Não eram como aquelas máscaras charmosas
parecendo de louça de tão caprichado acabamento que nem aquelas máscaras dos
carnavais de Veneza, a cidade aguada que ainda se mantém como se flutuasse sob
suas histórias e lendas na geografia da Itália.
Máscara na origem, quero dizer no teatro
grego, e também no teatro romano, servia para encobrir o rosto do ator que no
enredo da peça em cartaz daria vida à personagem.
Com o tempo, o que se restringia ao teatro,
no caso a máscara, ultrapassou as fronteiras dos palcos, ganhou os salões das
festas, acobertou anonimatos nas alegrias das ruas e por que não, também, nos
assaltos à mão armada.
A máscara dos assaltantes, é claro, dispensa
sofisticação ou originalidade, sendo exemplo clássico a dos Irmãos Metralhas
que, aliás, parecem trigêmeos, caras e focinhos iguais.
Na Ilha de São Luís houve um tempo em que as
alegrias encabuladas ou extravasadas, dependentes de disfarces, sem outra
saída, recorriam à máscara.
Eram muitos, nos carnavais, os bailes de
mascarados nos subúrbios distantes. Anonimatos em segurança era por ali mesmo.
Acontece que tem gente que se esconde atrás da máscara e como se diz sobre os
bichanos acabam ficando com o rabo de fora. Ou seja, o que lhes delata é o
rabo.
Gordo, magro, baixinho, altão, afinando ou
engrossando a voz, por mais confiante que se mostre, o disfarce não convence.
Pelas tantas, os salões cheios, suor
escorrendo e encharcando fofões, eis que num tom de voz afeminado um mascarado
se dirige ao outro – eu te conheço, carnaval!
(Carnaval era o vocativo com o qual eles ou
elas se tratavam entre si. No linguajar deles, equivalente, digamos assim, a
vossa excelência, quem sabe?)
Como na marchinha do Chico, seja você quem
for, seja o que Deus quiser, rolavam lances inimagináveis para a moral vigente
de então.
Foi quando um Prefeito, o primeiro saído de
um parto de urna, vontade do povo, voto direto, achando que iria agradar às
famílias em suas sacralidades às descobertas, editou portaria proibindo
máscaras nos bailes das periferias.
E não deu outra, - o povão reagiu e se
revoltou. Primeiras páginas todo dia, repórteres de rádio nas portas dos bailes
entrevistando mascarados. Naquele tempo, como diriam os evangelhos, ainda não
havia TV-delivery.
Lembrei-me dos bailes de mascarados na Ilha
do Amor enquanto assistia ontem pela televisão o desfile das personas ao
microfone no plenário da Câmara dos Deputados declarando voto, sim ou não, ao
arquivamento ou seguimento das acusações para tirar dos cargos o atual
Presidente da República e dois dos seus mais achegados Ministros, confirmando
ou não denúncias do então Procurador Geral da República, aquele que se
celebrizou não pelo deixasse de fazer, mas com aquela frase mais adequada hoje
a beligerâncias selvagens bem antes da entrada em cena do Caramuru, –enquanto
houver taboca, vai haver flecha!
Quando o a tarde cansada da seca parecia
bêbada pelos cantos de tanto esperar pela noite com suas invariáveis, nunca se
viu tanta raiva mal ensaiada tanto de um lado quanto do outro.
Muita indignação. Como se aqueles atores ou
atrizes encenassem uma peça de autoria anônima, quiçá coletiva, mas com
direitos autorais reservados a cada um deles, traduzíveis em votos eleitorais.
Ledo engano. Diga de lá, Ledo Ivo, meu grande poeta!
Como os antigos carnavalescos da Ilha do
Amor, guardei o meu segredo, mas liberando o riso, fazendo de conta que nem
conhecia bem de perto muitos deles. Muitos mesmo, apesar das máscaras. Todas
iguais.
Edson
Vidigal, Advogado, foi Deputado Federal pelo Maranhão.
E Presidente do Superior Tribunal de Justiça e do Conselho da Justiça Federal.
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