
A esperança muitas vezes se transmuda em
tantas promessas que a ilusão movida a ansiedades vai ocupando os espaços até
então exclusivos das expectativas.
A esperança é um sentimento de fé, uma
certeza imaginária e absoluta acenando acréscimos benfazejos aos seus sonhos.
Expectativas são as esperas, longas esperas,
umas assim, outras nem tanto.
O perigo é quando isso tudo parece estar tão
perto que nem a janela de vidro que o pássaro do lado de fora insiste em bicar.
Eu aqui em silencio, concentrado, e o pássaro
bicando a janela de vidro me interrompendo e agora já não mais com o batuque do
seu bico na janela de vidro, mas com o seu canto insistente como se me pedisse
para abrir a janela e deixar que ele venha até aqui.
Levanto os olhos e me viro para a janela e
vejo que não é um só, são dois ou três pássaros. Já conto cinco os que balançam
os galhos fazendo caírem pétalas das flores da espirradeira.
Não sei por que esse nome horrível,
espirradeira, num arvoredo que nesse clima do ano nos presenteia com flores tão
lindas, umas brancas, outras rosas.
Estando tudo aparentemente tão perto,
aparentemente alcançável, quem vem para dominar o campo demarcado? A ilusão.
E ela, a ilusão, nos faz sonhar
intermitentemente, cochilando, acordado, com sono ou sem sono, de todo jeito.
A ilusão se presta muito ao serviço do amor e
muito mais ainda ao serviço da paixão. Amor e paixão são diferentes, sim.
Paixão é incêndio devastando as florestas
intimas de cada ser. Amor é o que fica de depois, é brasa acesa, queimando
forte e lentamente. Carinho e respeito são os oxigênios da brasa que mantém o
amor aceso.
Há que se estar muito atento às ilusões. Elas
se agregam às esperanças, mas não são esperanças. As ilusões se confundem com
as expectativas, mas com certeza não as são.
Não podemos deixar que as ilusões nos
acalentem aos sonhos. Muitas vezes elas encostam em nosso sono e depois quando
despertamos é que temos a noção do pesadelo.
Sonhar é ótimo, de preferência estando
acordados. Assim podemos trabalhar buscando alcançar o sonho. Não deixar que a
esperança escapula, não perdê-la de vista, não confundi-la com o verde de algum
gafanhoto, isso tudo é indispensável para mantermos as expectativas sob
premissas viáveis.
Dizer adeus às ilusões é saudável, colega.
Muitas vezes chega esse momento ao nosso tempo
e nem nos apercebemos. Iludidos, reagimos sem autonomia, como dependentes das
promessas com as quais, constataremos um dia, nos enganaram.
Quando a ilusão é produto da trapaça que nos
pregam, e nos pegaram de mal jeito em nossa boa fé, a verdade não demora muito
a repor em nós aquela confiança perdida na nossa intuição.
Aí, colega, não basta só dizer bom dia a
todos e a todas. As ilusões já estão desmascaradas, mas levamos tempo, um
tempão, para nos desvencilhar.
Desiludir-se, eu sei, não é fácil assim.
Muitas vezes estamos tão mal acostumados com aquelas fantasias e ate os
fantasmas decorrentes nos parecem gentes boas.
Então, colega, se aquela ilusão já não te
serve e só te ataranta queimando o teu crédito, o que te resta agora é
desiludir-te. Retomar a esperança, resgatar aqueles princípios sadios, retocar
o sonho e seguir trabalhando.
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