Pode parecer
estranho, mas quanto maior a vontade mais eu idealizo o resultado. Algumas
vezes até fantasio e logo pressinto a estrada suave, a jornada até mais leve. E
vou em frente.
Tenho uma técnica
para idealizar resultados. Primeiro, acho sempre que vai dar tudo certo e se
não der não vou morrer. No durante das coisas vou agregando informações,
histórias, cenários, lembranças e imaginando aquele final feliz que todos
querem.
Quando sentei à
mesa do restaurante, já no segundo dia sem o devido respeito ao horário do
almoço, a noite quase chegando, nem havia tanto freguês, mas o senhor que
chegou para me atender já parecia cansado. Esse coitado deve estar dobrando a
jornada, imaginei.
Agora eu me achava
aliviado das canseiras das ansiedades. Trânsito lento, engarrafado, elevadores
que não aparecem, pessoas que marcam a hora e não chegam, outras mandam dizer
que nem estão, burocracia e má vontade, ah meu Deus!
Isso tudo como se
essa cidade enorme, rodeada de morros esculturais, e de favelas nem tanto,
tivesse virado ilha e saído mar adentro se desprendendo dessas dependências
típicas da atual civilização. Sinal de celular? Nem pensar. A Vivo caiu, passou
o dia sumida, sem sinal de vida, é Claro.
E falando em ilha,
houve um tempo no Maranhão em que o roubo era tanto, mas tanto, que uma ilha se
desprendeu e saiu deslizando pelo rio. Com direito a sair no “Fantástico”. Não
se sabe até hoje se aquilo foi uma ação preventiva da natureza ou se a ilha
estava sendo sequestrada.
Tem aquele ditado
de que apressado come cru, mas eu não tinha pressa. Estava num estado lerdo
entre a fome e o cansaço que chama o sono.
Estava lá nas
sugestões do chefe – churrasco a Osvaldo Aranha. Não é só no Brasil que há esse
costume de dar o nome de pessoas famosas a algumas fórmulas culinárias.
Uma vez na
Guatemala me deparei com um “plato a la Bill Clinton”. Quis saber o que era, o
garçon falou – un poco de tudo.
Menino em Caxias,
conheci pessoalmente o Assis Chateaubriand, um senhor narigudo, baixinho. Anos
depois, no Rio de Janeiro, me sugeriram um “filé a Chateaubriand”. Achei a
bolota de carne um tanto dura, indigesta, não gostei.
Tem aquela do
general que prendeu Sobral Pinto, o legendário advogado que invocou a lei de
proteção dos animais em defesa do Prestes quando não se falava ainda em
direitos humanos.
O General falou
que o objetivo deles era implantar uma democracia à brasileira. Ao que o velho
causídico retrucou dizendo ao general – a única coisa à brasileira que
eu conheço é o “peru à brasileira”.
Agora me vem essa
de churrasco a Osvaldo Aranha e eu me dano a fantasiar.
O Aranha era um
cara brilhante. Sem ele o Getúlio não teria derrotado a República Velha
ensejando ao Brasil um novo começo. Foi um grande articulador. Passou recursos
para o Prestes mobilizar sua turma e traze-la para o movimento gaúcho. Alguém
ficou e eles não vieram. Advogado brilhante, falava várias línguas. Foi
chanceler, embaixador do Brasil nos Estados Unidos, amigo de Rooselvelt,
Ministro da Fazenda, um dos pais da criação do Estado de Israel, Vice
Presidente na chapa do General Lott. Morreu pouco depois de iniciada a
campanha, aos 65 anos. Jovem ainda para os dias de hoje.
Em meio a longa
viagem admirando os feitos do Aranha pelo País, chamei um tinto gaúcho. O
churrasco pousou em seguida. Ambos, churrasco e vinho, estavam uma lástima.
Depois me disseram
que o certo mesmo é um filé a Osvaldo Aranha num restaurante na Lapa onde o
próprio Aranha inventou o prato.
0 comentários:
Postar um comentário