Da Coluna do Sarney
O
poder e a caneta têm uma relação íntima, às vezes libertina. Mas ultimamente
ela tem sido explícita.
A
primeira vez que ouvi uma definição precisa sobre essa relação foi, nos longínquos
anos de 1968, de Plácido Castelo, ele governador do Ceará, eu do Maranhão.
Disse-me, mostrando uma caneta: “Sarney, nós, governadores, com esta bichinha
poderosa, podemos fazer a felicidade e a infelicidade, nomear, demitir e
ameaçar. Mas ela tem um defeito. Quanto acaba a tinta, não serve para mais
nada.” A tinta acabava com a eleição do sucessor.
A
caneta e a tinta fizeram estórias da História. Prudente de Moraes foi eleito
contra a vontade de Floriano Peixoto. O marechal resolveu não lhe passar a
faixa. Prudente tomou posse no Congresso e foi para o Itamaraty, sede do
Executivo. Estava inteiramente vazio. O Presidente mandou comprar papel, caneta
e tinta para nomear o Ministro da Justiça, Antônio Gonçalves Ferreira, e fazer
os atos iniciais. Eu fui mais feliz, porque o Figueiredo apenas não quis me
passar a faixa.
O
nosso presidente atual, que tem sangue quente, quando demitiu o Ministro
Mandetta, advertiu: “Deu algo nos integrantes do governo, mas a sua hora vai
chegar.” E chegou na cabeça do Moro. Quando quiseram fazer uma intriga entre o
parlamento e o Chefe do Executivo, este avaliou o poder da caneta e disse ao
Presidente Maia: “Com a minha caneta eu tenho mais poder que você.”
Mas
o Supremo entrou no jogo das canetas e disse que tinha onze canetas em vez de
uma — haja canetada.
Certa
vez o Senado ouvia o Ministro da Fazenda do Governo Fernando Henrique e o
Senador Mercadante foi interpelá-lo. Antes disse ao Ministro: “Tome nota da
minha pergunta com sua caneta Mont Blanc.” Malan respondeu: “Senador, vou
anotar com a minha caneta Bic.” — e mostrou sua esferográfica popular. Foi uma
risada geral.
É
que as canetas também têm status. No meu tempo era a Parker, com um tinteiro de
borracha embutido, colocada no bolso externo do paletó, para mostrar que se era
uma pessoa de poder.
Agora
é a popular caneta esferográfica azul, que abalou a internet nestes meses foi
na música Caneta Azul, que tornou célebre Manuel Gomes meu conterrâneo de
Balsas.
Assim,
temos um tempo de brigas de caneta. Mas a caneta do Brasil foi outorgada pela
Constituição para expressar o governo democrático, tão bem definido por Lincoln
“como do povo, pelo povo, para o povo”, o poder civil, síntese de todos os
poderes, como bem define a doutrina da Escola Superior de Guerra.
A
Presidência tem que ser exercida com grandeza, humildade, prudência e
inabalável sentimento moral. Bic ou Mont Blanc, Parker ou qualquer outra, a
única marca que engrandece, por assegurar direitos humanos, bem-estar social,
harmonia e independência entre os poderes é a marca Democrática.
Já
tinha escrito esse artigo quando me lembrei do dia 1º de Maio. Quero me dirigir
ao nosso trabalhador, e dizer que, para homenageá-lo, em sua data, ontem,
fundamos Tribuzzi e eu o jornal O Estado do Maranhão, que completou 61 anos,
trazendo nosso idealismo para servir as grandes causas do Maranhão. Ele ajudou
a mudar a mentalidade do Estado, criando a pauta do desenvolvimento. Seu
editorial de apresentação pedia uma universidade, que não tínhamos, estradas,
energia, educação.
Tribuzzi,
nestes anos todos, é a inspiração do Jornal, e até as casuarinas do Cemitério
morreram, porque ele morreu, e seu saber até hoje faz falta ao Maranhão. Que
saudade!
0 comentários:
Postar um comentário