O candidato do PDT à Presidência da
República, Ciro Gomes, disse nesta quarta-feira que o presidenciável do
PT, Fernando Haddad, se eleito, será “presidente por procuração de Lula”.
O político também comparou a “inexperiência” do ex-prefeito de
São Paulo com a da ex-presidente Dilma Rousseff e afirmou: “O Brasil não aguenta outra
Dilma”. As declarações foram dadas em uma sabatina do jornal O
Globo.
Ciro criticou o PT por só ter anunciado
Haddad no lugar do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva nesta terça-feira, o
que ele classificou como “desatino”. O pedetista afirmou
ainda que o partido “só pensa em si, não no Brasil”.
Ao comentar o convite que recebeu do PT para
ser vice de Lula quando a candidatura do petista foi posta em xeque pela Lei de
Ficha Limpa, Ciro disse: “Veio Dilma, Roberto Requião, intermediando
essa conversa. O Brasil não precisa de presidente por procuração. Sou amigo de
trinta anos do Lula, estive na luta contra o impeachment, dois terços dos votos
do Ceará foram contra, fui ministro dele. Mas o Brasil não aguenta outra Dilma”,
afirmou.
Ciro Gomes declarou ainda que Haddad não tem
estofo para ocupar o Planalto por não conhecer o Brasil. “Haddad, não por demérito dele,
não conhece o Brasil, não tem experiência. Até ele saber onde fica a cabeça do
cachorro, o Vale do Jequitinhonha, o Alto Solimões… Fica difícil. Minha crítica
é a essa dinâmica, que se aproveita dessa generosa gratidão pela obra do Lula
que o povo tem, para de repente você agora nomear uma pessoa. A gente já viu
esse filme”, disse.
Para Ciro, o PT põe seus interesses acima das
questões nacionais e “manipulou a inteligência do povo”
ao manter a candidatura do ex-presidente até o último momento.
“O brasileiro tem que separar o justo
interesse do PT e o interesse nacional, visto pelo ângulo mais progressista,
solidário ao pobre, (que pensa nas) questões do petróleo, Eletrobras, que
estarão em jogo no voto agora. O PT muitas vezes dá demonstração de que só
pensa em si. Neste caso, é flagrante isso. Todos eles sabiam que Lula não poderia
ser presidente. Em vez de respeitar a inteligência do povo, manipularam”,
acusou.
Ao comentar as pesquisas eleitorais, que o
colocam em segundo lugar nas intenções de voto, atrás de Jair Bolsonaro (PSL),
Ciro Gomes disse que “ninguém acreditava” que seu
desempenho seria bom. Sobre um possível acordo com o PT em um segundo turno
contra Bolsonaro, ele afirmou que seu “inimigo” não é o partido de
Fernando Haddad.
“Meu inimigo é o projeto (Michel) Temer, que
é replicado pelo PSDB e pelo Bolsonaro, um projeto antipobre. Meu problema com
o PT é o risco com que tem exposto o país de dançar à beira do abismo”,
disse, referindo-se à demora no anúncio de Haddad no lugar do ex-presidente
Lula, preso pela Lava Jato.
Bolsonaro
O pedetista disse ainda que, em caso de
eleição de Jair Bolsonaro (PSL), líder nas pesquisas de intenção de
voto, ele sairá da política e não integrará oposição a ele. “[Se
Bolsonaro ganhar] Eu vou desejar boa sorte a ele, cumprimentá-lo pelo
privilégio e depois eu vou chorar com a minha mãe. Eu saio da política. A minha
razão de estar na política é amor, paixão, confiança. Se nosso povo por maioria
não corresponder, vou chorar”, brincou.
Banco Central, STF e reeleição
Durante a sabatina, Ciro foi questionado
pelos jornalistas sobre a autonomia do Banco Central em um possível governo seu
e disse que, se for eleito, terá o BC “subordinado” a ele.
