A porta de saída do museu te joga numa rua de
pedestres, exclusiva, mas nem por isso aberta a algum sossego.
Há shoppings dos dois lados e bares nas
esquinas.
A menos de um quilometro, uma bandeira do
Brasil assume destaque na paisagem turbulenta.
A animação é uma só. Regada à cerveja. Como
se sediasse uma liga das nações muito solta, doidona, a céu aberto, a rua
fechada aos carros aninha grupos de todos os cantos. De todos os cantos, não.
De todos os cânticos e entonações, certamente.
Amanhã termina a Copa na Rússia, mas a turba
parece querer prorrogar a alegria. O Brasil fora da final, mas os brasileiros
que ficaram, e foram muitos, seguem no clima.
As bandeiras que agitam, preferencialmente,
são as da Croácia, da França, da Rússia, do Brasil. Auriverde pendão da minha
terra, que a brisa do Brasil beija e balança!
Por um segundo imagino que deveria ter levado
uma bandeira do Maranhão. Lá, me declaro torcedor do MAC, o velho bode
gregório, o Maranhão Atlético Clube.
E eu sempre me liguei tanto em futebol que
nem sei se o Maranhão ainda existe. O Vitória do Mar ainda existe? O
Ferroviário ainda existe? Na Feira do Paraguai, em Brasília, vi um cara
vendendo camisas do Sampaio Correa, o de maior torcida em São Luís.
Em São Paulo, meu time é o SPFC, o São Paulo
Futebol Clube.
Nada de Corinthians, dono do Itaquerão, o
estádio cuja construção foi orçada, a época, em 1 bilhão e 200 milhões de
reais. O BNDES caiu com 400 milhões a serem pagos em 12 anos a juros moles.
Hoje, só a Caixa Econômica Federal tem mais de um bilhão de reais a cobrar. É o
time do Lula.
Aqui, na rua onde o oxigênio só não
totalmente puro porque há um bafo de onça, ou melhor, talvez, um bafo de urso, uns
brasileiros gritam em português bem claro - Lewandowisk, Lewandowiski e outros
respondem Levandouisque, Levandouisque!
E tome mais cerveja no canecão à moda alemã e
mais agito com a bandeira brasileira. Lewandowiski, Levandouisque!
Tenho para mim que, embora a pronúncia seja a
mesma com que nos referimos em Brasília ao nosso estimado Ministro do Supremo,
a alegria dos nossos patrícios esteja a se referir ao Robert Lewandowsk, o
festejado atacante de 29 anos, requisitado do Bayern de Munique, Alemanha, para
a seleção do seu país, a Polônia. A qual não demorou e logo ficou fora. Que nem
o Brasil.
Não achei engraçada aquela curtição dos
rapazes brasileiros. Notei que não havia moças entre eles. Alguns barbados, na
moda globalizada destes tempos.
Não houve loja que tivesse bandeira do
Brasil. A preço salgado, encontramos camisas amarelas do Brasil. Mas com o
Brasil fora o que eu iria fazer vestido de amarelo no estádio Lênin vendo a
final entre França e Croácia?
Bandeira da França não havia. As últimas já
haviam sido distribuídas pelo embaixador na recepção ao Presidente Macron.
Comprei um boné azul francês.
Mas o que me chamou a atenção imensa praça à
entrada do estádio foi a enorme estatua do Lênin. O cara de colete e terno, e
um sobretudo nos ombros, exubera elegância e simpatia. No bronze.
(Edson
Vidigal, Advogado, foi Presidente do Superior Tribunal de Justiça e do Conselho
da Justiça Federal. Esteve em Moscou, é claro)
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