Por Edson
Vidigal, advogado, foi Presidente do Superior Tribunal de Justiça e do
Conselho da Justiça Federal)
Resolvido, afinal, que o terremoto politico e
econômico que a Dilma vinha encarnando e até resvalando para atirar a economia
do País na grande onda tsunami que atarantou a indústria, o comercio e em
especial os investidores, o que se materializou na tragédia social de mais de
doze milhões de desempregados no Brasil, é oportuno lembrar o Marquês de Pombal
tão logo o grande terremoto amainou, mas impondo à capital portuguesa um
cenário de mortes e desolação – “enterrar os mortos e cuidar dos vivos!”.
Faças tu quanto aos últimos acontecimentos
neste Brasil, antiga colônia portuguesa, a analogia que quiseres. O grande
terremoto eclodiu em 9 graus da escala Richter na manhã do dia de todos os
santos, 1º de novembro de 1759.
A Lisboa por onde andamos muito admirados
hoje não tem nada a ver com a cidade que existia antes daquela tragédia. O
terremoto destruiu igrejas, conventos, palácios, o arquivo da torre do tombo e
também vilas importantes nas adjacências. A família real só escapou ilesa
porque deixou a sede da Corte na véspera.
Naquele cenário de fome, saques, doenças,
desabrigo, milhares de pessoas deixando a cidade, mas sem saber para onde ir,
Sebastião de Carvalho e Melo, até então visto por olhares enviesados de algumas
elites, mas depois alçado ao posto de Primeiro Ministro, conhecido ainda hoje
na história como Marques de Pombal, não só impediu o êxodo ao garantir socorros
aos feridos e alimentos aos famintos e tendas aos desabrigados, como também, ao
mesmo tempo, valendo-se do seu enorme capital politico, que não deixou
escapulir em meio à crise, mirou e liderou a reconstrução.
No nosso caso, enterrar os mortos e cuidar
dos vivos é convocar os sobreviventes, ou seja, nos todos, para a alegria de
viver, sendo respeitados em nossa dignidade humana, em nossos direitos às
oportunidades a que todos têm direito no regime democrático. E está tudo lá, na
Constituição da República.
Isso implica em convocar a confiança,
alimentar a esperança, sabendo exatamente o que queremos que seja este País.
Ainda vivos a merecerem as prioridades nas
ações não só do Governo, mas também de todos nós que nos somamos em sociedade,
são os doze milhões de desempregados. Os gestores e acionistas das centenas de
milhares de empresas que foram obrigadas à paralização de suas atividades,
sendo obrigadas a não mais garantirem o pão nas mesas dos milhões de
trabalhadores. Não foi o Temer quem produziu tudo isso. Foi o PT, notadamente
os (des) governos da Dilma. A coligação PT-PMDB aconteceu por razões
eleitorais, o que tem sido comum no Brasil. As coligações majoritárias,
infelizmente, são formadas mirando interesses eleitorais, mas sem
identidade programática nenhuma. Essa deformação é mais um resultado do nosso
sistema eleitoral, cujas leis estimulam o clientelismo politico, a decadência
dos valores que dão luz e calor à afirmação democrática.
Cuidar dos vivos é estimular trazendo para a
militância democrática e republicana os milhões de brasileiros que se declaram
desencantados com a politica que se faz hoje em dia e com os políticos que, na
sua avaliação, já deveriam estar todos cumprindo penas por peculato ou, no
mínimo, por estelionato.
Cuidar dos vivos é não permitir que as nossas
instituições democráticas sejam conspurcadas como já ensaiam o radicalismo
xiita dos baderneiros que querem retomar o Poder do Estado no grito e na
intimidação e a intolerância dos que quando falam em interesses do Povo não
estão defendendo senão os seus próprios interesses à custa da pobreza que ainda
faz sofrer a maioria dos brasileiros.
Vamos reconstruir o Brasil mirando o século
XXI. Em 1959, quando Pombal mandou que as novas ruas e avenidas na reconstrução
de Lisboa fossem muito mais largas que as anteriores, não faltou quem
criticasse. “Serão muito mais largas, sim, mas no futuro não faltará quem diga
que são muito estreitas”.
Caríssimo Jornalista!
Gostei da matéria, sobretudo pelas informações destacadas no texto no que se refere aos fatos históricos, políticos e econômicos do século XVIII e atual.
No entanto, é com muito respeito que, apesar da mensagem passada está correta, no que se refere a cronologia, ou seja, o que na história se chama de “Anacronismo”, há alguns equívocos que deve ser reparado.
Quando o nobre jornalista e advogado se refere ao “Terremoto de Lisboa”, e que este fenômeno aconteceu no ano de 1759, há um erro anacrônico nessa informação, este terremoto aconteceu no ano de 1755, no dia primeiro de novembro.
A informação da importância de Sebastião José de Carvalho e Melo, o Marquês de Pombal na recuperação econômica de Portugal na época do terremoto, em 1755, também é verdadeira, no entanto, ao compararmos com os acontecimentos na esfera econômica e política do Brasil de hoje, é bastante complicado. As ações política e econômica de Pombal foram extremamente autoritárias, o que é quase impossível nos dias hoje acontecer, sobretudo no Brasil, um país democrático.
Ao se referir à crise política e econômica do Brasil hoje, atribuir a Dilma, ao PT e ao PMDB, essa afirmação também é controversa. Não sou Petista, apesar de ser um defensor de algumas teorias marxistas, coisa que o PT só defendeu em seus anos iniciais de fundação, mas apesar disso, na minha opinião, não se pode culpar apenas esses atores pelo que o Brasil passa hoje.
A crise que o Brasil vive hoje é fruto de muitos fatores, inclusive esse defendido pelo jornalista, que foi o desgoverno de Dilma, sobretudo, nesse último mandato. Mas, um dos mais importante fatores que culminou todos esses acontecimentos, inclusive defendido por muitos economistas, dentre eles Luiz Gonzaga Belluzzo, foi a “Crise Econômica Internacional”, que prejudicou principalmente os países em desenvolvimento, dentre eles o Brasil, grande exportador de commodities, que teve uma grande desvalorização.
Aliado a muitos fatores, à crise econômica, a crise política e a Operação Lava-jato, levou o que hoje vivemos no Brasil, uma instabilidade que infelizmente a história nos mostra que vem se repetindo desde o século XIX, após a independência.