Por Edson
Vidigal, advogado, foi Presidente do Superior Tribunal de Justiça e do Conselho
da Justiça Federal.
Quem
não ouviu ou não leu, não sabe o que perdeu.
Na
mobilização nacional contra o mosquito, o Rio de Janeiro foi contemplado, mais
uma vez com a fala, como sempre, desengonçada conquanto sapiens da
Presidenta.
Assim:
“A
mosquita, ela, é a mosquita que põe em média 400 (quatrocentos) ovos. Se você
considerar que a mosquita transmite também o vírus, que é ela que pica, que é
ela que provoca a contaminação das pessoas. Portanto, se for uma senhora
grávida, uma moça grávida, o que acontece? Há um grande risco de a criança, se
isso ocorrer nas primeiras semanas de gestação, ter microcefalia”.
É
possível que nem Zaratustra, diante de tão ameaçadora realidade, fosse capaz de
tão reveladoras constatações.
Quando,
ainda na escola primária, nos ensinaram sobre os gêneros dos animais
aprendemos, por exemplo, que o feminino de jacaré não é jacarôa, mas
jacaré-fêmea. Do mesmo modo, o masculino da girafa não é girafo, mas
girafa-macho. E tal.
Se
essa novidade está em alguma nova cartilha do MEC, nada nesse sentido chegou
ainda ao nosso conhecimento. Mas a nossa Presidenta falou.
Os
botões do Mino certamente ainda seguem questionando.
Ora,
se o inimigo espalhador dos vírus dessas terríveis doenças, dengue e
microcefalia, afora outras, não é o mosquito macho, mas sim um mosquito fêmea,
ou simplesmente mosquita, como assim classificou a nossa também bióloga
Presidenta, querendo eliminar o malfeito da mosquita capaz de por ovos que nem
codornas, mas numa quantidade descomunal de 400 (quatrocentos) em tempo
recorde, melhor então não seria perseguir o macho causador de tanto estrago à
vida das pessoas e aos cofres do Governo?
Eis
aqui um grande desafio a despertar a argucia de tantos cientistas que, a estas
alturas, se entregam a incansáveis buscas laboratoriais do antidoto necessário
à produção de uma vacina.
Até a
chegada do atual Ministro da Saúde ao cargo, ele um politico que antes foi
médico de hospício e professor de psiquiatria, pouco se ouviu dos noticiários
da chamada mídia nativa sobre essa devastação da mosquita em nossa terra de
amores, alcatifada de flores, onde a brisa fala amores. E tal.
É fato
que o mosquito, agora transexualizado pela Presidenta em mosquita, chegou
fazendo logo um bom serviço ao Governo na medida em que chamando a atenção para
um valor maior, no caso a saúde publica, induz a Nação a pensar menos no que
mais aporrinha – a crise politica, a ilegitimidade do atual Governo e da
maioria do Congresso, a crise econômica. E tal.
Voltando
à descoberta da mosquita pela Presidenta. Como a estas alturas separar mosquito
de mosquita e assim, matando os machos, impedir a reprodução através das
fêmeas, desprezando antiga lição que as aparências enganam?
Soubemos
há pouco que na Inglaterra um galinha foi parando de botar ovos e,
aos poucos, foi aumentando a crista até que se danou a cantar como galo. Há
peixes hermafroditas, ostras que mudam de sexo pouco antes de se acasalarem.
Estudos
científicos comprovam que insetos também se aqualiram dependendo do que lhes possa
ser mais vantajoso. É possível que a Presidenta ao estudar o aedes aegiptis e
suas variações tenha constatado que o mosquito virou mosquita nesse instante
bidimensional.
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