Por Edson
Vidigal, advogado, foi Presidente do Superior Tribunal de Justiça e do
Conselho da Justiça Federal
Quem no primeiro momento imaginou tratar-se
de uma brincadeira tirada do repertorio do Mussum, o trapalhão gente boa
parceiro do Dedé, ficou sem entender nada.
Mussum, que antes de se tornar comediante
formou no conjunto Originais do Samba, foi quem inventou aquele modo especial
de falar – forévis, cacildis, turmis e tal.
Quando os noticiários matinais da TV só
falavam na nova operação da Policia Federal denominada Métis, as mentes mais
asseadas de Brasília vaguearam em buscas.
Afinal, não é de hoje que as operações
policiais como as da Lava a Jato se imantam de uma função didática até mais que
as campanhas eleitorais de antigamente.
As denominações dadas a essas ações, em sua
maioria, parecem um pouco esquisitas – ouro de tolo, maçaranduba, colossos,
lenha branca, ilíada, metamorfose, sete erros, pedra lascada, lacraia, senhor
dos anéis, catuaba, balaiada (que poderia ter sido no Maranhão), bicho mineiro.
E tal.
Antes dessa Lava a Jato, duas intrigam o
imaginário dos brasileiros pelo desfecho. A Satiagraha e a Castelo de Areia, as
quais não deram em nada. Aliás, deram. O delegado que conduziu o inquérito da
satiagraha foi destituído e vive hoje asilado na Europa. A Castelo de Areia foi
totalmente anulada por uma turma do STJ.
Tudo que os policiais, procuradores e juízes
envolvidos com a Lava a Jato tentam diariamente, a todo custo, evitar é que o
trabalho comum resulte desfigurado, derrubando, por conseguinte, a
credibilidade das instituições às quais servem e frustrando a população do País
que a cada dia renova mais a sua confiança na independência da Policia Federal
e do Ministério Público, que são instituições de Estado e nunca de governos.
Nos últimos 15 (quinze) anos desta nossa
cambaleante democracia já tivemos operações policiais federais em número
próximo a 1.500 (um mil e quinhentas). Só no quesito corrupção foram 26 (vinte
e seis) mil casos, não obstante a mingua dos recursos financeiros, materiais e
humanos com que contam a Policia Federal, o Ministério Público Federal e a
Magistratura federal no primeiro grau.
Nos últimos dias, quando tudo parecia se
encaixar nos trilhos republicanos com o Executivo aliado ao Legislativo
colhendo importantes vitorias para o ajuste fiscal e o equilíbrio das contas
públicas, eis que surge ela, a Métis!
Talvez, quem sabe, por conta desse clima de
deserto que envolve a Capital da Republica, alterando ânimos das principais
personagens, loucas para que chegue logo o fim do ano e possam se mandar daqui
em recessos que já foram mais longos, desponta a Métis futucando.
Policiais Federais prenderam o Chefe da
Policia do Senado da Republica e a ordem foi de um juiz do primeiro grau. Sim,
prenderam outros também. E apreenderam equipamentos que detectam grampos.
O Presidente do Senado reclama ofensa ao
principio da separação dos poderes, faz caricatura do Ministro da Justiça que,
segundo ele, anda se metendo onde não deve, censura o juiz e a Ministra
Presidente do Supremo, nossa queridissima Carmen Lucia, vê na fala do Senador
ofensa a todos os juízes do País, inclusive à ela, que ao mesmo tempo exige
respeito.
O Presidente da República convida aos três –
Presidentes do Senado e do Supremo e mais o Ministro da Justiça para uma
reunião destinada a acalmar os ânimos. Não há falar-se em cachimbo da
paz. Pela Lei Serra é proibido fumar também no interior dos prédios públicos.
(Só o Mao Tsé Tung, que tinha sempre por perto uma escarradeira e depois o
Lula, que no gabinete presidencial queimava uma cigarrilha. A Dilma, não. A
Dilma trancava-se no banheiro.) Até ontem a noite essa reunião não havia
acontecido.
Alguma ideia do Barão de Montesquieu como a
da separação dos Poderes precisa ser discutida e implementada para valer o
quanto antes nesta República.
A primeira, acabar com nomeações de Deputados
e Senadores para Ministros de Estado sem que renunciem antes aos seus mandatos.
A segunda, proibir que servidores do Executivo sejam requisitados para funções
de Assessores em gabinetes de Ministros do Judiciário. Só para começo.
Bem. Querem, afinal, saber de onde saiu essa
Métis cuja operação está gerando tanta raiva e apreensão entre os atuais
grandões da República? A própria Policia Federal já cuidou de explicar.
Métis era a deusa da prudência, das habilidades
e dos ofícios. Tinha o poder de autotransformar-se. Seu nome era combinação da
sabedoria com a astúcia.” Na mitologia grega, é claro.
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