Sobre a indicação de ministros ao Supremo
Tribunal Federal (STF), Ciro criticou a escolha de Alexandre de Mores, Gilmar
Mendes e Dias Toffoli, e afirmou que, se for eleito, só escolherá nomes que
nunca tiveram envolvimento político-partidário. O próximo presidente indicará,
pelo menos dois novos ministros do STF, já que Celso de Mello e Marco Aurélio
Mello se aposentarão em 2020 e 2021, respectivamente, ao completarem 75 anos.
Indagado sobre se tentaria a reeleição caso
chegue à Presidência, Ciro Gomes classificou a busca por um novo mandato como
uma “impertinência”,
mas disse que ainda vai avaliar se pode pedir a revogação da lei, que envolve
também governos estaduais e municipais.
“Vou pensar se serei candidato à reeleição.
Acho que (a reeleição) é uma impertinência que se produziu. Não sei se tenho o
direito de propor o fim, mas eu preferiria eleger um sucessor”,
explicou, ironizando o fato de a adversária Marina Silva ter prometido acabar
com a reeleição. “Marina o fez porque não conhece bem como funciona a verdade da
política no Brasil”, disparou.
General Villas Bôas
Ciro disse também que em seu governo o
general Eduardo Villas Bôas, comandante do Exército, teria sido demitido por
sua fala pública sobre a instabilidade política no Brasil, e “provavelmente
pegaria uma cana”.
Em entrevista ao jornal O Estado de S.
Paulo, publicada no domingo 9, Villas Bôas afirmou que “a
legitimidade do novo governo pode até ser questionada” e que o ataque
ao candidato do PSL, Jair Bolsonaro, na quinta-feira 6, “materializa” seu temor
de que a intolerância e a polarização na sociedade afetem a governabilidade.
“No meu governo, militar não fala em
política. Se fosse no meu governo, ele estaria demitido e provavelmente pagaria
uma cana. Eu conheço bem o general Villas Bôas. Ele está fazendo isso para
tentar calar as vozes das cadelas no cio que estão se animando, o lado fascista
da sociedade brasileira”, afirmou.
O presidenciável ainda classificou o general
Hamilton Mourão, candidato a vice de Bolsonaro, como um “jumento de carga”. “O
general Mourão é um jumento de carga, que tem entrada no Exército. Quem manda
nesse país é nosso povo. Tutela, sargentão dizendo que vai fazer isso e aquilo,
comigo não acontecerá. Sob a ordem da Constituição, eu mando e eles obedecem.
Quero as Força Armadas poderosas, modernas, altivas. Não quero envolvidas no
enfrentamento do narcotráfico, isso é papo de americano”, disse o
pedetista.
Sergio Moro
Na sabatina no jornal O Globo, o candidato do PDT criticou a postura de juízes, como Sergio Moro, responsável pelos processos da Operação Lava Jato em Curitiba. “Não tem um debate no estrangeiro em que eu não encontre um desses aí. Não sei a que horas julgam. Tem cochicho no ouvido do Aécio (Neves)… Não sei se é porque estou velho, mas no meu tempo, juiz não ia nem para o bar. Ele não pode se dar a esse desfrute. Um juiz singular vai ter chibata moral da República? Essas coisas têm que ser sóbrias”, declarou.
Ele classificou como “constrangedoras” as
ações da Lava Jato e outras investigações sobre candidatos perto das eleições. “O
objetivo da Lava Jato é passar para a sociedade brasileira que a impunidade não
é mais um prêmio do bandido de alto coturno. Agora, causa constrangimento fazer
isso agora. O Beto Richa [ex-governador do Paraná e candidato ao Senado, preso
ontem]… Isso tudo é muito estranho”, disse.
Apesar das críticas, Ciro Gomes reafirmou seu
posicionamento contra a corrupção. “No meu governo, se eu não roubo, não rouba
ninguém para baixo”, disse. (com Estadão Conteúdo)
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