Para
os que estão chegando, o susto, a surpresa, a herança maldita. Como estariam
agora sem a grande desculpa da herança maldita.
As
alegrias que levaram às festas da vitória e recentemente às solenidades da
posse só ainda não estão totalmente murchas porque as ansiedades ainda latentes
esperam pelo fim sem piedade da herança maldita.
Todos
se queixam de rombos no orçamento público, de gastos absurdos que transcenderam
em muito as arrecadações e que com essa herança maldita não vai dar.
A
campanha eleitoral, desde as eleições na antiguidade, tanto na velha Grécia
quanto na Roma antiga, tinha uma função didática. Era o momento em que os
pretendentes aos cargos se escancaravam aos olhares dos eleitores que, ao
final, se decidia pelos melhores.
Os
melhores tinham que ser os mais bem avaliados em todos os quesitos
indispensáveis ao exercício da função pública. Não bastava que fossem bons
oradores, pessoas cultas, de saber e experiência incontestáveis.
Tinham
que ter igualmente um passado com história de bons exemplos, que lhe rendessem
respeito, admiração, enfim o que ainda se exige constitucionalmente aos
postulantes a cargos da magistratura – a reputação ilibada.
Os
partidos políticos, instituições sobre as quais há registros históricos
inclusive na antiga Judeia, faziam a triagem. Filtravam os nomes. O cardápio de
candidaturas que então se oferecia aos eleitores era instigante. De tantos bons
nomes.
O
direito eleitoral no processo civilizatório se foi se afirmando assim, nessa
coerência. A seleção dos melhores por cada partido para candidatos e a eleição
dos melhores dentre os melhores candidatos para serem eleitos.
O
tempo da campanha eleitoral era para ser sempre o tempo das questões do tempo
de legislar e governar. Dos embates das ideias. Das formulações verdadeiras
para o enfrentamento eficaz do que atazanando as relações entre a sociedade e o
poder público tem que superado. Enfim resolvido.
Vemos
isso hoje pelo avesso do avesso. Ah os Senadores! Os Tribunos do Povo! Os
administradores das Civitas! Os Governadores das Satrapias! Na Grécia, em Roma,
na Europa, nem mesmo nos antigamente deste Brasil, os estadistas ousaram a
esfarrapada desculpa da herança maldita.
Para
os eleitos e os reeleitos destas touradas, esta advertência sempre oportuna do
Presidente Abraão Lincoln:
- É
possível enganar um Povo por algum tempo. É possível enganar parte do Povo por
um certo tempo. Mas não se pode enganar o Povo todo o tempo todo.
Parte
do Povo no Brasil já sabe disso. Mas a maioria do Povo, em seu analfabetismo
político decidindo as eleições, ao que parece, ainda vai ter que apanhar muito
sob a pancadaria da politicalha, a qual sustenta a desigualdade para poder,
assim, gerar mais dependência entre maioria pobre de tudo, até de espírito, sob
o manto protetor corrupto de um Estado de formatação e costumes totalitários
como ainda é este Estado do Brasil.
Não é
possível enganar o Povo todo o tempo todo.
(Edson Vidigal é advogado, foi
Presidente do Superior Tribunal de Justiça e do Conselho da Justiça Federal)
0 comentários:
Postar um comentário