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Com tradição de disputas políticas acirradas, Caxias caminha para eleição 2020 como a mais tranquila dos últimos 40 anos

30.7.20
Hegemonia de Fábio Gentil em pesquisas pode proporcionar eleição sem muitos sobressaltos

Caxias figura no cenário político maranhense como a terra das disputas políticas mais acirradas no estado.

Essa tradição de “política quente” tem dominado o debate político no Maranhão desde sempre, mas a avaliação dos últimos 40 anos, onde alguns daqueles que participaram ativamente das eleições municipais de 1982 ainda estão vivos para contar a história, merece uma análise desse período.

Na disputa pela Prefeitura em 1982, os políticos de maior expressão daquela época, José Castro/Hélio Queiroz numa chapa e José Gentil/Getúlio Silva noutra, polarizaram aquele pleito vencido por Castro e que ficou marcado por toda uma geração de caxienses pelas fortes emoções provocadas naquela eletrizante eleição.

Em 1988, o então jovem Paulo Marinho trouxe um discurso inovador e protagonizou uma inesquecível disputa pelo comando da Prefeitura de Caxias contra o médico Sebastião Lopes de Sousa, onde sua campanha pela anulação do voto, para com isso forçar uma nova eleição que pudesse participar, consagrou a tradição de disputas políticas na princesa do sertão. O Maranhão inteiro voltou os olhos para Caxias e fomos destaque em rede nacional de televisão. Apesar da grande repercussão, Sebastião Lopes foi eleito, mas teve o mandato marcado por fortes conflitos políticos e veio a ser cassado no último ano do mandato.

Na eleição seguinte, em 1992, Paulo Marinho já era deputado federal (foi eleito em 1990) e finalmente poderia tentar realizar seu sonho de comandar a Prefeitura de sua terra natal. Apesar de favorito, PM tinha pela frente o ex-prefeito Hélio de Sousa Queiroz, o representante do grupo dominante e que tinha entre seus correligionários as lideranças tradicionais de então. Mesmo assim, Marinho foi eleito e fez um mandato, embora inovador e com méritos, mantendo uma beligerância constante contra seus opositores e contra qualquer um que ousasse contrariá-lo.

O estilo de enfrentamento contínuo contra os desafetos, adotado durante a gestão de Paulo Marinho na Prefeitura, motivou a união de praticamente todas as correntes oposicionistas na sua sucessão, com exceção do PT ou um ou outro partido considerado radical, que nas eleições anteriores, e também nas seguintes, não aceitavam compor com agremiações consideradas por eles como reacionárias ou de direita.

Caxias teve em 1996 uma eleição histórica pela cadeira principal do Palácio da Cidade. Novamente o empresário Hélio Queiroz tentava voltar ao comando da Prefeitura, onde havia sido prefeito após o falecimento do titular, José Castro, entre 1985/88.

Indicando o médico Ezíquio Barros como candidato a sua sucessão, era o próprio Paulo Marinho que se apresentava como o protagonista daquele pleito, levando o seu candidato, que apresentava chances ínfimas no início da campanha, a tornar-se prefeito em 1996 por uma pequena margem de votos.

Após um turbulento mandato de prefeito, Ezíquio tem o mandato cassado e as intempéries advindas logo em seguida facilitam a eleição de Márcia Marinho em 2000, cuja vitória foi favorecida pela incapacidade dos adversários em fazer a leitura exata daquele momento político, onde as duas maiores forças da época, Humberto Coutinho e Júnior Martins, também se lançaram candidatos a prefeito.

Mantendo uma forte ingerência junto a esposa prefeita, Paulo Marinho manteve a mesma política de enfrentamento aos adversários naquele mandato e com isso favoreceu a união de praticamente todas as forças oposicionistas em 2004 (exceção do PT) num movimento que novamente chamou a atenção da classe política do Maranhão.

Unidos em torno de Humberto Coutinho, as oposições conquistam a Prefeitura e Caxias assiste ao surgimento de um grande líder. Com seu estilo conciliador, Humberto se reelege em 2008 sem muita dificuldade contra Márcia Marinho, que tentava retornar ao comando do município.

Em 2012 novamente um membro da família Marinho, Paulo Marinho Jr, tenta suceder Humberto Coutinho, que lança o sobrinho, Leonardo, para herdar seu espólio político. Humberto Coutinho novamente colhe os frutos de sua política de conciliação e consegue emplacar o sucessor, que também foi favorecido pela divisão das oposições com a candidatura a prefeito do médico Helton Mesquita.

Na última eleição para prefeito em 2016, Caxias viu a polarização entre 2 candidatos, onde Fábio Gentil aliou-se a família Marinho e ao vereador Catulé, as duas mais importantes forças de oposição, e costurou uma delicada rede de apoiadores em torno de sua candidatura, que embora fosse desigual do ponto de vista financeiro, tinha uma identificação muito forte com os anseios da população.

Fazendo uma gestão marcada pela inabilidade política e os conselhos de assessores amadores, que tinham uma ascensão sobre praticamente todas as suas ações, Leonardo Coutinho, mesmo com um forte poder econômico e político, perde a eleição para Fábio Gentil.

Com uma administração onde o forte apelo popular é uma das suas características, Fábio Gentil usou seu carisma para se tornar uma liderança política de grande influência na região. Fábio foi de certa forma favorecido após a morte de Humberto Coutinho, o único líder político que ainda poderia, pelo menos hipoteticamente, representar alguma ameaça para sua hegemonia na política caxiense.

As vésperas das eleições 2020, os números aferidos em pesquisas de opinião preveem uma vitória avassaladora de Fábio Gentil.

Projetando uma superioridade de 4 vezes a votação para o segundo colocado, as eleições em Caxias tendem a ser tranquilas e de certa forma apáticas, onde o brilho e a atenção de outrora não mais chamarão a atenção dos olhos da classe política do Maranhão.

E essa passividade nas eleições não orna com a tradição política da princesa do sertão.

O que é uma pena...

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