Por Edson Vidigal, advogado, foi presidente do Superior Tribunal de Justiça e do Conselho
da Justiça Federal.
Como dizia a
doutora Maria Inês, uma das pioneiras do colunismo social na televisão – e
agora vamos às notiças.
Era assim com cê
cedilha por conta de um probleminha na dicção, mas que até soava normal. Na TV,
o Governador da época só conseguia dizer – sinhoires tretespectadoires...
Os visitantes
estrangeiros que aportavam em São Luís do Maranhão eram classificados pela
doutora na categoria especial - turistas de fora.
Então, vamos às
notiças, segundo os jornais matinais da televisão.
Oito mortos numa
chacina em São Paulo. Homens foram mortos à queima roupa na sede da torcida do
Corintians.
Em Porto Alegre
três homens armados invadem um ônibus e o incendeiam.
Acidente em
estrada no Paraná deixa oito mortos.
Casal e filho de
oito meses morrem em acidente em estrada nas proximidades de Redenção do Norte,
em São Paulo.
Dengue mata mais
pessoas agora também no interior de Minas. Prefeitura de São Paulo vai chamar o
Exército para o combate ao mosquito.
Médicos da rede
municipal de saúde em Goiânia, Goiás, começam a greve geral.
Pesquisa
encomendada pela Federação do Comercio de São Paulo mostra que os brasileiros
estão lendo menos. Um em cada cinco não havia lido um livro no ano passado.
Cresce o
pessimismo no mercado em relação à inflação nos próximos meses no País.
Dois adolescentes
morrem afogados numa praia em Fortaleza.
Pesquisa indica
que setenta e quatro por cento dos brasileiros não assistiram a qualquer filme
no ano passado.
Não para de chegar
carros apreendidos pela Policia Federal e não há mais onde guarda-los. Já são
mais de cem carros de luxo.
(Preciso sair
dessa editoria de catástrofes. Salto os canais. A mesma coisa. Desligo o som.
Fico só com as imagens. Assistir televisão como cinema mudo é muito engraçado.
Se é um politico
defendendo o atual Governo ou algum economista tentando explicar o atual
Governo, mantenha o som em off e preste atenção na linguagem corporal.
Sim, o corpo fala
e em ocasiões como essas o idioma bate de longe, em compreensão, o dilmês. Veja
a emissão cursiva, o movimento labial, os argumentos enumerados pelo toque das
pontas dos dedos.
O que é mais
intragável num amanhecer? O desfile de notícias ruins em vozes femininas quase
gritadas ou os comerciais dos feirões de eletrodomésticos mostrando que os
publicitários desse comércio nos tomam como uns brocos ou idiotas?
Classificada por
Stanislaw Ponte Preta como maquina de fazer doidos, a televisão brasileira
parece não haver encontrado ainda quem pudesse juntar talentos no nível de um
Rubem Braga, de um Oto Lara Rezende, de um Paulo Mendes Campos, de um Nelson
Rodrigues ou de uma Clarice Lispector para investir em editorias mais suaves
que, contrastando com as imitações da vida mostradas nas novelas, apresentem em
cada amanhecer noticias mais agradáveis, ainda que no formato das histórias
infantis.
No tempo do seu
começo, Chico Buarque fez um poema sobre um homem que só por teimosia ficava
ate tarde na rua fazendo de tudo para não chegar em casa. Se bem me lembro,
para não ter que encarar a televisão.
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