Por Edson Vidigal, advogado, foi presidente do Superior Tribunal de Justiça e do Conselho
da Justiça Federal.
Claro que não é só
a vontade de assegurar a continuação de programas que, se interrompidos ou
extintos, resultará em danos irreparáveis ao povo em geral o que leva um
governante a fazer o diabo numa campanha eleitoral e, por conseguinte, o seu
sucessor.
A catapora das
reeleições sem limites que por contágios bolivarianos grassara em alguns mapas
aqui do lado debaixo do equador encontrou um Lula nadando de braçadas num
segundo mandato e, ao mesmo tempo, instituições republicanas fortemente
imunizadas contra qualquer quebra da ordem constitucional.
Diferente do
cenário tropical em que se bronzeava o Lula foi o que se deu bem antes com
Juscelino, eleito num único turno sem a exigência de maioria absoluta e que só
tomou posse porque teve ao seu lado, nos golpes e contragolpes indispensáveis à
ordem constitucional, o General Lott, um soldado exemplar.
Vargas, o
verdadeiro criador do Estado brasileiro, pensou em Juscelino, então Governador
de Minas, para sucedê-lo e, assim, não deixar caírem as conquistas sociais, dentre
outras, no campo econômico e na produção industrial, que com mãos firmes e
coração largo lograra implantar.
Vendo da sua
janela no Palácio do Catete que uma simples greve de estudantes contra o
aumento nas passagens de bondes o imobilizava no Rio de Janeiro passando
incertezas ao País, Juscelino caiu fora e tratou de construir Brasília.
Brasília deu o
mote do que ainda faltava em forma física ao sonho de Vargas – a inderrogável
integração nacional.
A realidade dos
custos arregalou os olhos dos críticos da economia, mas nem por isso, inclusive
inflação alta, Juscelino decaiu na popularidade.
Tinha votos no
Congresso para aprovar uma emenda de reeleição e votos populares para ser
reeleito. Não aceitou. Ainda tinha capital de tempo. Poderia voltar a ser Presidente
dali a cinco anos.
Juscelino, que
como todo bom mineiro de bobo não tinha nada, sabia em cálculos exatos do
turbilhão que viria a espalhar desafios pelo período seguinte.
Lançou o General
Lott para Presidência tendo como Vice outro grande brasileiro – Osvaldo Aranha,
braço direito de Getúlio. Ambos sem chances ante o Jânio, que empunhando uma
vassoura prometia varrer a bandalheira.
Juscelino então
calculou o risco – esse maluco ganha, não vai dar conta do recado, será
melhor para eu voltar que os meus candidatos percam.
O maluco venceu e
não aguentou sete meses. As esquerdas que mantinham distância do Jânio não
deixaram o Jango governar. Em 1964, veio o golpe militar que deu no que deu.
Juscelino foi cassado, preso, exilado, morto num acidente controvertido.
E o Lula o que
fez? Pensou – eu ponho no meu lugar essa mulher que não sabe nada de
politica e vou dar as cartas. Daqui a quatro anos eu volto. Nem ele
deu as cartas, nem ela abriu mão da reeleição. Foi reeleita e pela Operação
Lava Jato já se sabe como.
Num recente
encontro à noite no Palácio da Alvorada entre Lula e Dilma na conversa entre os
dois houve uma subida de tom. Ministros na sala ao lado ouviram a voz rouca,
inconfundível, perguntar a Dilma – você sabe a coisa errada que eu fiz,
não sabe? Foi botar você aí...”
Pensa agora Lula
em voltar. Pensa.
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