeito de Eugênio Barros (MA); de minha
parte, eu atendi convite do Antônio Vezerra de Araújo, radiotécnico e diretor
geral da Mearim na década de 1970. Além de locutor da Mearim, Firmino Freitas,
sete anos depois (1966), foi seu Diretor Artístico e Diretor Geral. Um ano
depois (1967), ascendia rumo à capital maranhense, São Luís, onde se tornou
locutor da Rádio Gurupi.
De
volta para Caxias, Firmino fez o curso de Técnico em Contabilidade, na Escola
Técnica de Comércio de Caxias. Na colação de grau (1971), foi orador da turma
(1971). Também nessa escola confirmou-se como líder estudantil, como presidente
do Grêmio Lítero e Recreativo Vespasiano Ramos.
Adulto
feito, Firmino tornou-se membro da sociedade internacional Lions Club e
ingressou na Maçonaria, onde, em Teresina, Timon e São Luís, prestou relevantes
serviços, inclusive fundação e direção de lojas maçônicas.
O
curso superior (Bacharelado em Direito, pela Universidade Federal do Piauí) foi
concluído em 1975; na formatura, e por concurso, foi eleito orador da turma.
Era o poder da palavra e da liderança se reconfirmando. Já nas lides
profissionais, foi advogado registrado no Piauí e Maranhão, tendo defendido
causas em diversas comarcas da Região Nordeste, no período de 1976 a 1981.
Neste ano fez concurso para a Magistratura do Estado do Maranhão e desde 10 de
dezembro de 1981, como juiz de Direito, levou e elevou a Justiça às comarcas de
Paraibano, Parnarama, Chapadinha, Imperatriz, Caxias e São Luís.
Como
advogado e juiz não descansou e, além das causas e processos, sempre buscou a
atualização e aperfeiçoamento, tendo participado de diversos eventos jurídicos
no Maranhão, Piauí, Pernambuco, Amazonas, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Paraná
e Santa Catarina, além de curso de Especialização em Metodologia do Ensino do
Terceiro Grau, que o habilitou para ser professor no Ensino Superior.
Seu
talento e trabalho levaram-no a receber algumas distinções e honrarias, representadas
por títulos, diplomas, placas e medalhas. Mas, fora das atividades laborais,
gostava mesmo era de ler e de colecionar moedas e cédulas, “hobby” este que o
levou à Sociedade Numismática Brasileira e à Associação Filatélica e
Numismática de Brasília, das quais era sócio correspondente.
*
Encontrei-me
poucas vezes com esse meu confrade de Academia e colega de escritas. Conversei
com ele algumas vezes em remotas reuniões e solenidades da Entidade. Tempos
atrás, tendo eu viajado mais uma vez a Caxias, telefonei para o Firmino, em
busca de um exemplar de um dos seus livros, onde, em uma das crônicas, ele
(re)lembra Dª Maria Poquinho, que morava no encontro da Rua da Galiana com a
Rua da Palmeirinha, onde também morei. Maria Poquinho e suas filhas Santa,
Mariman e a mais nova, Fátima, eram amigas de minha família e tinham o carinho
de minha mãe, Dª Carlinda -- que, alma boa que era, dispensava cuidados
especiais ao filho mais velho de Maria Poquinho, o Antônio, portador de
hanseníase.
Depois
de dizer ao Firmino o quanto de memória me despertou em mim a crônica dele,
sobre a Maria Poquinho, pude ouvir sua voz lamentando verdadeiramente o não ter
um exemplar para repassar para mim, sabedor ele do zelo, do interesse que
(man)tenho pelas coisas e causas caxienses.
Logo
que soube, manhã cedinho deste 17/01/2019, do passamento do talentoso Firmino
Freitas, telefonei para outros amigos e caxienses, entre os quais Francisca
Girlene, Carvalho Júnior, Ezíquio Filho, Wybson Carvalho, Jacqueline Moreira,
Arthur Almada Lima Filho, Magda da Cunha e meu tio, Raimundo João Gama Soares,
o João Gama ou J. Gama, que também conhecia Firmino Freitas.
No
velório, que se realiza na residência da família, a memória e o talento de
Firmino Freitas estão sendo reverenciados por familiares, amigos, colegas e
membros de entidades históricas culturais de Caxias (Academia Caxiense de
Letras, Instituto Histórico e Geográfico de Caxias e Academia Sertaneja de
Letras, Educação e Artes do Maranhão), entre os quais os professores Antônia
Miramar, Valquíria Fernandes, Carvalho Júnior e o desembargador Arthur Almada
Filho, que só tratava Firmino, cortês e fraternalmente, por “Sereníssimo”. Foi
Arthur Almada quem aconselhou e orientou o à época advogado Firmino Freitas
para a carreira da Magistratura, em que se aposentou.
Firmino
Freitas estreou em livro em meados da década de 1980, com a obra de prosa
poética “Conversando com Deus”. A esse diálogo com Deus, sucederam-se outras
“conversas” literárias enfeixadas em livros: “ Versos de Cantaria” (poesias, 1986);
“Do Verbo ao Verso” (poesias, 1990); “Cantares de Amor e Outros Cantos”
(poesia); “Memorial dos Insensatos” (prosa, 2002); “Festejo de São Benedito”
(prosa, 2003); “A Mudez do Grito” (poesia, 2003); “Sermão aos Surdos” (prosa,
2004); “Oitavas do Eu Menino” (prosa, 2005); “Mensagem aos Cegos” (poesia,
2005); “Maria sem Vez” (prosa, 2011); “Largo do Rosário” (prosa, 2011).
Diversos
desses títulos, já de cara, revelam, a nós caxienses, o quanto da terra, do ar,
da água, enfim, do (meio) ambiente e do povo caxienses impregnava-se fundamente
na alma de Firmino Freitas e o quanto tudo isso se desvelava, se revelava e se
elevava ao correr da pena segura dele escritor. Com certeza mais e mais textos
foram elaborados por Firmino e esses escritos devem por enquanto estar
recolhidos e em paz em folhas e maços guardados em alguma gaveta de mesa, ou
sob pesos de papel ou, como pedaços de espíritos, jazem -- virtual e
virtuosamente -- em forma de pulsos de luz, de brilhos de energia, de “bits” e
“bytes” na memória de um computador e nos espaços não computáveis no vasto
mundo da Internet.
E, é
claro, muito de Firmino está em muitos de nós -- até um dia todos nós estarmos
juntos dele...
*
O
corpo de Firmino Freitas será sepultado do Cemitério Nossa Senhora dos Remédios,
onde outros familiares já dormem a Eternidade.
“Sit
tibi terra levis”.
Que a
terra, Firmino, te seja como a tua consciência:
Leve.
EDMILSON SANCHES
edmilsonsanches@uol.com.br
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