Por Wybson Carvalho, do Portal Noca
Denominada
como a “Princesa do Sertão Maranhense” e berço de ilustres poetas e
intelectuais brasileiros, a cidade de Caxias - distante 354 km de São Luís e
com uma população de 161.137 habitantes, sendo considerada a quinta maior
cidade do estado - foi palco de uma das maiores batalhas do período do Brasil
Colonial, a Balaiada - considerada a maior revolução maranhense, ocorrida no
período de 1938 a 1941. A revolta teve como principais líderes, Manuel
Francisco dos Anjos Ferreira (O Balaio), Raimundo Gomes Vieira (O Cara Preta),
Lívio Lopes Castelo Branco e Cosme Bento das Chagas (O Líder Negro).
Para
conhecer melhor a história da revolta dos balaios (escravos, mestiços e brancos
pobres), os moradores de Caxias e visitantes contam com um rico acervo que
retrata, com detalhes, o período do conflito popular que ocorreu devido à
instabilidade política e por problemas sociais e econômicos que afetaram
diretamente a população pobre daquela época.
Trata-se
do Memorial da Balaiada, que fica localizado no Morro do Alecrim e que foi
inaugurado no dia 26 de junho de 2004, no então governo José Reinaldo Tavares.
Nele, pode-se conhecer mais sobre o movimento, por exemplo, através de armas
usadas na época e instrumentos usados para tortura.
O
Memorial – maior museu de Caxias que abre de segunda a sexta-feira e que recebe
em média 900 visitantes por mês - compõe-se de um Museu-Escola e um Centro de
Documentação que tem como objetivo preservar, valorizar os acervos históricos,
arqueológicos e documentais de Caxias. Atende principalmente ao público
estudantil, em diferentes níveis, para visitação e pesquisa sobre o tema
Balaiada, e a comunidade em geral e turistas maranhenses, de outros estados,
como: São Paulo, Pará, Rio de Janeiro, Pará, Roraima, entre outros e diversos
países, como Itália e Portugal. Conta oito funcionários, incluindo vigias,
apoio, guia, direção e a museóloga Marília Colnazo.
O
museu - que foi restaurado em maio de 2014 e que fica localizado no antigo
Quartel de Polícia – local que abrigou as tropas do português José da Cunha
Fidiê e de Duque de Caxias - possui uma exposição permanente, de perfil histórico,
abrangendo a vida dos balaios, os seus líderes e a cidade de Caxias na época do
conflito. As ruínas ainda encontram-se no local.
Acervo
Conta
com um acervo de 350 peças de artefatos arqueológicos e restos de armamentos,
balas de chumbo, projéteis, botões e fivelas dos militares e dos homens e
mulheres que fizeram a revolta, além de um acervo eclético de peças de
mobiliário, prataria, telas, um painel em xilogravura da artista plástica Tita
do Rêgo Silva e esculturas em argila dos principais líderes da Balaiada.
Escavações
O
resultado das buscas arqueológicas feitas no ano 1997 por um grupo de
estudantes universitários e historiadores, fez surgir o Memorial da Balaiada.
Liderados pelo professor Deusdeth, em parceria com a UEMA, eles resolveram
recontar a história do movimento; para isso, se instalaram no Morro do Alecrim,
palco final da revolta, e trabalharam durante seis meses em buscas dos
vestígios do conflito.
Durantes
as escavações, além dos restos de armamentos, foram encontrados até fragmentos
de ossos humanos, além de instrumentos de castigo dos escravos, como correntes,
tesouras e gargalheiras usadas em castigos dos escravos.
Visitações
"Eu estou muito feliz em ter inserido a minha família aqui nesse local para conhecer a história da Balaiada', disse Gerson Kelly, durante visita ao museu (Foto: Kristiano Simas/ Agência Assembleia) |
De
acordo com a diretora do Museu Mercilene Barbosa Torres, durante o ano de 2015
foram desenvolvidas diversas atividades, com atendimento a estudantes e
visitantes além de atividades técnicas, como por exemplo: orientação de
estudantes do Curso de Mestrado em Artes, Patrimônio e Museologia da
Universidade Federal do Piauí- UFPI, Campus Parnaíba (PI) e orientação de
estudantes do Curso de História da Universidade Estadual do Maranhão – UEMA,
com trabalhos sobre o Memorial da Balaiada.
