Por Edson Vidigal
Amanhã,
sexta-feira, começa uma nova legislatura no Congresso Nacional, Câmara dos
Deputados e Senado da República. Uma nova legislatura também nas Assembleias
dos Estado e Câmara do Distrito Federal.
São
muitos legisladores num País de um Povo que vive farto de tantas leis. As leis
que pegam, as leis que não pegam. Fala-se, e muito, ultimamente, também nas
leis que pagam e nas que não pagaram.
Afora
as leis que não chegaram ao papel, as leis dos costumes, portanto, ignoradas
pelos Juízes em seus tribunais, e aí já são outros quinhentos.
Amanhã,
para os eleitos e também para os reeleitos, vai ser começo ou recomeço. Começos
de algum fim. Provisório ou definitivo fim.
Não
vem ao caso lembrar as circunstancias dos começos, quase todos muito difíceis,
até porque não é o acaso o grande feitor das coisas.
Como
tudo na vida, as coisas se fazem com começo, meio e fim. As coisas boas têm
fim, as coisas ruins têm fim. A vida, enfim, com tudo de bom e de ruim, tem
fim.
Só o
amor, porque vem antes da vida e transcende à vida, não acaba, não pode ter
fim.
Muita
gente, muita gente mesmo, padece de uma dificuldade em compreender que esse
espaço de tempo entre uma coisa e outra, um dia acaba.
Quantos
não estão agora nestas vésperas se lembrando do quanto foram mimados em
incontáveis votos de boas festas, votos sólidos, alguns robustos, muitos
engarrafados, todos parecendo se destinar apenas à urna da amizade imorredoura
na cabine indevassável de um inoxidável afeto.
Só os
tolos, aqueles que logo se embriagam no primeiro gole do poder, podem acreditar
que os mimos todos com que são cercados antes das festas, durante as festas e
depois das festas, mas só enquanto estiverem em seu naco de poder, são mesmo
por causa deles, da inteligência deles, da beleza deles, das qualidades deles.
Estar
no poder, há quem acredite, faz até a feiosa parecer bonita, o baixinho pançudo
parecer elegante, o chato pedante parecer filosofo, o idiota incapaz capaz de
tudo, o truculento verbal parecer diplomata, o velho meliante parecer uma
vestal, o poder, enfim, definia Kissinger, é até afrodisíaco.
Estar
por um longo tempo no poder esquecendo-se todo o dia de se lembrar que um dia
haverá a véspera do dia seguinte é se imaginar capaz de parar o sol a qualquer
momento da sua trajetória diária em suas alvoradas e crepúsculos.
Não se
preparar com muita antecedência para o desembarque do dia seguinte, preparação
essa que, aliás, deve começar desde o primeiro dia de exercício do poder, é se
achar o imortal poeta de tudo quanto é marimbondo e, assim, não se achar o mais
tolo dentre todos os tolos encontráveis até mesmo nos Evangelhos do Velho
Testamento.
Não
agir como um tolo é saber distinguir-se entre a pessoa que você sempre foi se
esforçando todo dia para ser uma pessoa melhor e a pessoa no poder que você de
fato não é porque exercendo o poder você é não é mais que um dos encarregados
de mover com a força da autoridade que lhe deram as engrenagens para as coisas
acontecerem.
Dependendo
de como você exerce a sua autoridade, as coisas podem acontecer em resultados
bons, ruins ou maus, sobrando, assim, para todo mundo.
Então
os mimos com que cercam a pessoa investida no poder da autoridade, e até mesmo
os seus parentes e amigos também são cercados, nada disso tem a ver com as
pessoas no que elas são desde o antes e no que elas voltarão a ser
completamente a partir da véspera do depois.
Por
isso, o bom é quando depois de tanto tempo fora do poder a presença que se
registra continua sendo aquela dos velhos amigos, os mesmos de muito antes e
também dos poucos que no enquanto surgiram e que souberam manter-se no durante,
todos eles para todo o sempre.
O
problema é que muitos no poder ainda confundem o ser com o ter. Acabam
misturando a essência do que são ou poderão ser como pessoa com as fuligens do
poder que imaginam ser coisas suas, pessoais, e não são.
Olha,
gente, isso tudo é tão passageiro. Algumas vezes até demora, mas um dia passa.
E acaba.
(Edson Vidigal, é advogado, foi
Presidente do Superior Tribunal de Justiça e do Conselho da Justiça Federal)
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