- Era
Ana Amélia...? - Não... - Mas, era Ana...? - Sim, Ana Miranda.
- Mas,
houve uma confissão de amor...? Sim houve e foi tão verdadeiramente fiel que
chegamos a duvidar se aquela Ana era a Amélia ou a outra, a Miranda!
Essa
dúvida se deu diante de mais de cinco centenas de caxienses, entre professores
e estudantes, presentes ao Auditório Leôncio Magno - CESC-UEMA, no dia 29 de
novembro, de 2008, quando a escritora, Ana Miranda, a convite da Academia
Caxiense de Letras e da coordenação regional do PROLER, veio a Caxias fazer
palestra na XII edição do Programa de Incentivo à Leitura e o IV Salão do Livro
de Caxias. Naquela oportunidade, Ana Miranda se confessou muitíssima apaixonada
pelo poeta Antônio Gonçalves Dias; a quem se declarara, concretamente, através
de um dos mais belos romances de sua vasta produção literária. Já, no dia
seguinte, um sábado, 30, Ana Miranda, ciceroneada por membros da ACL e do
PROLER, foi à Mata do Jatobá, gleba Boa Vista, precisamente, no Morro da
Laranjeira, local no qual nasceu o poeta caxiense.
Ana
Miranda é uma escritora cearense, mas vivida em vários estados brasileiros e
exterior, com quase duas dezenas de livros publicados nos gêneros do romance,
conto, novela, ensaio e poesia, além de artigos e crônicas para jornais e
revistas. Sua produção já foi traduzida em mais de dezessete idiomas e países,
tais como: Inglaterra, França, Alemanha, Estados Unidos, Itália e outros.
A
vasta produção de Ana Miranda compreende os livros: Anjos e Demônios, poesia,
1978; Celebrações do Outro, poesia, 1983; Boca do Inferno, romance, 1989; O
Retrato do Rei, romance, 1991; Sem Pecado, romance, 1993; A Última Quimera,
romance, 1995; Clarice, novela, 1996; Desmundo, romance, 1996; Amrik, romance,
1997; Que Seja em Segredo, poesia, 1998; Noturnos, contos, 1999; Caderno de
Sonhos, ensaio diário, 2000; Dias & Dias, romance sobre a vida de e o amor
por Gonçalves Dias, 2002; Deus-dará, crônicas, 2003; Prece à uma Aldeia
Perdida, 2004; A Flor do Cerrado: Brasília, conto infantil, 2004; Lig e o Gato
de Rabo Complicado, conto infantil, 2005, e Tomie: Cerejeiras na Noite,
romance, 2006. A maioria, publicada pela Companhia da Letras, Editora de São
Paulo, que reúne os maiores escritores do Brasil.
Sobre o livro: Dias e Dias, da
escritora Ana Miranda...
Estamos
diante de um livro que não se consegue parar de ler", escreve José Mindlin
na orelha deste romance de Ana Miranda. A história reúne três personagens
centrais: Feliciana, uma jovem sonhadora e obstinada; o poeta romântico Antonio
Gonçalves Dias, por quem ela nutre uma longa e intensa paixão, e o sabiá - não
um sabiá específico, mas a espécie inteira, que na "Canção do exílio"
simboliza a pátria distante.
A
narrativa de Ana Miranda combina história e ficção para contar uma história
sobre o amor, os costumes provincianos no interior do Brasil durante o século
XIX, a descoberta da cultura indígena, a beleza da poesia e os mistérios da
sensibilidade.
No
romance, Feliciana toma conhecimento da vida íntima de Gonçalves Dias por meio
das cartas enviadas pelo poeta a seu grande amigo Alexandre Teófilo de Carvalho
Leal. Mostradas a Feliciana por Maria Luíza, esposa de Teófilo, as cartas
registram muitas das questões existenciais do poeta. Feliciana descreve de
forma emocionante a paixão que as cartas alimentam, e seu relato revela
refinamentos da alma feminina. A trama tecida pela autora faz com que o leitor
se identifique com Feliciana, uma mulher que desvenda o que sente por meio da
escrita e da memória.