No
museu o visitante o público também encontra um auditório que é utilizado para
fóruns, seminários e palestras, além de lançamentos de livros de autores locais
e regionais.
A
Sala da biblioteca também foi consultada durante todo o ano de 2015,
principalmente, sobre a história da cidade de Caxias e sobre a Balaiada. Já o
auditório foi utilizado para atividades complementares de visitação de
estudantes, para desenvolvimento das atividades diversas, como cursos,
palestras e reuniões. Mercilene Torres afirmou que o museu recebeu em 2015 mias
de 17 mil visitantes.
12 anos de existência
De
acordo com Mercilene Torres, o memorial que vai fazer 12 anos de existência,
tem um público anual de mais de 17 mil visitantes entre brasileiros e
estrangeiros que procuram o local para conhecer a história da Guerra da
Balaiada e o acervo eclético composto de 356 peças, além de um Centro de
Documentação utilizado por estudantes e sociedade em geral. Também ressaltou
que todas as faixas etárias visitam o memorial.
“O
memorial - além de guardar objetos dos séculos XIX e XX - tem documentações de
grande importância para os estudantes e pesquisadores que desejam conhecer e
ampliar o conhecimento sobre a respectiva guerra que marcou a história do
Maranhão no período do Império e que é necessária ser conhecida não só por
estudantes e pesquisadores, mas por toda comunidade em geral, que tem o
objetivo de conhecer melhor o seu país”, ressaltou Mercilene Torres, afirmando
que “aqui nós possibilitamos um olhar mais aprofundado ao visitante sobre a
referida temática da história da Guerra da Balaiada”.
Guerra da Balaiada
Ruínas
do quartel general que simboliza a Balaiada (Foto: Kristiano Simas/ Agência
Assembleia)
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Um
dos fatos mais marcantes na história de Caxias foi a luta pela adesão à
independência, quando as tropas comandadas pelo major Salvador Cardoso de
Oliveira e por João da Costa Alecrim derrotaram as tropas comandadas pelo
militar português João da Cunha Fidiê. Naquela ocasião, Caxias era a vila mais
importante da província do Maranhão.
A
guerra da Balaiada – considerada a maior revolução maranhense, e que teve o seu
ápice no Morro do Alecrim, antigo Morro das Tabocas e que envolveu cerca de 10
mil homens - teve como principais líderes, Manuel Francisco dos Anjos Ferreira
(O Balaio), Raimundo Gomes Vieira (O Cara Preta) e Cosme Bento das Chagas (O
Líder Negro). Foi um conflito popular que se estendeu pelos Vales do Itapecuru
e Parnaíba, e que teve o município de Caxias como foco mais importante das
batalhas entre os balaios e as forças legalistas do Norte.
A
guerra – que foi um dos maiores conflitos característicos do período de
transição e mudanças ocorridos no fim do Brasil colônia - foi provocada pela
insatisfação entre os inúmeros negros, mestiços e classe média, especialmente a
urbana, contra a política aristocrática e oligárquica das classes mais ricas de
latifundiários, senhores de engenho e fazendeiros que se instalaram no país.
Líderes da Balaiada
Raimundo
Gomes da Silva (O Cara Preta), um dos líderes da Balaiada
(Foto: Kristiano
Simas/ Agência Assembleia)
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Um
pouco da história dos principais líderes da Balaiada. Manuel Francisco dos
Anjos Ferreira (O Balaio), era branco, alto, filho de pobres agricultores, participou
do exército dos independentes. Depois que este foi dissolvido, voltou a vida de
roceiro e fabricante de balaios; vivia com a sua família à margem do Rio Mearim
por onde passava a estrada que liga a Vila de Itapecuru Mirim a Chapadinha.
Raimundo
Gomes da Silva (O Cara Preta) era chefe do grupo de vaqueiros que a 13 de
dezembro de 1938 tomou de assalto a cadeia da Vila da Manga; era capataz do
fazendeiro Inácio Mendes de Morais e Silva, vigário de Freguesia do Arari, no
Baixo Mearim.
Já
Cosme Bento das Chagas (O Líder Negro), era natural da Vila de Sobral,
Província do Ceará. Intitulava-se o ‘defensor da liberdade” e reuniu mais de 3
mil escravos para participarem da luta que chamava de ‘guerra da lei da
liberdade republicana’.
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