Por Edson
Vidigal, Advogado, foi Presidente do Superior Tribunal de Justiça e do
Conselho da Justiça Federal.
Seguiam os depoimentos e o Ministro mais se
assustava. Nunca ouvira alguém falar de tanto dinheiro em dólar ou em real
assim como quem repete uma noticia gasta de tão contada tantas vezes a quem
tivesse interesse.
A certa altura das investigações ficou-se
sabendo que a moça instituíra um departamento em seu organograma destinado a
cuidar unicamente das propinas destinadas a melar as mãos de agentes públicos,
em especial parlamentares de qualquer nível federativo, ministros de estado,
governadores e até juízes, embora neste último caso nada tenha até aqui se
provado.
Assim, o Departamento de Operações
Estruturadas da Odebrecht, a empreiteira de incontáveis tentáculos disposta a
estar presente em qualquer lugar do mundo onde houvesse alguma coisa a fazer e
um dinheiro a ganhar, lidando com o barro humano sem dificuldades, foi
acumulando influencias a ponto de no Brasil e alhures bancar eleições de
prefeitos, governadores, deputados, senadores e até Presidentes da República
como temos visto a partir das ultimas colaborações, as quais a nossa imprensa
insiste em chamar de delações. Tudo através do voto popular. Democrático, não?
Pensando bem, num certo ponto de vista, esse
autêntico polvo da construção civil e de outros empreendimentos e mais afazeres
se necessários, passou por Rondônia atrás da Hidroelétrica Santo Antônio, em
Porto Velho e por em S. Paulo expandindo a linha 2 do metrô, o corredor
metropolitano de Campinas e os serviços de saneamento de Mairinque.
No Rio Grande do Sul, ganhou a dragagem e
aprofundamento do canal da barra de acesso ao Porto do Rio Grande e
prolongamento dos moldes do porto; a extensão da linha 1 da Trensurb na região
metropolitana de Porto Alegre e a barragem do arroio Taquarembó.
No Ceará, onde se imaginava que não tinha
disso não, mas teve, pataca também trincou quando se falou num trecho do
sistema adutor do Castanhão. No Piauí? Irrigação dos Tabuleiros Litorâneos de
Parnaíba.
No Rio Grande do Norte, apenas tratamento de
esgotos no centro de Natal. Em Pernambuco, o píer petroleiro de Suape e o estádio
para a copa do mundo. No Espirito Santo, esgotamento sanitário.
Chegamos ao Rio de Janeiro, hoje falido, um
ex-Governador preso, um multibilionário empresário quebrando e preso e
políticos a granel querendo ceder lugar na fila e as cobranças numa lista –
reforma do Maracanã, metrô de Ipanema, linha 4 do metrô, PAC das favelas,
residências, teleféricos do Alemão e do morro da Providencia; esgotamento
sanitário de Mauá; reabilitação da praia de Sepetiba; túnel da Grota Funda;
terminal de Cabiúnas para a Transpetro; hidroelétrica do Simplício.
Essa lista não diz tudo. Fossem só essas
obras não teria sentido a derrama bilionária em dólares e em reais com
pagamentos de propinas a políticos no Brasil e no exterior.
Nos últimos 9 anos, que correspondem a dois
mandatos presidenciais e um ano apenas de um terceiro mandato, a Odebrecht
pagou, segundo confissão voluntária de um dos seus ex-executivos, 10 bilhões
500 milhões de reais em propinas a candidatos e a partidos políticos no Brasil.
Numa outra sacada, 40 milhões dos quais 10
para o PMDB e 30 milhões divididos entre o PC do B, PRB e PROS. Marcelo, o
ex-Presidente da empresa, contou outros 150 milhões foram para a campanha de
Dilma.
E tem mais. Muito mais. É não desligar da
lava-jato. Vai demorar até sabermos tudo, em especial sobre essa promiscuidade
entre políticos desonestos, também lá de fora, e a menina-veneno, a
empreiteira. A turma da carceragem de Curitiba não estaria conseguindo dormir
direito – “menina veneno / o mundo é pequeno / demais prá nós dois / em toda
cama que eu durmo / só dá você / só dá você...” (Hit do Ritchie nos anos 80).
Edson Vidigal, Advogado, foi Presidente do
Superior Tribunal de Justiça e do Conselho da Justiça Federal.
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