Os
personagens menores - o pai de Feliciana, colecionador de sabiás; Adelino, um
tímido professor apaixonado por Feliciana, e Natalícia, a doce e severa
preceptora - conferem ao livro uma grande riqueza humana.
Antonio
Gonçalves Dias (1823-1864) é o principal nome da poesia romântica brasileira.
Além de "Canção do exílio", compôs os principais poemas da vertente
indigenista do romantismo, entre eles "I-Juca-Pirama" e "Leito
de folhas verdes". Com uma narrativa clara e simples, reproduzindo a
linguagem do romantismo, Ana Miranda recorda mais uma vez a vida de um de
nossos poetas - como fez também com Gregório de Matos em Boca do Inferno -,
levando o leitor a uma viagem de encantamento lingüístico e conhecimento histórico.
Dias & Dias recebeu o Jabuti na categoria romance, em 2003, e o premio da
Academia Brasileira de Letras para romance brasileiro, no mesmo ano.
Minha estada em Caxias do Maranhão
e a Mata do Jatobá
Visitei
recentemente a cidade de Caxias das Aldeias Altas, após mais de trinta anos da
viagem em que a conheci. Continuava linda, derramada em vales de flores
perenes, por cima do morro do Alecrim com largas vistas. Caxias é um velho
burgo do Maranhão, no limite com o Piauí, pelo médio Itapecuru. Chamam-na de
Princesa do Sertão, e tem mesmo uma nobreza em suas construções antigas, na
localização, e na história repleta de insurreições idealistas. Supõe-se que a
cidade tenha nascido no local de onde foram escorraçadas centenas de tribos
indígenas que ali viviam, como os Guanarés , de uma escola fundada pelo padre
Malagrita em 1742, com uma presença histórica de portugueses letrados. Se for
verdadeiro este fato, talvez possa explicar ali terem nascido tutelares na
literatura, como Coelho Neto e Gonçalves Dias este, personagem de um romance
que escrevi, em parte inspirada por ecos de minha passagem pela cidade, na
juventude.
Fui a
convite de gentis moradores, e instituições caxienses, para falar de minha
relação com o grande poeta e visitar o local de seu nascimento. Gonçalves Dias
nasceu num tempo tristemente interessante, de guerras ligadas à Independência,
e seu pai, português amasiado com uma mestiça brasileira, precisou fugir
levando a mulher mato adentro , prestes a dar à luz. Venceram trilhas, abriram
caminhos, atravessaram águas, subiram colinas, até o sítio onde se localizava a
casa do irmão do português, e, dizem os moradores locais, perto de aldeias
quilombolas de onde teria se originado a mãe de Gonçalves Dias. refiz esse
caminho, por uma nova estrada onde passa carro, acompanhada de parte da elite
intelectual caxiense, incrivelmente bem-humorada e afiada na inteligência, a
fazer de suas tiradas brilhantes naquele belo português maranhense. Parecia que
Gonçalves dias estava ali, conosco. Mesmo porque, um dos poetas da Academia era
quase seu sósia, até nos gestos e no modo de falar lembrando o século 19.
O
local de nascimento de Gonçalves Dias tem uma atmosfera impressionante. É uma
clareira, no alto de um morro, onde não há nem mais ruínas do antigo sítio,
apenas um marco de pedra, com os dizeres, "Aqui nasceu Antonio Gonçalves
Dias, O Imperador da Lira Americana, em 10/08/1823", ali posta no
centenário de sua morte, pela prefeitura. Ver aquele isolamento, abandono, as
duras condições de nascimento do poeta, faz pensar as incríveis maquinações do
fado.
Ana Miranda é romancista, autora
de Boca do Inferno, Desmundo
e Dias e Dias (baseado na
biografia de Gonçalves Dias).Esta crônica
sobre sua passagem em Caxias, por
ocasião da Feira do Livro,
Salic e Proler, foi publicada na
revista Caros Amigos.
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